Tecnologia

A CADEIRA E O ALGORITMO CAP 14: TEORIA DE DARWIN CRIA O HUMANISMO

O novo e o velho - um não elimina o outro de todo - e convivem em harmonia até nos pensamentos cientifico e filosófico.
Tasso Franco , Lisboa | 17/01/2022 às 07:23
A inteligência humana foi capaz de criar objetos em barro e ferro para sua sobrevivência
Foto: BJÁ
      

 
   A maior descoberta do homem foi saber de sua existência - da palavra humanismo - um diferencial para os animais - os bichos. Esse extraordinário trabalho foi realizado e difundido pelo inglês Charles Darwin e outros na segunda quadra do século XIX. Um contemporâneo de Darwim, Alfred Russel Wallace, também já analisava, em 1858, as teorias relacionadas com a evolução biológica e o uso da teoria binária na botânica.

   Esse é um dos temas mais difíceis de serem entendidos pelos brasis. Confesso que cheguei a fase adulta sem entendê-lo. Em todo período escolar intermediário e até mesmo no universitário – salvo para quem estudava biologia e medicina – as explicações para nós das teorias naturalistas de Darwin e do seu livro que mudou o pensamento do mundo “A Origem das Espécies” eram esparsas. A gente sempre ouvia falar desse assunto, mas não entendia ou se aprofundava sobre o tema. E ficava tudo vago entre a existência do homem a partir de Adão e Eava e a evolução da espécie.

   Pouco importa ou tem uma importância significativa menor que, como disse Darwin, “a ideia estivesse no ar” no final do século XIX entendendo-se como um novo conceito pré-científico da história, pois, são encontradas na autobiografia de Darwin citações a Lyell, Auguste Pyrame de Candole e Maltus, e é público e notório que na viagem do Beagle (que passou por Salvador da Bahia quando Darwin esteve no Pelourinho e fez citações aos primórdios do nosso Carnaval do Entrudo e das bisnagas de limão) ele tenha levando consigo e lido os "Princípios da Geologia" de Lyell, e o Ensaio sobre o "Princípio da População" de Malthus.

   Ou seja: Darwin procurava alicerçar seus estudos observando o que outros autores já haviam publicado e eram trabalhos cientificos considerados relevantes.  

   Georges Ganguilhem, em “Estudos de História e de Filosofia das Ciências, concernentes aos vivos e à vida (Forens 103/104) diz que em “sua Histore de la Zoologie (1872, traduzida para o francês, em 1880), Vctor Carus insistiu na ligação sistemática - durante a primeira metade do século XIX - entre as expedições de navegação empreendidas para fins de reconhecimento geográficos e explorações dos naturalistas. 

   Portanto, analisando esse detalhe, a célebre viagem do Beagle é apenas um episódio complementr da história desses empreendimentos organizados pelos franceses inicialmente, pelos ingleses e russos, em seguida, e pelos norte-americanos, por fim. Já, ainda, inúmeras contribuições à morfologia zoológica e à botânica pelos exploradores, os administradores e os militares colonias da época vitoriana”.

   É diante dessas expedições e outros estudos, que Darwin modestamente fala que o assunto estava no ar desde meados do final do século XIX. Havia, em verdade, não uma corrida ou disputa entre eles, mas, contribuições que foram sendo dadas pelos acadêmicos de laboratórios e pelos naturalistas de campo, um desenrolar de contribuições espontâneas que não se falavam entre si, até porque, as tecnologias da época não permitiam essa troca de informações com rapidez. Demoravam-se meses, anos, para que isso se concretizasse ou se fundisse.

   É provável que o primeiro embate entre darwinianos x clericais tenha se dado em  1860 durante o Congresso da British Association, com sede em Oxford, surgindo a expressão dando conta de que o homem derivava do macaco com base na teoria da concorrência vital e da seleção natural de Darwin.

   São os conceitos de Darwin que vão estabelecer uma concepção nova entre humanidade e animalidade. E é a partir dai que vai surgir a psicologia nascente no final do século XIX uma vez que, como sustentou Darwin, não havia uma diferença fundamental entre os homens e os mamíferos mais elevados. A patrir da teoria darwiana esssa diferenciação ficou clara com o psiquismo reservado aos humanos, condição que os animais não conseguiam atingir.

   Em linguagem mais compreensível aos nossos leitores as diferenças estão no cérebros dos humanos e dos bichos. O homem fala, pensa, estuda, elabora, assimila (e várias outras adjetivações) e o macaco (considerado um dos mamíferos mais elevados) não tem esse poder completo.

   É a teoria de Darwin (1836) que vai dar contorno ao homem psiquico (pensador) e sua existência sendo sustentada apenas no campo da ciência e não como um ente divinatório. No Ocidente, a Igreja Católica se aproveitou muito dessa condição do homem a partir da força de Deus (do divino) e adotou teologia associada a essa ação divina para crescer e ampliar o número de fieis..

   A teoria de Darwin bagunçou esse coreto religioso - cristão, védico, islâmico, do povo de santo africano e outros - e mexeu e modificou a história, a antropologia, a sociologia, a psicologia, a medicina e vários campos da ciência, tudo isso graças a Teoria da Evolução Natural das Espécies tão polêmica até os dias atuais.

   Segmentos religiosos ainda defendem a origem do homem nas concepções dos livros religiosos dos pensadores a.C. e d.C – a bíblia, o torá, o vedas, tamuld e outros. Mas, isso só para efeito de manter os seus rebanhos religoosos agregados.

   A ciência, no entanto, trabalha e se baseia em experimentos e embora esse tema será extremamente complexo e discutido até os dias atuais (de onde viemos? E para onde vamos?), o conhecimento científico – como diz A.F.Chalmers (O que é a ciência afinal) – é o conhecimento provado. “A ciência é objetiva. O conhecimento científico é o conhecimento confiável porque é o conhecimento provado objetivamente”, assegura Chalmers..

    A teoria de Darwin, portanto, representou para a afirmação do humanismo - as novas tecnologias do pensamento - se firmando contra as velhas tecnologias - da criação do homem pelo divino - embate que se dá até os dias atuais. Ou seja, há uma harmonia entre os dois sentidos numa convivência que segue em debate sem uma sepultar definitivamente a outra. 

    É o que tenho colocado em "A Cadeira e o Algoritmo" esse permanente dualismo - a luta do novo contra o velho - um não eliminando o outro de todo e convivendo em harmonia até nos pensamentos cientifico e filosófico.