Sr Prefeito,
Fico sabendo pelo noticiário que o Sr anda muito ocupado com a politicagem, mas me responda: Há quanto tempo o Sr não anda pela Avenida Sete, o maior corredor viário do centro histórico e cultural da cidade?
Não lhe pergunto por mal, mas duvido que suas narinas tenham ciência de quanto a nossa avenida está fedorenta. Aquele mau cheiro pós-carnaval, de lama, resto de lixo e comida, mijo, imundície.
Os passeios estão esburacados e sujos, os meio-fios cheios de papel, restos de plásticos, cascas de frutas, meleira de toda espécie. Aliás, não se passeia mais pelos passeios, tomados por ambulantes vendedores de tudo, cedês piratas espalhados, celulares, calçolas, cuecas, tabuleiros e carros-de-mão, mercadores, pedintes e muitos, muitos trombadinhas "limpando" moças descuidadas e velhinhas (os) sem sustança.
Os carros estacionam em via dupla à esquerda e à direita também, e os pedestres, sem espaço, vão pro asfalto esquivando-se dos atropelos. As lojas, cada dia mais vazias. A praça do Relógio de São Pedro, um caos, feira livre. A praça da Piedade, um risco. Um assalto a cada dez minutos, vá lá e confira se o que estou dizendo é mentira.
Sr prefeito, o miserê da avenida Sete, talvez a mais importante da urbe que o Sr diz que administra - até por ser a via principal da história desta cidade milenar - é a cara de sua governança. A feira de São Joaquim está melhor ordenada, pode crer. Envergonha.
As lixeiras foram destruídas, os telefones públicos não funcionam, o policiamento inexiste, a Set faz de conta, a varrição não acontece, os buracos viraram arapucas, os postes e paredes vivem cheios de anúncios pregados, uma sujeira, Sr Prefeito! Há leis?
Peça a seu ordenança para lhe levar, sem aviso prévio, até São Raimundo (o Sr sabe onde é ?) e, de lá, venha andando como um cidadão comum em direção ao centro, até o Thomé de Souza, a pé. Tens coragem? Pois faça isso, é bom pra saúde. Leve um lenço.
Depois me responda: o Sr gostaria de ver a senhora sua mãe, com todo o respeito, naquele estado, sendo tratada dessa maneira?
Pois a nossa cidade, Sr Prefeito, a cidade de São Salvador da Bahia, é a nossa mãe, nossa mãe preta! Foi aqui que o Brasil começou a sua história, o Sr tem consciência disso? É a nossa casa! Tem de ser limpa, varrida, cuidada, mantida, todo santo dia. É preciso dar descarga, também, sempre que se usa vaso. Lavar a pia.
É assim, Sr João! Não se lembra dos tempos de criança, o casarão de Feira? Elegemos o Sr para cuidar da cidade, não foi?
Pois deixe de pensar só em politicagem, em reeleição, e pense um pouco nessa nossa mãe, nessa cidade encantada e bela que o Sr tanto lutou para estar à frente, gerenciando.
Mas esqueceu-se de olhar pra ela, de olhar por ela, de amá-la um pouco.
Desculpe, Sr prefeito, sei que Sr merece o respeito do cidadão, afinal, foi eleito pelo voto da maioria dos eleitores desta cidade. Mas, como cidadão e filho de Salvador, também mereço respeito.
Nós, cidadãos, merecemos o seu respeito. Queremos ação. Não queremos gaiva, publicidade, oba-ôba, espuma... queremos, no mínimo, nossa cidade limpa. Salvador exige dignidade.
Com todo o respeito, mas altivo.
zedejesusbarreto
https://bahiaja.com.br/artigo/2007/08/11/carta-ao-senhor-jhc,102,0.html