Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

ROSA DE LIMA comenta o livro A ARTE JESUÍTA NO BRASIL COLONIAL

Trabalho editado pela Versal prêmio Prado Valadares da Odebrecht escrito por Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho
12/04/2018 às 18:16
  Eu, pessoalmente, não costumo comentar textos de livros capa-duras 40x30 cm, alguns de fotografias; outros de arte, livros também classificados como de decoração em móveis centros de salas de apartamentos e casas residenciais. Isso porque têm pequenas tiragens, custam em média R$200,00 a unidade quando chegam nas livrarias, portanto, têm leituras seletivas.
  
   Chegou às minhas mãos por mimo da Odebrecht a obra de Anna Maria Fausto Monteiro de Carvalho, "A Arte jesuíta no Brasil colonial - os reais colégios da Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco (Coleção Odebrecht Prêmio Clarival do Prado Valadares - Versal Editores, 561 páginas, Rio de Janeiro, 2017) capa dura formato 27x23cm (livro normal tem medida de 22x15cm), com ilustrações, fotos, croquis - que, diante do precioso conteúdo, pesquisa bem fundamentada, vale a pena tecer algunas linhas opinativas.
  
   Trata-se da abordagem de um tema que traz à luz do conhecimento dados importantes para entender os primórdios da história do Brasil reveladores também da cultura empreendedora da Companhia de Jesus que, além de atuar na contrareforma Luterana e expandir suas ações religiosas no Novo Mundo, sepultando as culturas religiosas dos nativos, teve a preocupação com a educação e a arte. 

   Em especial, o maneirismo português e o barroco italiano, próprios dessa época, século XVI, meados da primeira quadra e segunda quadra.
   
   A autora não aborda apenas a arte jesuítica nos templos religiosos da Companhia de Jesus na colônia brasileira, mas, até para que o leitor possa apreciar o contexto dessas obras de artes implantadas nas igrejas e colégios nas suas dimensões, revela momentos da história do país desde a chegada da armada de Thomé de Souza a Bahia, em 1549, para erguer a cidade fortaleza do Salvador. 

   E, ademais, o pioneirismo missionário jesuita com o padre Manoel da Nóbrega e mais 6 missionários, o contexto político social e econômico do império português, as relações governo/estado, o padroado, e o papel dessa ordem conhecida como 'soldados' de Jesus na educação nacional no início do povoamento definitivo do Brasil e ocupação institucional da Colônia com um governo geral em Salvador.
  
   O livro, portanto, tem uma contexto muito mais amplo e a autora faz um trabalho de narrativa histórica, Portugal na disputa com franceses, holandeses e espanhóis pelo controle do Novo Mundo, para, finalmente, se deter e tecer comentários sobre a arte jesuítica nos reais colégios da Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco (Olinda/Recife) o que faz muito bem, com conhecimento acadêmico bem fundamentado e dados primorosos. 

   O livro é detalhista e a autora revela que "a despeito de certas diferenças regionais, há uma extrema coerência na obra jesuítica brasileira, simultaneamente marcada por um sentido de austeridade arquitetônica e de ostentação decorativa".  
   
   E essa ostentação é sentida e vista, em particular, na Basílica da Sé, em Salvador, transformada em  catedral, na edificação do seu quarto templo desde a Sé Primacial, então, com a vista para a Baía de Todos os Santos, o mais luxuoso dos templos no país entre os jesuíticos com suas obras de arte, altares suntuosos e construção imponente no Terreiro de Jesus.
  
   Lembra a autora: "Infelizmente, em 1933, um projeto de remodelação do sítio para a abertura de uma praça na altura da Sé e para colocação de linhas de bonde demoliu a antiga catedral primaz da cidade, representada em seu apogeu no desenho de Francisco Vilhena, realizado em finais do século XVIII, e ´também "a área dos estudantes" do colégio jesuíta, visível no prospecto da cidade do Salvador, de José Antonio Caldas, de 1756-1758".

   A Arte jesuita no Brasil, de Anna Marua Fausto, expõe esse tipo de detalhe sobre a história baiana e o papel dos missionários da Ordem de Cristo, de forma dominadora com o apoio de Dom João V. 

   Quando este rei morre, em 1750, ele que era protetor dos jesuitas, assume o trono Dom José, o qual delegou todo o poder a Sebastião de Carvalho Mello, conde de Oeiras e futuro marquês de Pombal, contrário à política missionária jesuítica com o poder religioso se sobrepujando ao poder do Estado, e, em 3 de setembro de 1759, através de alvará régio expulsa os jesuitas de Portugal e suas colônias.
  
   A obra da Companhia de Jesus, no entanto, já estava iniciada e em andamento como centro do ensino laico, de níveis primário, médio e superior, "de formação missionária, num extenso território a ser culturalmente sedimentado, seu destino - confessa a autora - esteve necessariamente vinculado ao processo de ordenação urbana do domínio português no Brasil, como parceiro da fundação ou do desenvolvimento de vilas e cidades portuárias".
  
    Vê-se, pois, a dimensão do trabalho de Anna Fausto no entendimento da história do Brasil dos primórdios e do papel da Companhia de Jesus com seus colégios, igrejas e artes, mas também como projeto duradouro de dominação cultural e religiosa. 

   A par desse amplo conceito, a autora também brinda os leitores com detalhes das obras de arte, conceitos, os artistas, os retábulos, as pinturas, a inovação inaciana à frente seu principal pastor, Santo Inácio de Loyola. É um trabalho primoroso.