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26/05/2021 às 10:02

SERRINHA HISTÓRIA BAIRROS: CENTRO HISTÓRICO, COMO NASCEU O MAIS ANTIGO

O que mudou ao longo desses mais de 290 anos pós Bernardo da Silva

Tasso Franco

    O bairro Centro Histórico de Serrinha é o mais antigo desta cidade. Nasce no inicio do século XVIII quando Bernardo da Silva, um presumível filho do sesmeiro tabelião Sebastião da Silva, se torna um dos desbravadores do Sertões de Tocós e se muda da Fazenda Tambuatá - hoje, próxima ao distrito do Tanque Grande - onde residia com a família para o povoamento e passagem de tropeiros chamado Fazenda Serra-Serrinha.


   Serra rea mais plana e arrejada cercada de pequenas serras (daí deriva o nome Serrinha, serra pequena) e constrói casa de morada e uma capela em louvor a Senhora Sant'Anna, por pedido de sua esposa, Josefa Maria do Sacramento.

   Sobre a data da mudança não se tem uma certeza absoluta. É provável que aconteceu quando ele comprou de Joana Guedes Brito, em 1723, as terras dos Tocós correspondente a um Sítio chamado Serrinha. Já havia, no entanto, passando por esse local uma estrada de boiadas construida pelos descendentes de Garcia D'Avila que vinha por Pojuca, Alagoinhas, Água Fria e uma fazenda chamada Serrinha (não há registro de quem era o morador dessa fazenda) ou se havia algum morador; ou se era um campo aberto com esse nome.

   É nesse local - um campo largo, depois praça - que Bernardo com seu tino empreendedor aglutina os produtores rurais que, provavelmente vieram com ele nos primórdios de desbravamento dos Tocós - os Santiagos (Fazenda Serra Grande), os Carneiros (Faz São Bartolomeu), os Maias (Fazenda Serrinha), os Apolinários (Faz Saco do Moura), os Afonsos (Faz Sítio), os Silva e Oliveira (Tiririca), Motta (Tambuatá) e Silva (Jenipapo)  - e que moravam em suas fazendas para fazer negócios de escambo (troca) no campo da Serrinha, então chamado de Praça das Barrigudas (árvores) - a venda de gado, de peles e couros, carne, cereais, fumo, etc - e construirem casas de morada e lojas de comércio.

  É assim que o povoamento cresce e vira distrito de de Paz (1838) ligado a Santo Antônio da Água Frita e depois a Purificação dos Campos, Irará, sendo desmembrado e se tornando município no século XIX (13 de junho de 1876, Luis Antonio da Silva Nunes, presidente da Província) mais de um século depois da morte de Bernardo (27 de setembro de 1750).

  O povoado ainda que fosse de bom clima (no sentido de arejado e frio à noite) e adequado para a criação do gado não possuia um rio. Bernardo, então, constrói o Tanque da Nação atrás de sua casa de morada e da capela (hoje, Igreja Matriz de Sant'Anna, 1780, provável data de construção da capela), no local onde o então prefeito João Barbosa, em 1950, aterrou e construiu o Mercado Muncipal, derrubado no governo petista de Osni Cardoso.

  Quando Serrinha constituiu-se em município (1876) a sede ainda era uma vila (Vila de Senhora Sant'Anna de Serrinha) e o primeiro intendente (hoje, prefeito) assumiu em 3 de março de 1890 (Marianno Sylvio Ribeiro) nessa condição até que, em 30 de junho de 1891, se torna cidade.

   Ou seja, Serrinha ganha o status de Vila Municipal na regência da Princesa Isabel (governo imperial) e de cidade na República, com o marechal Deodoro da Fonseca. Entre uma condição e outra (15 anos de espera) o Brasil deixou de ser um Império (Dom Pedro II) e passou a ser uma Repúblico. Os políticos de Serrinha que eram - em sua maioria - ligados ao Partido Conservador (imperial) mudaram, rapidamente, para os novos tempos republicanos.

  A FORMATAÇÃO DO BAIRRO

  O importante é salienter que foi nesse compasso que Serrinha foi formatando sua vida citadina social, política e econômica. E, desde a época de Bernardo (1723/1750, período em que morou no povoado de Serrinha) o bairro do Centro Histórico foi sendo organizado nesse campo ou praça que, já num formato urbano mais definido, teve os nome de Praça da Matriz, depois Manoel Vitorino e Luis Nogueira (nome atual, desde inicio do século XX). 

   Vocês podem ver que as primeiras residências, o templo religioso católico e as casas comerciais datam da época da Colônia (1723/1822), depois no Império (1822/1889) e da República (1889/2021).

  Quase todo esse patrimônio histórico cultural (épocas da Colônia e Império) foi derrubado pelas 'picaretas do progresso' restando, da época da colônia, somente a igreja Matriz (1780), do momento imperial nada e da era republicana velha o sobrado de Luis Nogueira, o coreto, a casa do Conselho Tutelar. E da nova república tudo o mais. O antigo sobrado de Leobino Ribeiro, ao lado da matriz, também foi ao chão. 

   Esse Centro Histórico no governo Basílio Cordeiro de Almeida (1893/1896) foi descrito por Francisco Vicente Viana, diretor do Arquivo Público do Estado em visita a Serrinha, com "boas edificações, seis sobrados e três praças das quais a mais importante é a Manoel Victorino, que é grande, arborizada e à noite iluminada por candeeiros belgas. Nesta praça se acha a Matriz de Senhora Sant'Anna e a Casa do Conselho em construção muito adiantada - para juri, cadeia e sessões". 

   As três praças citadas por Viana eram: a principal (Manoel Vitorino, hoje, Luis Nogueira); a do Castelo (hoje, Miguel Carneiro, onde se situa a catedral basílica, e a da Estação (atual Lauro de Freitas). 

   Naquela época, Serrinha já dispunha de uma estação ferroviária (18 de novem de 1880, a data de inauguração) ligando a Salvador e o Centro Histórico (hoje, apenas bairro Centro) tinha essa dimensão entre os largos da Estação e do Castelo, nas direções Sul/Norte ligados pelas ruas da Estação, Araújo Pinho e outras; e na direção Oeste/Leste entre a Rua Direita (atual Antonio Rodrigues Nogueira) e o fim da praça Manoel Vitorino onde se situa, hoje, o Banco do Brasil e imediações.

    No governo do 8ª intendente, Luis Ozório Rodrigues Nogueira (1916/1917) implanta-se o primeiro plano urbanístico da cidade e a praça Manoel Victorino (batizada com esse nome em 1880) com 230 metros de comprimento e 50 de largura ganha projeto de Francisco Wenceslau da Silva com jardins, calçamento com pedras cabeça-de-nego, esgotamento sanitário e ajardinamento e plantação de oitos. 

   O centro histórico principal ficou demarcado com um jardim gradeado e iluminado com globos de acetileno entre o coreto na direção Leste com extensão para rua da Estação, área residencial; na linha Oeste, entre o coreto e as ruas Direita, Araújo Pinho, Barão de Cotegipe e Beco da Lama com casas comerciais demarcadas em linha nos três pontos (norte, sul, oeste) a área comercial.

   Hoje, o coreto ainda serve de parâmetro demarcatório da praça, mas toda essa área que até a década de 1980 ainda tinha muitas residências, se transformou numa zona comercial e de serviços, com parte do jardim a Oeste dando lugar ao Abrigo Casablanca, comércio que se estende as demais ruas, incluindo a da Estação que virou um misto de comércio-serviços-residência. 

   A Praça passa a ser denominada Luis Nogueira em 8 de setembro de 1918 por ato do Conselho. Por este mesmo ato, a praça do Amparo (Castelo) se chama Miguel Carneiro Ribeiro (Pai Geza).

  ATUALMENTE, O BAIRRO SE CHAMA CENTRO

   Nos dias atuais, o Centro Histórico com esse nome não existe mais. Virou bairro do Centro e ainda preserva no plano urbanístico os mesmos marcadores da época do Império e da República Velha: da linha do trem para cima na direção Norte com as paralelas principais ruas da Estação e Barão de Cotegipe; na área Norte como ponto de referência final a Praça Miguel Carneiro (onde está a catedral e está cercada de casas comerciais na direção do antigo Mercado Municipal) e a Macário Ferreira; na linha Oeste fazendo demarcação com o bairro da Santa sendo a Avenida Manoel Novaes o eixão; e na linha Leste com áreas dos bairros Ginásio e Cidade Nova.

   As sedes dos poderes executivo, legislativo e judiciário que antes se concentravam no Centro Histórico na Casa do Concelho (ainda se escrevia com c) prédio em ruinas ao lado da igreja matriz de Sant'Anna (antigo local da casa de morada de Bernardo da Silva, também conhecida como sede da antiga Prefeitura e Câmara), atualmente, o Poder Executivo (Prefeitura, sede) segue no centro com órgãos espalhos em vários bairros; o Poder Legislativo (Câmara de Vereadores) está entre o Centro e o Bairro da Santa; e o Poder Judiciário (Forum) e a Delegacia de Policia, IML, etc, na área Leste adjacente a cidade Nova, na linha da BR-116 Norte (área de maior expansão da cidade).

   Antigamente, o centro era praticamente o único bairro comercial e de serviços. Hoje, há uma descentralizaçãa geral, cada bairro com seu próprio comércio e os serviços espalhados. Serrinha está se transformando num pólo de serviços médicos da sua região e as maiores clínicas se ramificam na zona Leste da cidade fora do centro.

 


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