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15/03/2021 às 18:32

BECO DO FUXICO: BAR DO MÁRIO, DOS LANCHES À BOEMIA, por WALMIR ROSÁRIO

Radialista, jornalista e advogado

Walmir Rosário

     Outra figura carimbada instalada no médio Beco do Fuxico era o Mário, que chegou a trabalhar com duas empresas ao mesmo tempo – uma do ramo etílico e outra de lanches – quase coladinha à outra. De início, se estabeleceu com um bar na esquina do Beco do Fuxico com a rua Duque de Caxias, posteriormente passou a vender lanches e, vislumbrando que as duas atividades não se combinavam, separou-as, lidando com os dois ramos.


  Passado mais uns anos, Mário Alves de Almeida, toma a decisão de juntar as atividades num só local – no imóvel da esquina, em que residia em cima, após a construção de um prédio – e a convivência foi perfeita por longos anos. Um dos motivos dessa associação de atividades teria sido a compatibilidade de horários: das 7 às 10h30min e das14h30 às 17 horas, a turma do lanche; nos outros horários prevalecia a turma da cachaça e da cerveja.

   E nessa convivência harmoniosa permaneceram por anos a fio, até deixar as coisas mundanas para o seu herdeiro – também Mário – que até hoje privilegia os lanches, mas não deixa de atender aos antigos clientes etílicos, somado aos novos, porém em quantidade menor. Vez mesmo tem a turma que trabalha no comércio e nos escritórios, que tem preferência pelos lanches no meio da manhã e da tarde.

  O Mário não caiu de paraquedas – sem mais nem menos – no Beco do Fuxico (que também atende por travessa Adolfo Leite e Ithiel Xavier, no Alto Beco do Fuxico). Mário já era um experimentado dono de bar, lanchonete e bomboniere na famosa rua Rui Barbosa, em frente ao Cine Plaza. Ali desenvolveu experiência para atender a uma clientela eclética, formada pelo público das matinês, vesperais e soirées (suarê).

   Com a queda da clientela dos cinéfilos, causada pela chegada do sinal das redes de televisão, Mário resolve se mudar para o centro da cidade, com a finalidade de oferecer seus serviços e mercadorias aos proprietários e empregados do comércio – lojas, armarinhos, casas de ferragens, consultórios médicos e banca de advogados. Se estabeleceu na travessa dos Artistas (Nilo Santana) esquina com Duque de Caxias.

   No novo bar manteve o esquema de negócio do tempo que passou em frente ao Cine Plaza e seu comércio prosperou. Daí, comprou imóveis no Beco do Fuxico, para os quais se mudou, em ânimo definitivo. E se deu bem! Seus refrescos – como chamados à época – eram preparados com as próprias frutas, seus pastéis, quibes, sonhos e bananas-reais eram carros-chefes, vendidos a preços módicos.

  Mais à frente, com o crescimento do negócio, separou as atividades por algum tempo. A lanchonete num prédio abaixo do bar, magnificamente instalado na esquina. Boas cachaças de folha, bebidas quentes variadas, cerveja bem gelada, tudo que queriam os amantes da boemia, que dividiam harmoniosamente os mesmos tira-gostos com a turma do lanche, incluindo, aí, os estudantes.

   Clientes bons de copo ocupavam diariamente as mesas com longas farras, costumeiramente entrando pela noite a dentro, dividindo o mesmo ambiente com os apressados que pediam uma cachacinha para abrir o apetite ou esquentar para o banho. E foi nesse clima que baixou no terreiro etílico do Mário, o canavieirense Tyrone Perrucho, transferido para dar expediente na Ceplac, em Itabuna.

   Morador das redondezas, na volta do trabalho nem mesmo se preocupava em se dirigir à pensão que o abrigava – tinha ciência que tudo estaria nos seus devidos lugares – e já fazia uma tournée para o reconhecimento da área. O ABC da Noite, onde passou a ser discípulo do Caboclo Alencar, Dortas, Batutinha, Mário, Casa Roma, descia para a Rui Barbosa onde fazia uma visita ao O Quitandinha, de Hugo Kruschewsky, encerrando no bar de Mota.

   Mário também tinha em sua carteira de clientes uma legião de boêmios, como o tabelião de Registro Civil e desportista Gérson Souza, os advogados Gabriel Nunes, Pedro Carlos (Pepê), Renan Sílvio Santos, João Xavier, o contabilista Osmar, José Ribeiro, Cambão, dentre outros. De uma só leva, Mário acolheu toda uma bancada de boêmios que se desentendeu com Genílson do bar Canecão Grapiúna, e que passou a ter mesa e cadeiras cativas. Tempos depois, mesmo com volta do relacionamento de amizade, eles dividiam os dois endereços.

   Após a partida de Mário, seu filho Marinho passou a gerenciar a carteira de clientes, embora tenha optado pela galera dos lanches, mantendo a mesma tradição de qualidade na elaboração dos produtos. Mesmo assim, mantém a cerveja gelada para servir aos novos amigos e a antiga, que sempre estacionam num dos bancos do balcão – não dispõe mais de mesas – para beber uma gelada, comer um tira-gosto e relembrar o passado.



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