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Zé de Jesus Barrêto

O REBU DO JABÁ no rádio e o pioneirismo do BAHIA

Que o Bahia, primeiro Campeão Brasileiro, hoje o clube mais democrático do país - com eleições livres e diretas - orgulhe-se agora, então, de ser também o pioneiro em denunciar a prática nefasta do jabaculê
13/03/2014 às 18:01
Jabá, para os que não sabem o significado, é a corruptela do termo jabaculê, que o velho Aurélio define como gorjeta, dinheiro usado para subornar alguém. 
A palavra jabá tem origem indígena e significa também, no Nordeste, a carne de sertão, o charque. Não é o caso do jabaculê, algo que até pode ser legal, nada entendo de leis, mas com certeza é indecente, imoral. Ou quiçá amoral, algo que seja considerado normal e nem pese mais na consciência dos despudorados.

O jabá é coisa antiga, que viceja em campos muito mais amplos que os do futebol. Muito comum no âmbito da comunicação, sobretudo na radiofonia, mas hoje bem amplificado a comunicadores de tevê, editores, repórteres setoristas etc 
O que é jabá ?

Trata-se daquele pagamento camuflado, por fora, muitas vezes mensal e regular, aquele agrado sem recibos, um regalo, os convites para viagens e eventos com tudo pago, o almoço, jantares, bebedeiras, festinhas, os irrecusáveis zero oitocentos, empregos fictícios, cargos, os offs exclusivos... 

Comportamento que se dá na penumbra do silêncio mútuo comprometedor , alimentado por gravadoras, empresários de artistas para tocar músicas na programação das emissoras e estourar sucessos em programas de grande audiência; por agentes e empresários de atletas no intuito de pô-los na fita, forçar a escalação, valorizá-los; atividade escusa exercitada sem pudores por clubes, federações, entidades, poderes (executivos, legislativos ... ) e homens públicos... na base do ‘ninguém sabe, ninguém viu, cadê o meu’. 

Podres poderes 

Sim, repito, poderes públicos: tem comunicador famoso e cheio de moral de jegue pelai que desce o cacete, dá-lhe porrada no poderoso de plantão quando o jabá (institucionalizado muitas vezes em folhas de pagamento paralela, mensal) atrasa; e, logo que pinga o jabá na conta, o mui digno comunicador alivia no ar, elogia, chama o poderoso para aquela ‘entrevista’ manjada de levantar a bola. Conhecemos bem a prática no dia a dia, né? É legal a chantagem? De quem é mesmo a culpa, de quem cobra ou de quem paga, de quem aceita? Hum ? 

Vem de longe

Entonces, a lambança do jabaculê no E C Bahia não é nada estranho nem tampouco novidade; muito menos exclusividade do tricolor. Sejamos claros. Trata-se de prática comum de clubes, entidades, federações... pais afora. 

O que há de novo no caso é a denúncia, o jogo aberto pela atual diretoria do clube buscando incriminar a diretoria anterior comandada pela família Guimarães, da Ribeira que já tinha feito do clube uma extensão de seus negócios particulares.

Vamos agora abrir de vera a caixa preta? Seria essa atitude um passo a mais e bem significativo da democratização do Bahia, como pediu e realizou a torcida tricolor, ou parte mais esclarecida dela. Veremos. De todo modo, que bom que tenha acontecido esse rebu do jabá para que a transparência prevaleça em todos os campos da administração do clube. Amém.

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Transparências

Quem trabalha de modo decente , de um lado e de outro (clube e meios de comunicação) deve aplaudir, noticiar, incentivar a abertura e o conhecimento do conteúdo das malas pretas. Sem ranços, sem pejo. 

Que o Bahia, primeiro Campeão Brasileiro, hoje o clube mais democrático do país - com eleições livres e diretas - orgulhe-se agora, então, de ser também o pioneiro em denunciar a prática nefasta do jabaculê, forçando a que outros clubes e entidades também o façam, sob pressão das torcidas e da face decente da mídia esportiva baiana e nacional.

O assunto ganhou repercussão nacional, está nos noticiários, nas redes. O respeitável jornalista Juca Kfouri já escreveu artigo sobre o assunto, nesse tom. Ponto. 
Omissões

A lista dos jabazeiros apresentada pela direção do Bahia e escancarada, revela surpresas mas tem omissões claras. Alguns nomes manjados não aparecem, tem muita ‘gente boa’ de fora. Que houve, alguma intervenção, alguma negociação por cima, alguns interesses ‘políticos’ foram preservados? Sò perguntas. 

Baixarias

No mais, entendo que a exposição do affair Jéssica Senra X MGF não devia ter sido explorado, não era necessário, pois o caso amoroso ultrapassa o âmbito das irregularidades do dirigente para com o clube e entra no pessoal, no íntimo, no campo da família, que deve ser preservado; afinal, ficou evidente a paixão recíproca, e isso não é da conta de ninguém, só a eles interessa. Ok ? Sem baixarias, por favor.
Até porque, falando em baixaria, a exposição dos encontros do casal levou o MGF a apelar feio, mostrando bem os seus métodos, ao responder públicamente ‘xingando’ o presidente Fernando Schimidt de homossexual. Ora, e daí ? 

Haja processos, interpelações jurídicas, advogados, futricas etc... será esse o caminho ? Bem, prefiro os caminhos da bola jogada. 

Perseguição 

Torço muito para que o episódio ‘lambança do jabaculê’ não signifique apenas mais um capítulo da trama, da disputa (política, eleitoreira também?) pelo poder no EC Bahia, um clube de massa que faz já parte da história baiana. 
Torcedor é eleitor, lembrem-se, e a turma que ora ocupa o poder, com o voto democrático da torcida, faz parte das entranhas do partido que ora governa a Bahia, o país, com cargos e tudo mais. 

Que todo esse escarcéu feito em torno dos jabás pagos pela turma de Ribeira não se restrinja a vinganças, perseguições do tipo eliminar o adversário retirando-o do Conselho Deliberativo do clube, cassando-lhe o título de sócio, execrando-o publicamente até o lixo etc... Que isso tudo até se faça, se for justo e legal, mas não deve ser o objetivo maior, a meta única de quem está agora por cima.

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O Bahia é um time de futebol, patrimônio de uma torcida única e devotada, que ama a bola, as cores da camisa, o hino do clube e sua história de glórias. O foco é o Bahia. Assim deve ser.