15/05/2019 às 17:30
PRA MIM IRMÃ DULCE É SANTA DESDE QUE EU ERA MENINO
Otto Freitas é jornalista e escritor
Fui vizinho de Irmã Dulce no meu tempo de menino. Morava com meus pais no Caminho de Areia, mas não saia da casa dos meus avós maternos. Era só atravessar o terreno baldio, a rua Henrique Dias e alcançar a avenida Dendezeiros, passando por dentro da sede do Senai. Minha avó Celina morava em um casarão comprido de imenso quintal, com galinheiro e muita pitanga, goiaba, banana e fruta pão. Ficava bem em frente ao colégio da PM, a uns dois quarteirões do hospital Santo Antonio.
Pra mim, que nasci e cresci na Cidade Baixa, Irmã Dulce já era santa desde meu tempo de menino. Quem pegava o rumo do largo de Roma, Calçada, Comércio ou Cidade Alta tinha que passar em frente ao hospital. Por conta dessa proximidade, a gente sempre avistava a Irmã Dulce caminhando pelas calçadas, ou atravessando a rua em frente ao hospital Santo Antonio.
A veneração era tamanha que todo mundo - inclusive crianças e adolescentes - ficava na expectativa de ver a freira pelas redondezas, ou peregrinando pela rua Barão de Cotegipe e largo da Calçada, de loja em loja, em busca de donativos dos comerciantes locais.
A gente cresceu aprendendo e cultivando o hábito de ajudar as obras de Irmã Dulce. Era como se ela fosse da família. Doavam-se roupas, calçados, cobertores, medicamentos. Periodicamente, alguém reunia o que parentes e amigos tinham a oferecer e se incumbia de entregar na sede das obras sociais. A gente fazia isso regularmente; gesto natural, compromisso com a santa adorada.
Desde esse tempo, pra mim Irmã Dulce era uma entidade, um ser superior. Eu via aquele imenso traje azul, branco e preto se movendo pelas ruas, como se fosse habitado por um espírito de luz sem corpo, pois só o rostinho miúdo e as mãos pequenas ficavam à mostra. As crianças lhe pediam a benção; os adultos faziam-lhe reverência, em busca de proteção e conforto.
Sou católico não praticante, sou espiritualista. Aprendi, desde menino, a amar e respeitar a Santa Dulce dos Pobres. Ela sempre me emocionou com sua grandeza, força e luz, generosidade e tolerância. Não sei como sua alma tamanha cabia naquele corpo tão pequeno. É coisa de Deus mesmo, obra da natureza.
Faz tempo sou devoto da Santa Irmã Dulce. Tanto que há muito mantenho sua imagem, delicada e poderosa, compartilhando com São Jorge, São Cosme e São Damião e São Jerônimo um pequeno oratório improvisado no meu quarto-escritório.
A sua benção, Irmã Dulce. Enfim eles descobriram que você é santa desde sempre.
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