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27/11/2021 às 21:03

O DIA EM QUE LEVEI MINHA NETA PARA CONHECER O RESTAURANTE COLON

Depois de pouco mais de 1 século o Colon fechou as portas

Tasso Franco

       O Restaurante Colon na Praça Conde dos Arcos, o original, era, também, a casa dos jornalistas em determinada época na cidade do Salvador. Por lá andaram Odorico Tavares, Barbosa Romeu, Geraldo Vilalva, Jeová de Caravalho, Oleone Coelho Fontes, Samuel Celestino, Silva Filho, Afonso Maciel Neto, Adionel Mota Maia, as turmas de asessorias de Comunicação da ACS, do antigo Baneb, dos ex-Bancos do Bahia e Banco Econômico, de O Globo, da inicial Tribuna da Bahia, do Correios, etc, quando o Comércio e o Porto da Salvador eram o centro da economia da cidade.


  Também posso me incluir nesse rol, não tanto em anos e assiduidade com que frequento o Porto Moreira, no Mocambinho, creio, herdeiro no posto de restaurante mais antigo da cidade com o fechamento do Colon, sepultamento que se deu na última sexta-feira, de forma presencial, uma vez que seguirá atendendo delivery graças a resistência de Mara Orge, casada com Juan, herdeiro do galego José Maria Orge, o qual fundou a casa em 1914 fugindo da I Guerra Mundial na Europa. 

  Já fiz várias crônicas sobre o Colon e uma delas está num dos meus livros (Dom Franquito, 96 restaurantes ao Redor do Mundo, pag 183. 2012, Ed Ojuobá) intitulado "Dom Franquito se fartou na história e na moqueca de bacalhau do Colon" e por lá andava desde os anos finais de 1960 quando a Tribuna da Bahia instalou sua escolinha para 'focas' nas proximidades e, esporadicamente, em décadas seguintes, levando, inclusive, certa ocasião, o então prefeito Imbassahy e a galera do gabinete para almoçar por lá.
  
   Creio que, nos anos 2000 em diante o mais assíduo cliente era Oleone e sempre que aparecia para um trago eis que estava a nos oferecer um livro, pago na hora ou fiado. Oleone tem uma enorme capacidade de mascate, sempre a falar do cangaço e de Lampião e as estripulias do seu bando no nordeste brasileiro, na década de 1938, e que deixou tantos causos. E Oleone, por conseguinte, é um grande contador de causos verídicos e outros nem tanto ou ainda a apurar.

  A última vez que estive no Colon foi em 2017 quando levei minha neta Lua, minha esposa Ohara, a professora Hilma e sua mãe Antonia, por afinidade, minha sogra para conhecerem a casa. Era 28 de dezembro de 2017, última sexta-feira do ano e tínhamos ido a basílica do Bonfim orar - nem todos - e pedir ao Salvador dias melhores, em 2018, e após a reza e a compra de pequenas lembranças nas casas de souvenirs na colina arribamos até o Colon. 

  Fi-lo de surpresa e as minhas convidadas adoraram. E, obviamente, se fartaram na moqueca de bacalhau, nos camarões e na malassada. Mi nieta, então, carnívora que é, leoa rubro negra, se deliciou. E elogiou o avô pela escolha do local que achou agradável, repleto de história e com o sabor da velha Bahia. Aliás, as madames também amaram, dito por uma delas apreciadora de cerveja. 

  Troquei também palavras com Mara, a incansável gerente e proprietária da grife Colon, e ela já me falava o quanto estava sendo dificil manter o restaurante. O giro dos negócios da cidade tinha mudado de bairro, o Comércio vivia em dificuldades, mas, ainda assim, o Colon resistia. E veio a tragédia da pandemia. E a mudança do Colon do local e a crise que se arrasta na área do Comércio da Cidade Baixa.

  Fica a história ou algum messias empreendedor que queira, ainda, salvar o Colon. Morrer de vez será um baque enorme para a cidade do Salvador. (TF)
  


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