No dia 29 de março de 1549, há precisos 470 anos, aportava na enseada do atual Porto da Barra, o fidalgo português Thomé de Souza, no comando de uma enorme frota de naus, caravelas, bergantins e cerca de mil homens - soldados, técnicos em construção, artífices e artesãos, religiosos, cirurgiões, peões ... - com a missão, estabelecida pelo El Rei de Portugal Dom João III, de aqui, nas bordas da Baía de Todos-os-Santos, construir uma cidade, porto e fortaleza, que seria a primeira capital do Brasil-Colônia, no Novo Mundo d’além mar. Os projetos vieram prontos de Lisboa.
Quando cá chegaram Thomé de Souza, nosso primeiro Governador Geral, e sua comitiva, o sítio da Barra já era o Povoado do Pereira, depois Vila Velha, erguido por Caramuru (o negociante português Diogo Álvares de Souza), os nativos Tupinambás e um magote de traficantes de Pau Brasil e especiarias, a mando de um capitão donatário chamado Francisco Pereira Coutinho (daí o nome povoado do Pereira), de quem os tupinambás não eram muito chegados.
Thomé foi bem recebido. Um certo Gramatão Teles, capitão e cavalheiro da Casa Real, chegara antes para preparar os caminhos e acolhimentos. Caramuru e os Tupinambás também chegaram perto.
Os emissários do Rei passaram uns poucos dias descansando da longa travessia do Atlântico e logo partiram para a prospecção do melhor espaço, no interior da Baía e o mais próximo possível da entrada norte, para a fundação da “cidade porto e fortaleza”.
Já no mês de abril, com o dedo do mestre Luis Dias (projetista, arquiteto, urbanista e engenheiro ... podemos assim dizer) e a decisão de Thomé de Souza, foi escolhido o local para as primeiras fundações da cidade. Num cume ou promontório, diante do mar (Porto), e muito bem protegido por escarpas e ladeiras, água abundante. As obras começaram em dois espaços: na parte alta, entre o que hoje é a Praça Castro Alves e a Misericórdia; na parte baixa, entre a Praça Cairu e a Preguiça.
Todo o ano de 1549 foi de uma labuta intensa, com participação ativa também da mão-de-obra indígena. Segundo escritos de Frei Vicente do Salvador (o maior historiador desse tempo), “ o próprio governador (Thomé de Souza) era o primeiro que lançava mão do pilão para os taipais e ajudava a levar a seus ombros os caibros e madeiras para as casas, mostrando-se a todos companheiro afável, parte mui necessária nos que governam novas povoações”
Portanto, a fundação propriamente dita da cidade aconteceu meses depois da chegada do Governador Thomé de Souza, essa sim acontecida no dia 29 de março de 1549.
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À minha cidade amada do São Salvador da Bahia – de todos os santos e orixás, inquices, voduns e encantados das matas e das águas -, Mãe Preta que abriga tantas contradições e misturas, todo o meu respeito, todo o amor de um filho de suas águas, de seu azul, de sua luz, única !
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Em sua homenagem, o poema de Geraldo Maia, de 1999, para as comemorações dos 450 anos, intitulado “Timbalacity” :
Te abadá, Salvador
Tiararana
Timbalada bacana
nos treitos de tua cama
nos feitos de tua fama
Tiemanjar, cidade
Tiansã com vontade
de viver para sempre
no teu coração de aia
na barra da tua saia
na baía que agasalha
a amplidão ao léu
Te abará, Salvador
Sussuarana
Beiju com caldo de cana
que a menina cigana
ciranda ao somdo tambor
Araketu teu Axé
no axexê do Ilê
Didá pra mim teu amor
Rastafariar Salvador
Tiumburana
Tintinar os teus encantos
Quatrocentoscincoenta anos
de te festejar com gana
Titã de cultura e arte
berço de paz e grão forte
de liberdade no grito
acode aos teus aflitos
no brado do bardo eterno
Rima de céu e inferno
filhos da mesma barriga
parto telúrico e cósmico
cidade mãe da poesia
Ludicidade plural
amor de bem e de mal
dança de laser magia
trança de raças e cores
alma de vários sabores
Teu pelo, cidade, é negro,
moreno, mulato, cafuzo
caboclo, cajá, siriguela
galego, mangabo, canjico
peço que fiques comigo
no por-do-sol em teu porto
Na dor do teu jeito gostoso
nas brumas da duna lagoa
no encanto de Nana Caymmi
do jeito que rime com lua
o sol silente, na sua
e um galho de mar no cabelo
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