Colunistas / Esportes
Zé de Jesus Barrêto

A BOLA CHEIA DE VONTADES e o tal do futebol

Tentar explicar o futebol é desconhecer o sobrenatural Almeida
24/07/2015 às 15:16
 Para boa parte dos nossos comentaristas de futebol, no Brasiil inteiro, o time joga bem quando ganha e joga mal quando perde.  Simples assim.  Ora, isso é uma avaliação rasteira dos significados do futebol, o mais complexo dos jogos de bola.
   
   ... Por ser coletivo e jogado com os pés. Além disso, o futebol acontece em campo aberto, sujeito a regras, arbitragens, tempo, clima, gramados (pisos) e circunstâncias tantas mais. 

   Não é cansativo repetir que o futebol se joga com técnica, habilidades, táticas e estratégias coletivas (de um lado e de outro), mais condicionamento físico e ainda vontade, alma, entrega, emoção ... tanto no aspecto individual como no âmbito grupal. 

   Como se não bastasse tudo isso, há a presença e ação do ‘sobrenatural de Almeida’ nelsonrodrigueano, o imprevisível, o inimaginável, o acaso...   E mais as ‘energias’ que emanam das arquibancadas que também às vezes influem, e como!  

  Sim, e é por toda essa complexidade, tão vulneravelmente humana, que o futebol fascina, encanta, enfeitiça.  É como o jogo da vida: ‘Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo ...  mas aprendendo a jogar”. Até o fim. 

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  Vencer, empatar ou perder uma partida é resultado de circunstâncias que só à Deusa Bola pertencem e a ela é permitido decidir. 

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   O torcedor de arquibancada, apaixonado, só pensa e só quer vencer. Óbvio. Só com o triunfo expurga seus demônios. Xinga, grita, esperneia, chora, briga até, desconhece o outro.  

  Tem torcedor que mal chega ao estádio já se posta em posição de xingar e agredir o treinador da própria equipe pela qual torce, e, ao mesmo tempo em que aplaude um atleta mediano, o ‘perna-de-pau  que faz o gol, é capaz de execrar o craque, o ídolo que erra uma jogada, comete ou perde um pênalti, atua mal numa decisão.  

  Lí outro dia o comentário de Maradona esculhambando Messi, segundo ele ‘omisso’ nas decisões com a camisa do escrete argentino. Ora, quantos jogos vimos com Maradona sumido e anulado em campo? Pois.  
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   ‘Aquele cara é uma merda, não joga nada!’, é comum ouvir.  Como assim, se é um atleta profissional, contratado e treinado pelo clube, com salários muito acima do normal para a grande maioria da população. Não, não pode ser um ‘merda’ qualquer, tem seu valor. Pode até estar num dia opaco, mas tem seu valor.  Chamar um treinador de ‘burro’, um Evaristo de Macedo, por exemplo, chega a doer: Ora, como posso imaginar que entendo mais de bola que ele?  

  O torcedor que nunca calçou uma chuteira, nunca vestiu um uniforme no vestiário ao lado dos companheiros de equipe,   jamais  pisou num ‘relvado’ para competir e está pagando ingresso para ver a ‘peleja’, até tem o direito de vaiar, xingar, escalar, exigir do seu time de coração, do adversário...   Mas o profissional da mídia especializada tem o dever de respeitar o atleta profissional, o treinador, sim. E a si próprio, como profissional de comunicação, e ao público que o vê, o ouve, o lê.  Respeito.  

  Cobro todo o respeito pelo atleta que num dia de graça pode arrebentar o jogo e num outro dia, infeliz, vai errar, atuar mal, ficar ausente em campo, sem acertar um passe, um domínio – feito Neymar naquele jogo contra a Colômbia pela Copa América, no Chile, recentemente. Lembram?

 Quem sabe os motivos, técnicos, coletivos ou pessoais que o levaram a atuar tão mal, tão longe do normal,  a ponto de perder a cabeça com o árbitro, com os companheiros, com os adversários?

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   Acompanho futebol de ir a campo ver jogos (e também  bater minhas bolinhas) desde menino, desde 1953 (quando fui pela primeira vez à Fonte Nova).  Já entrei e joguei naquele gramado (da Fonte Nova) e noutros tantos, mesmo de forma amadora - tempos em que minhas pernas obedeciam ao comando de meu cérebro. Treinei e bati babas com muitos profissionais, craques em quem me espelhava.  

  Vi Garrincha ser anulado em campo por Florisvaldo, vi Pelé perder gols daa pequena área, vi Zico ser apagado por Baiaco, Rivelino vaiado, Maradona errar até perder a cabeça e ser expulso, Messi desperdiçar pênaltis  e errar em decisões...  Como vi Piolho e Raudinei decidir e virar ‘heróis’, idolatrados.  Isso é o futebol.  

O resto é cascata, lero, enganação. 
Futebol não se explica com números, estatísticas, recursos tecnológicos, infográficos ...    Ilusão. 

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  Vale repetir os jargões, eternos e válidos :  ‘Futebol não tem lógica, é uma caixinha de surpresas”;  ‘Quem não faz, toma’; ‘Quem tem medo de perder não vence’; ‘No dia que a bola não quer entrar...’   

  Porque a bola tem querer, sim.  Fêmea. 
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  A bola é redonda, infinita, prenhe de mistérios, cheia de vontades...  às vezes indomável. 

  A bola é mistério, signo do eterno – não tem começo nem fim. 

  A bola é um pingo, o Universo.


 Pra fechar, como dizia minha velha Mãe Preta: “Meu filho, não esqueça, jogo é coisa de Exu.