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08/12/2006 às 09:49

O modelo Waldir Pires

O apagão no tráfego aéreo do país está expondo o ministro da Defesa, Waldir Pires, à opinião pública nacional. Waldir é uma extraordinária figura humana, honrada, queridíssima dos baianos, mas, sua capacidade de administração deixa a desejar.

Tasso Franco

O apagão no tráfego aéreo do país está expondo o ministro da Defesa, Waldir Pires, à opinião pública nacional, e revelando o que os baianos já conhecem desde quando este exerceu as funções de governador da Bahia, período 1987/meados de 1989. Ou seja, Waldir é uma extraordinária figura humana, honrada, queridíssima dos baianos, mas, sua capacidade de administração deixa a desejar.

Evidente que a crise que hoje envolve o sistema de operação do tráfego aéreo no Brasil não nasceu sob a responsabilidade de Waldir no Ministério da Defesa e, o que se assegura, teria acontecido o seu início no governo de Fernando Henrique Cardoso ou vem se arrastando desde o final do governo tucano. Daí que Waldir pode até ser considerado inepto em não apontar um caminho para resolver o problema, mas, diga-se de passagem já pegou o bonde andando.

De qualquer forma, não se justifica que se passaram 40 dias nesse atoleiro, sem que o governo federal e seu ministro da Defesa saibam como por fim a esse sufoco que sofrem os passageiros nos aeroportos nacionais, além dos riscos que eventualmente correm no ar. Há, já divulgado pela imprensa, áreas do país em que os aviões fazem vôos cegos, sem qualquer monitoramento do Cindacta, o sistema de controle por equipamentos de base.

Diante do agravamento do problema, na iminência de acontecer mais um fatal acidente no ar, o presidente Lula da Silva, que vinha levando o caso em banho Maria e confiando nas autoridades militares da Aeronáutica e no seu ministro da Defesa, colocou a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) para comandar um gabinete especial (Gabinete da Crise), o que significa dizer, em outras palavras, que os seus ministros do setor não estão dando conta do recado.

Waldir Pires é um homem experiente e que não se deixa dobrar com facilidade. A essa altura de sua vida, com mais de 80 anos de idade e um currículo admirável no campo político, aliado do PT da Bahia e do presidente Lula, o ministro da Defesa certamente vai tentar se manter na equipe do primeiro time do governo até que Lula anuncie a esperada reforma do seu ministério. Ou seja, se sair, sai no bojo do conjunto da reforma, e não agora em plena crise.

Caso isso viesse acontecer haveria um enorme desgaste na sua personalidade política, com respingos na Bahia, uma vez que apoiou a candidatura vitoriosa de Jacques Wagner ao governo e tem como seu maior adversário o senador Antonio Carlos Magalhães. Admite-se que o presidente só demitirá Waldir no caso extremo do apagão aéreo se revelar mais grave do que já acontece, com repercussões internacionais nas áreas do comércio, da indústria e do turismo.

Ainda assim, toda cautela será pouco com o ministro Waldir dado a sua envergadura moral, a sua trajetória de vida e de luta política, e a sua afinidade com o governador eleito da Bahia, Jacques Wagner. Há de se dizer que Wagner vai segurar Waldir no ministério o quanto puder, mas, no fundo, quem ditará os caminhos do seu futuro será o desenrolar da crise.

A rigor, os baianos já sabem disso e tiveram uma prova da capacidade administrativa e do comando de Waldir durante sua passagem pelo governo da Bahia, dois anos e quatro meses, afastando-se do cargo para ser candidato a vice-presidente da República na chapa do PMDB, com Ulysses Guimarães na cabeça. Waldir frustrou milhões depois de ter derrotado ACM e as forças do PFL e seus aliados na campanha eleitoral para governador, em 1986, vencendo o pleito com uma extraordinária vitória, mas, ao chegar no Palácio de Ondina, não conseguiu fazer um bom governo. Sequer, médio.

A expressão sempre lembrada para definir a personalidade de Waldir é de que ele é um excelente político, bom articulador, excepcional de tribuna, um homem talhado para o legislativo; porém, nunca para o executivo. Isso não tem sentido de retórica, nem significa uma coisa cunhada pelos seus adversários para denegrir a sua imagem. Não. Isso é a realidade: Waldir tem uma capacidade extraordinária para fazer política, analisar e interpretar as questões dessa natureza, porém, no campo do fazer, do executar, sua contribuição tem sido modesta.

Hoje, encontra-se numa situação muito delicada porque o presidente Lula, ao nomear a ministra Dilma como comandante da equipe que vai monitorar o problema do atraso dos vôos das companhias aéreas, colocou-o num segundo plano. Estaria o ministro da Defesa desautorizado e perdeu o poder para uma colega, a qual, efetivamente é quem terá a voz suprema para tentar debelar a crise na aviação nacional.

O Brasil, portanto, está conhecendo o modelo Waldir Pires que a Bahia já experimentou. E, o presidente Lula, um homem também bastante experiente no mundo da política, viu que a permanência de Waldir no comando da Defesa ainda e possível segurar, mas não na direção do comando da crise. Nomeou uma ministra de sua inteira confiança para resolver o problema do apagão antes que os sinos de Belém anunciem o Natal. Waldir ficará como coadjuvante do processo e não mais como líder dele.


https://bahiaja.com.br/artigo/2006/12/08/o-modelo-waldir-pires,11,0.html