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02/11/2007 às 08:04

CIDADE FEDORENTA

ZédejesusBarrêto é jornalista

ZédejesusBarrêto

    Demorei para conseguir escrever "cidade fedorenta".

    Por pudor, vergonha, por amor à minha cidade do São Salvador da Bahia. Eu, filho, apaixonado por essa gorda mãe preta de colo farto e braços aconchegantes, ter de escrever isso da própria mãe. Dói-me. 

     Não estou culpando ninguém, não quero provocar notas de uns tirando o corpo e jogando a responsa pra outros, não importa saber o que os antecessores, desde Thomé de Souza, deixaram de fazer ou o quê de pecado "eles" cometeram; sou apenas um cidadão. sem partidos, sem interesses, não estou a mando de senhor ninguém, não tenho candidatos... não é nada disso.  É simplesmente uma constatação: a cidade fede!


      Tem cheiro de chorume em praças e bairros, de sujeira de quarta-feira de cinzas na avenida Sete, na Carlos Gomes, ruas do Comércio e do Pelô, e em várias ruelas e transversais. Cheiro de mijo e cocô em outras quebradas, cuidado onde pisa! Tem cheiro de merdança entranhada no rio Vermelho (Lucaia) e nas avenidas de vale por onde passam córregos e riachos que se transformaram em penicos urbanos - avenida Centenário, Vasco da Gama, Retiro, Abacaxi, Iguatemi/Rodoviária, chegada/rótula do Aeroporto, Vale do Canela só para citar algumas... 

    Voltou o fedor de "pituboião" naquela enseada do Costa Azul, argh!  Fede também a Liberdade, São Joaquim, Sete Portas, São Caetano, Beiru... São odores fortes que invadem até o interior dos carros que passam com  janelas fechadas e ar condicionado ligado. Imagine as crianças brincando nas ruas, o dia-a-dia no fedor constante.


    Toda cidade tem seu cheiro, sabemos. Salvador sempre teve um cheiro de maresia e dendê, mar e comida de santo, acarajé (nalguns becos esse odor vinha ou vem ainda temperado com mijo, claro, porque baiano adoooora fazer xixi no tempo).

    As cidades são como as pessoas, exalam um cheiro próprio. Às vezes saudável, apetitoso, às vezes doentio, repugnante.  Pois nossa atual Salvador anda exalando um cheiro de coisa passada, apodrecida, de sujeira encalacrada. Entristece-me dizer isso. Mas é fato, é só caminhar nas ruas e abrir as narinas.  E com o sol do verão, com o calor... haja muriçoca e  inhaca!  Ao invés de dengo, dengue.  


    Observe: os passeios estão encardidos, imundos. Na Barra, bairros, na orla inteira, a atlântica e a suburbana e no centro histórico, ou antigo, como querem os mais novos donos do poder. Na praça de São Pedro, os restos de frutas e comidas atiçados no meio-fio misturam-se numa água azulada, parada, fétida. Os apanhadores de lixo deixam rastros pelas ruas e calçadas.


    Fico a matutar: já que o nosso alcaide anda gastando dinheiro pra alardear banhos de luz e de asfalto, não dá pra aproveitar a banheira e dar uns banhos de asseio na velha Salvador? 

     Até porque no verão vem visita, chegam os turistas... vamos jogar uma água de cheiro nos regaços da cidade! Uma alfazema! A limpeza de uma cidade retrata a educação de seu povo e a sujeira é prova do descuido, do desprezo dos que assumiram a responsabilidade da "coisa pública" (igual a república, nomezinho bendito tão repetido e mal dito ultimamente).


   Nossa mãe merece um melhor trato, em nome de Todos os Santos.  Hoje é o dia deles, que batizaram catolicamente as águas kirimurê-paraguaçu que nos banham de azul. Uma lavagem na cidade, em nome do Senhor do Bonfim!







https://bahiaja.com.br/artigo/2007/11/02/cidade-fedorenta,138,0.html