Saúde

Mitos sobre câncer interferem em tratamento de pacientes

O médico Carlos Frederico Benevides falou sobre o assunto
Carlos Baumgarten , Salvador | 14/09/2019 às 17:29
Carlos Frederico Benevides
Foto: Roberto Abreu
Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamentos, o câncer ainda é uma preocupação no cenário global. No entanto, hoje, a doença deixou de ser uma ‘sentença de morte’, na medida em que o diagnóstico é feito precocemente e quando o paciente segue à risca o seu tratamento. Só que um obstáculo nesse caminho é a quantidade de fake news espalhadas e potencializadas nas redes sociais, que podem interferir no tratamento de um paciente com câncer, reduzindo suas chances de cura.
Paralelo ao II Simpósio Internacional de Tumores Femininos, que acontece em Salvador até este sábado (14), a II Jornada de Oncologia Multidisciplinar abordou, entre outros temas, mitos e verdades no tratamento do câncer. O médico Carlos Frederico Benevides, do Grupo CAM, falou sobre algumas questões culturais, encaradas hoje como um fenômeno mundial, no sentido de se substituir os tratamentos convencionais, com efetividade comprovada, por alternativos, a exemplo do uso de chás e raízes.
O médico alerta que, além de o tratamento alternativo não combater a doença, há casos já comprovados de que o uso de determinadas substâncias podem intoxicar os pacientes. “Há muitas dúvidas sobre o preparo dessas receitas. O limiar entre o benéfico e o tóxico é desconhecido. Já existem casos em estudo comprovando que uso de determinados chás para tratamento ao câncer fez pacientes desenvolverem hepatite fulminante e hepatite crônica”, revela.
Outras desinformações disseminadas, especialmente via internet, têm relação com a alimentação dos pacientes. Benevides cita o exemplo do açúcar, em que muitos pacientes acreditam ser necessário cortar a ingestão do nutriente, necessário ao organismo. “Muita gente acredita no mito de que se ingerir açúcar vai desenvolver um câncer, o que não é verdade. Obviamente, que não deve ser ingerido em excesso, mas não há contraindicação ao açúcar, inclusive para pacientes que estão tratando câncer. Há caso de pacientes que acabam ficando desnutridos por não ingerirem os nutrientes necessários”.
A luta contra as fake news na oncologia é também uma pauta de ordem global. “Os grandes centros de oncologia ao redor do mundo buscam informar aos pacientes sobre esses diversos mitos disseminados entre a sociedade, para não interferir em tratamento cuja eficácia já é comprovada”, concluiu Benevides.  
Em uma das mesas redondas da Jornada, foi discutido um caso clínico de uma paciente que detectou um câncer de mama, mas optou por tratamentos alternativos, e acabou retornando um ano e nove meses depois, já com a doença avançada. Durante a mesa, profissionais das áreas de enfermagem, odontológica e farmacêutica falaram também da importância do atendimento multidisciplinar para o tratamento do paciente com câncer.
As  profissionais abordaram os cuidados de cada área para um paciente com câncer de mama metastático. A mesa foi mediada pela enfermeira Carolina de Paula Oliveira, que contou com as palestras da também enfermeira Marlize Brandão, da dentista, Luana Campos, e da farmacêutica Nara Andrade.

Qualidade de vida

O II Simpósio de Tumores Femininos aborda, entre outros assuntos, a qualidade de vida do paciente em tratamento ou no pós-tratamento, diante de possíveis efeitos colaterais. A coordenadora do Serviço de Climatério da Santa Casa de Belo Horizonte, Ana Lúcia Valadares, que também é professora da Unicamp, falou sobre como assegurar uma qualidade de vida, especificamente após o tratamento de um câncer ginecológico.
“Do ponto de vida dos sintomas que podem aparecer, o tratamento pode levar a menopausa, e gerar efeitos como ondas de calor, impactos no sono, irritação, que pode causar depressão, ressecamento vaginal, entre outros”, detalha Ana Lúcia, acrescentando que esses sintomas podem piorar ao longo do tempo.
“No caso do ressecamento vaginal, há várias perspectivas de tratamento. Entre os mais acessíveis, estão o uso de hidratantes vaginais. É importante a paciente buscar orientações e há ainda tratamentos com fisioterapia”, explica a médica.
Ana Lúcia citou também um tratamento mais preciso, que é o laser vaginal, já está disponível no Brasil. Uma das instituições na Bahia que oferece esse tratamento é o Grupo CAM, como destaca o diretor médico da instituição, o ginecologista Airton Ribeiro. “É um serviço novo que trabalha para trazer às nossas pacientes maior conforto e privacidade. Muitos casos de câncer de mama, por não poderem ser tratados com terapia hormonal, acabam por ocasionar esse problema, que pode ser tratado de forma eficaz e não invasiva com o laser vaginal”, conclui.

Simpósio

O II Simpósio Internacional de Tumores Femininos acontece desde quinta-feira (12), no Hotel Deville Prime, em Salvador. Especialistas do Brasil e de diversos países debatem o tema, que, apesar dos avanços no diagnóstico e tratamentos, ainda é uma preocupação no cenário global, já que uma em cada seis mulheres no mundo terá algum tipo de tumor ao longo da vida, segundo dados do relatório anual da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS). Assuntos como prevenção, genética, rastreamento e terapêutica  do câncer de mama, assim como as doenças oncoginecológicas estão sendo discutidos pelos especialistas durante o evento.