Tecnologia

A CADEIRA E O ALGORITMO CAP 13: O JEEP WILLYS E OS PADRÕES QUÁDRUPLOS

Entre o jeep Willys e os veículos com computadores se passaram 57 anos e ainda há muito a caminhar em inovações tecnológicas
Tasso Franco , Valencia ES | 10/01/2022 às 07:48
Modelo usado por meu pai na década de 1960
Foto: REP
  
  Aprendi a dirigir automóvel em 1965 e tirei minha primeira carteira de habilitação, em 1966. Com o fim da II Guerra Mundial apareceram à venda no interior da Bahia os Jeeps Willys de fabricação norte-americanas usados nos campos de batalha da Europa. Quando Roosevelt esteve no Brasil, no Rio Grande do Norte, para estabelecer uma base militar no Atlântico usou um desses jeeps com Getúlio Vargas. E, meu pai, em 1963, comprou um jeep desses com novo design para servir de utilitário, ir para sua fazenda que ficava distante da sede de Serrinha 20 km, percurso que fazia toda semana a cavalo, 

  O jeep, portanto, para ele foi um equipamento tecnológico da maior valia. Já estava com 53 anos de idade - se aproximando da velhice - nada melhor do que trocar a velha tecnologia - o cavalo - que sevia de meio de transporte por um automóvel utilitário. Mas, não desprezou o animal de todo, pois, ainda o usava em sua fazenda. Como estou escrevendo a série "A Cadeira e o Algoritmo" para o site wattpad e mostrando a convivência entre as novas tecnologias e as velhas este é um bom exemplo. O cavalo sendo substituido pelo automóvel. E, posteriormente, pelas motos.

Havia, nesse caso, uma distinção bem valiosa entre o comportamento do meu pai – o uso de uma nova tecnologia para ter ganhos de tempo, transporte e comodidade – e o meu – o uso de uma nova tecnologia para paquerar as meninas na praça e fazer farras com meus amigos. Ou seja, são avaliações distintas de um mesmo objeto. O que, em certo sentido, vale até os dias atuais. A utilidade de um iPhone para um professor é diferenciada do uso de um iPhone para a filha adolescente do professor.

O tempo passou na janela – mais de 50 anos – as tecnologias avançaram, mas observa-se que os campos utilitários são os mesmos.

Em nossa comunidade - desde a década de 1930 - circulavam os Ford de Bigode e os Chevrolet capôos pretos. Eu nasci em 1945 e alguns amigos de meu pai tinham esses carros, por serem mais ricos do que ele e por vaidade. Creio que meu pai poderia ter um desses carros – era comerciante, industrial de pequeno porte (tipografia) e pequeno fazendeiro - mas não teve. Ele se casou, em 1939 e sua vaidade era zero. Quando comprou o jeep considerou as probabilidades de ganhos e perdas nos negócios; e comodidade x risco. E não em colocar os filhos (4) no automóvel para passear. Nunca fez isso. Meu irmão nascido em 1940 e eu (1945) já morávamos em Salvador quando surgiu o jeep em nossas vidas, mas, na minha do que na dele.

Eu ia com frequência a Serrinha - era jovem - e nada melhor do que usar o jeep como objeto de status. Não considerava, portanto, as variáveis: ganhos x perdas; comodidade x riscos. E fiz muitas farras com o jeep e me dei bem com as girls. Se o carro quebrasse era meu pai quem mandava consertar e a gasolina era ele que pagava. Como isso entrava em sua contabilidade não tenho a menor ideia. Certa vez bati a frente numa parede e ele me disse: - Se amassar a lateral vou colocar uma porta de madeira. As portas e a cobertura do jeep eram de plástico resistente.

O tempo passou. Casei-me em 1972 e adquiri meu primeiro veículo. Meu então sogro fez um negócio de pai pra filho e vendeu-me baratinho um opala azul com marcha no volante. Era lindo. Senti-me o próprio. Aí entraram as variáveis de ganhos x perdas; comodidade x riscos. Ou seja, a manutenção do veículo e a sua utilidade eu é que administraria. E foi então que vim perceber o valor diferenciado do jeep para meu pai. A essa altura ele havia mudado para uma Variante, um utilitário mais confortável.

As tecnologias dos automóveis foram mudando com o tempo. Os Fords de Bigode eram ligados com uma manivela; os jeeps na ignição com a chave; e o opala as marchas eram na estrutura de suporte ao volante. No mais, tudo era igual para os usuários – freio, embrenhagem, marchas, botões de luzes, tanques de gasolina -, mas ocorreram várias mudanças nos motores, o que interessava mais aos mecânicos do que a nós. Salvo se essas mudanças representassem consumo menor de combustível por km/rodado.

Foram mais 20 anos até o surgimento de algo novo e que interessava mais diretamente aos usuários: o carro flat (álcool e gasolina) e o surgimento air bag. Foi um air bag que salvou minha vida em 2014. Eu tinha um Monza há mais de 20 anos e fui com a esposa (já estava casado pela segunda vez) para a posse do bispo de Jequié, dom frei Ruy Lopes, e na ladeira de Milagres subia na minha mão quando apareceu uma caminhonete. Tive que desviar para não bater de frente e entrei no fundo de um caminhão. Perda total do veículo. Os airb bags funcionaram e protegeram a mim e a minha mulher. Fui para num hospital porque mesmo com o air bag o volante atingiu meu tórax.

Até chegar para a classe média os carros com modestos sistemas computadores foram 57 anos de espera contando-se a partir de 1965 e até agora – estamos em 2022. Outra inovação foi o uso combustível a gás (desde 2010, Bahia, com maior intensidade) mas ainda são raríssimos os carros elétricos.

Veja o seguinte já que estamos falando de tecnologias. A China investe 600 bilhões de dólares numa estrada computadoriza ligando cidades pólo industriais e o Porto de Pequim; a Alemanha investe milhões de euros em estradas inteligentes computadorizadas e avança com carros elétricos, metrôs integrados a VLTs, e uso de bikes. A Espanha desenvolve a produção do Hiperloog um trem que se moverá dentro de um tubo (a váculo) a 1.000 km por hora. E nós seguimos no atraso.

A nossa sociedade vai resistir ao atraso até quando? É impossível se prever isso. Algumas cidades do interior ainda usam carroças puxadas a burros no transporte de cargas, em áreas urbanas e rurais. Somos o Afeganistão e o Peru com suas lhamas. Salvador investe num sistema por ônibus BRT distante das novas tecnologias investindo quase R$1 bilhão do governo federal. Alguns conceitos precisam ser modificados no Brasil, urgentemente, senão ao invés da convivência das novas tecnologias com as velhas vamos ficar em harmonia das caducas tecnologias com as velhas.

   Há duas dinstições de padrões quadruplos: a cristã e a tecnológica. Na cristã, a Igreja quatro palavras em seu culto ao longo de sua história: Ajuntamento, Palavra, Mesa (ou Responso) e Envio. Por volta do século III, a Igreja Cristã tinha adicionado os elementos Ajuntamento e o Envio à Palavra e Mesa para estabelecer o culto quádruplo básico continuamos a usar hoje. 

   Em tecnologia, canal quádruplo aumenta a velocidade de transferência de dados que ocorre entre a memória DRAM e o controlador de memória, através da adição de canais de comunicação entre eles. Nas memórias DDR4 a multiplicidade de canais oferece um cache de 8 MB, quase o dobro da memória do que com apenas dois núcleos, e também melhora o desempenho da largura de banda quase o dobro dos canais de dois canais. Essa tecnologia é a mais usada atualmente nos computadores.

   Vê-se, pois, como o homem transita sua existência entre esses dois pólos, harmonicamente. Oramos a ainda usamos carroças e carros e mais BRTs no padrão quádruplo das velhas tecnologias e usamos computadores e iphons de alta velocidade nas informações.