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Tasso Franco

CARNAVAL consolida novo modelo e popicaliza e democratiza de vez (TF)

Como vão sobreviver as culturas dos blocos afros com essa democratização: esse vai ser o grande desafio para Ilê, Olodum, Malê, Gandhy e Muzenza, entre outros
13/02/2018 às 18:49
 MIUDINHAS GLOBAIS:
 
  1. PODEMOS dizer que o Carnaval de 2018, em Salvador, representou um marco: a consolidação da mudança do modelo 'pipoca' para atender aos foliões de todas as classes sociais e renda. Há, assim, uma democratização do Momo, como nunca aconteceu em nenhuma outra época dessa manifestação cultural que data da segunda metade do século XIX e sempre foi diversificada, múltipla, elititista, popular e como queiram defini-la. 

   2. Evidente que, agora, com uma infinidade de trios tocando gratuitamente para os foliões, apelidados na cidade de 'pipocas', não es extinguram os modelos classificados como elitizados, com cordas e em camarotes, que acontecem em todos os segmentos, dos afros aos arianos. E isso vem desde os desfiles com pranchas, as batucadas e as escolas de samba.
   
   3. O Ilê, por exemplo, desfila com cordas: é a elite do Carnaval afro. O Olodum na sexta, idem. O Gandhy, idem. Só desfilam nesses blocos quem pagam e a 'favela' não tem capilé para isso. Os blocos de samba, também. Já houve até uma elite negra-pop que desfila num bloco chamado de Tiete Vips, do carnavalesco Rubinho, hoje, aos 80 anos, afastado do Momo.

   4. Onde houve uma queda expressiva foi nos blocos da elite branca, o que já vinha acontecendo há alguns anos e piorou bastante a partir da crise financeira de 2009. É só passar as vistas e vê quanta gente desapareceu. O Pinel era um assombro e sumiu na fumaça. O Cheiro de Amor era outro assombro e minguou. A lista é grande. 

   5. Essas mudanças no Carnaval não aconteceram da noite para o dia nem é fruto de uma ou duas gestões. Só lembrando nos últimos 20 anos, em 1999, nos 450 anos de aniversário da cidade, surgiu no governo Imbassahy, "Os Mascarados", outro marco, agora completando 19 anos. 

   6. Surgiu também o "Bloco da Cidade", o Camarote Andante de Brown e os incentivos aos afros e os trios independentes. Imbassahy levou Bell Maques para tocar em Cajazeiras, no campo da Pronaica, isso quando a banda Chicletes com Banana estava no auge. Ajduou o Ilê ir à rua com reforço de uma empresa privada, a Bombril. Na primeira década do século XXI o Carnaval camarotizou de vez. 
   
   7. Já com Jaques Wagner no governo e João Henrique na PMS surgiu o Carnaval Ouro Negro e um movimento capitaneado por Saulo Fernandes e outros para dar mais força ao folião pipoca. Isso foi num crescendo e agora com Rui e Neto se consolidou. É um modelo muito estatizante, que depende de verbas públicas. Mas, paciência, é um modelo.
   
   8. O que vai acontecer doravante ninguém sabe. De repente, pode entrar um prefeito como o do rio, Mr Crivela, que é crente, e vete a verna dos trios como acontece no Rio com as Escolas de Samba. Mas, a realidade é que agora, tem-se um novo modelo, o mais democrático dos carnavais, garantindo ao folião espaço público gratuito com folia; e aqueles que assim não quiserem podem seguir onde estão, nos camarotes e nos trios com cordas. Há folia para todo gosto e renda.
   
   9. Acabou a pobreza na cidade? Impossível. O gueto desceu com Igor Kannário e os pobres, os mais pobres, ganham a vida carregando isopores nas costas vendendo cervejas. Salvador é muito desigual. O modelo carnavalesco atual reduziu a demagogia de alguns grupos politicos que defendem a democratização, mas, vão a camarotes.

   10. É isso: o Carnaval deu um girou de 180 graus. Mas, é bom ficar atento: estará sempre em movimento, em mutação.                                                          
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   11. “Eta pipoca linda”. Com esta saudação, a rainha da Axé Music subiu no trio nesta terça-feira de folia no Circuito Osmar (Centro). Seguida por uma legião de súditos, Daniela Mercury, conhecida por sua defesa as causas LGBT, foi ovacionada pelos foliões. “Ela é irreverente, tem coragem de levantar esta bandeira nesse mundo cheio de preconceitos”, disse o figurinista Maurício Martins.

   12. Usando um vestido vermelho esvoaçante, Daniela cantou para Iansã, deusa dos raios e trovões, e foi aplaudida de pé pela arquibancada. “Amo a música, o trabalho dela é incrível”, declarou Maria Paula Rodrigues, arquiteta. 

   13. Na passarela do Campo Grande, Daniela fez uma apresentação de tirar o fôlego, iniciada ao som de “Banzeiro”. Acostuma a inovações durante o Carnaval, decidiu fazer uma brincadeira e eleger o samba como presidente. Para isso, reproduziu a atmosfera do “Cassino do Chacrinha”, onde cada participante representava um tipo de samba: reggae, enredo, de roda e tantos outros.

   14. Entre os convidados, a Companhia Baiana de Patifaria, que está completando 30 anos de fundação, e a cantora Amanda Santiago, que fez a defesa do samba reggae, cantando um pout pourri.    
   
   15. A Polícia Militar da Bahia oferece, às 13h, desta quarta-feira de cinzas (14), uma feijoada para parte dos policiais militares que trabalhou no policiamento do Carnaval 2018. A iniciativa, que já virou tradição logo após o arrastão no circuito Barra-Ondina, é em reconhecimento ao trabalho da tropa na segurança dos foliões baianos e turistas. 

   16. A feijoada será servida no camarote da PMBA em Ondina, próximo ao Clube Espanhol, e contará com as presenças do comandante geral da PM, coronel Anselmo Brandão, do secretário da segurança pública, Maurício Barbosa, entre outros participantes da Operação Carnaval 2018. 
   
   17. Para minimizar possíveis intoxicações por manipulação inadequada de alimentos, a Vigilância Sanitária de Salvador (VISA) já realizou a fiscalização em mais de 3.000 estabelecimentos do início da folia até a manhã dessa terça-feira (13). Desse total, pouco mais de 300 locais foram notificados, sendo que a maioria das infrações encontradas nos circuitos estão com data de validade vencida e falta de indicação de procedência dos produtos.

   18. Além de observar a qualidade dos alimentos, os foliões precisam atentar para as condições higiênicas do local que comercializa os produtos, como alerta o subcoordenador da Vigilância Sanitária, André Luís Pereira. "Ao chegar em locais como lanchonetes, é preciso verificar se os atendentes estão usando equipamentos de proteção como toucas e luvas, perceber se a forma de manuseio está adequada e se os utensílios estão limpos", ressalta.

   19. Após a notificação, o estabelecimento tem um prazo de 24 horas para a regularização. Caso o não seja cumprida a determinação, o restaurante poderá ser interditado. Nos quatro dias de folia desse ano, 7 estabelecimentos foram interditados.

   20. VISA está intensificando a fiscalização dos caminhões que vendem gelo no circuito. De quinta-feira (8) até a manhã desta terça-feira (13), oito caminhões foram inspecionados antes de começar a distribuição gelo para os estabelecimentos. 

   21. “Se for observar, o gelo está em contato direto com a população, principalmente em festas. Camarotes e outros estabelecimentos acondicionam alimentos. Alguns tipos de ‘drinks’, como caipiroska, levam também o gelo na composição. Por isso, intensificamos para não pôr em risco a saúde do folião” declarou o Coordenador da VISA, André Pereira.

   22. As barreiras de trânsito montadas pela Transalvador para o Carnaval serão desmontadas nesta quarta-feira (14). A partir das 13h, as vias interditadas na região do Centro estarão novamente liberadas para o tráfego normal de veículos. 

   23. Na Barra, a previsão de liberação é também a partir das 13h, só que de forma progressiva, devido ao arrastão organizado por Daniel Vieira e Léo Santana na Quarta-feira de Cinzas, que ocorre entre o Farol da Barra e Ondina. 

   24. Montadas desde a madrugada da última quinta-feira (08), primeiro dia oficial do Carnaval, as barreiras controlavam o fluxo de veículos nos circuitos, sendo liberada a passagem apenas de moradores e veículos autorizados através de credenciais emitidas pela Transalvador. Ao todo, foram instaladas 113 barreiras, sendo 72 no circuito Dodô (Barra/Ondina) e outras 41 nos circuitos Osmar e Batatinha (Centro). 

   25. Aglomeração, ambiente abafado e mudança de temperatura podem ser os principais fatores para o aumento de casos de conjuntivite no período do carnaval. Até esta segunda-feira (12), os módulos de assistência à saúde montados pela Prefeitura, registraram 85 diagnósticos da doença, nos circuitos da folia.

   26. Chama a atenção o crescente número, já que em todo o carnaval passado houve apenas 17 foliões com sintomas dessa doença. Além do clima e compartilhamento de objetos pessoais, o uso de maquiagens vencidas e de produtos como glitter podem aumentar o risco de contágio da doença. Pois, a presença de corpo estranho nos olhos levam à irritação ocular, principalmente.