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15/09/2007 às 09:01

SALVADOR: É HORA DE PARAR PRA ACERTAR!

Zédejesusbarrêto é jornalista baiano

Zédejesusbarrêto

   Como filho, amante e parte desta cidade, Salvador é sempre objeto de meu pensar e de meu sofrer também. O que se tem dito sobre ela, hoje, parece um samba de crioulo doido. 

    Falam em implodir a Fonte Nova de olho na Copa do Mundo de 2014. Mas antes é preciso pensar sobre o significado do velho Octávio Mangabeira como monumento, espaço, sentimento de um povo, a importância de sua arquitetura, a magia da abertura para o Dique, sua extraordinária localização e facilidades, as qualidades de seu campo de futebol integrado à história da cidade.

   Alguns joguinhos eliminatórios da  copa do mundo na Bahia seriam a pauta principal da cidade, do estado, e justificariam tal empreendimento, neste momento? Que outros interesses estão em jogo?


   Viremos a página: O Pelourinho. O Centro Histórico da cidade mais antiga do país, o maior conjunto barroco e colonial da América, patrimônio da humanidade, tornou-se apenas um espaço aberto para shows e eventos, shopping de butiques pra turista, não tem sustentabilidade e tal.

   Sim , e daí vamos deixar cair tudo, por o pessoal sem teto  pra morar lá dentro, porque se trata de um bairro, como outro qualquer? Alguém é   responsável pela manutenção e conservação daquele patrimônio, não? Ou transforma tudo em pousada, hotel, brega.

   É importante saber o que queremos nesse momento para o nosso Centro Histórico, rápido, antes que tudo volte a ser pardieiro, ruína e terreno baldio fedorento. Se o modelito  não deu certo, tracemos outro, antes que tudo desabe.   

    Página seguinte: O comércio, que há algum tempo não é mais comércio e sim um amontoado de prédios com salas vazias e restos de casarões apodrecidos. O Hilton é uma opção. O caminho é esse, os empreendedores multinacionais se comprometem a preservar  e manter o quê e como?  Ou vale a pena ficar olhando os casarões caírem, pensando no passado?

   A prefeitura quer, o governo estadual projeta, o governo federal discursa e, na prática, os órgãos ambientais e patrimoniais - que estão vinculados a esses poderes - travam.  Dá pra entender?  Habitação, escolas, restaurantes, hotéis, centros de artesanato, museus náuticos, porto, turismo... é por aí? Além da marina, centro náutico, o que está dando certo?  O Museu do Ritmo de Brown tá rendendo?


   A página seguinte, borrada, é a orla atlântica, transformada num favelão, com barracas e barracos de todo tipo, tabiques, fossas na areia, uma imundície, uma vergonha para a cidade. Barraqueiros, prefeitura, justiça, marinha, órgãos ambientais, ninguém se entende, virou um mangue. Mais um verão de prejuízo para todos.

   O cidadão foge, vai fazer o quê, ali, com a família?  Afinal, constrói-se na areia, no passeio ou no canteiro central? O quê é melhor para a vida, a mãe-natureza, as pessoas, a cidade? O mar é espaço sagrado, a praia é das pessoas, e Iemanjá quando se reta, sai de baixo!


  Passando a página: Os gabaritos dos prédios pela orla, subimos até onde e em que locais?  E o espaço do Clube Português: aquilo não é lugar para um hotel de 18 andares, não é bem isso que a cidade quer e precisa por ali.  Falou-se em projetos de uma escola de gastronomia, de turismo, de um espaço público, de um ginásio esportivo que a municipalidade não possui, de uma central de artesanato, de um grande museu... e os hotéis da Pituba estão falidos, mas... alguém viu o meu cachorro?


  E o Aeroclube, o que pretendem com aquele montão de terra pra lá e pra cá sem que a comunidade saiba o que fizeram do areal, do coqueiral, da beleza daquele espaço, há menos de 30 anos?  E tem ainda a Paralela, devastada sem respeito algum ao verde, às lagoas, nascentes... E ninquém mais fala da ocupação desordenada da periferia, dos morros e baixadas, da indústria das invasões, da falta de moradia, de um crescimento planejado  de ocupação humana mais racional, nada.  Não se pensa mais.


  Já no litoral norte, os gringos estão cobrando solução e decisão para os altos investimentos em função do turismo. Os projetos lançados estão emperrando na burocracia e os euros ameaçam cair fora. Isso é bom ou ruim para a Bahia?

Decidir, qual o quê?


   Como bem questionou a mestra e socióloga Maria de Azevedo Brandão, num escrito recente e curto, no jornal A Tarde:  "Não é tempo de se discutir Salvador como um todo? De outro jeito, só nos restará a folclorização da cultura, a destruição da identidade e da natureza, a violência e a continuada tragédia dos desassistidos. Precisamos de um Fórum Salvador, já" !!!


   A benção, querida professora Maria Brandão.


https://bahiaja.com.br/artigo/2007/09/15/salvador-e-hora-de-parar-pra-acertar,114,0.html