Colunistas / Literatura
Rosa de Lima

"A MULHER PERDIGUEIRA" DE CARPINEJAR É UM BOM LIVRO,

VEJA NOSSO COMENTÁRIO
07/10/2012 às 08:03

Foto: BJÁ
"A Mulher Perdigueira", Carpinejar, Bertrand Brasil, 333 páginas

   Às vezes a gente se depara com um livro que encanta pela simplicidade da interpretação dos textos. Isso é muito interessante e dá um enorme prazer aos leitores. Assim acontece com “Mulher Perdigueira”, da Carpinejar, Bertrand Brasil, 333 páginas, onde este autor gaúcho consegue trazer aos leitores crônicas do cotidiano, de coisas que a gente experimenta e/ou se envolve todos os dias, situações bem simples, bem corriqueiras, e que nos passam despercebidas no plano da escrita, de que alguém vai se interessar por temas tão áridos.

   São situações tão comuns – casamento com carteira assinada, pratinhos de vasos de flores, tampas de panelas; quando o pai esquece o filho do primeiro casamento; cueca no Box; Só cão manco é fiel; Sabonete líquido, etc - que a gente até pensa ser desprezíveL ou impossível se fazer literatura com esses pequenos pedacinhos da vida. Carpinejar consegue isso com maestria, surpreendendo os leitores.

   Tratar a banalidade é muito difícil para qualquer autor. Quando se escreve sobre um romance, sobre uma trama policial, sobre temas da modernidade, feminismo, sexo, família e outras abordagens da contemporaneidade são mais fáceis. Agora, quando um autor se arrisca a falar do banal, ou que parece banal, mas é usal, como tomar banho, escovar os dentes, o barulho é do andar de cima, faltou luz, ai é preciso ter um bom senso critico para não cair no lugar comum e produzir um texto infantil, sem qualquer dose de criatividade.

   A banalidade já foi interpretada por outros autores e por artistas de todas as matizes. Talvez o mais famoso deles tenha sido o Andy Warhol, considerado o gênio pop, que retratava latas de sopa e caixas de bombril, geladeiras e removedores de calos dos pés em arte contemporânea. 

   A interpretação que deu a lata da sopa com a obra “32 Latas de Sopa Campbell’s”, transformou o produto em ícone pop é exemplar. “Warhol mudou a trajetória da arte contemporânea com sua famosa série, em 1962, e é sempre apropriado reconhecer seu eterno legado.

   Então, Carpinejar, nascido na cidade de Caxias do Sul, 1972, e que adotou esse nome ao fundir o seu próprio de batismo Fabrício Carpi Nejar é originalmente poeta e autor de "Canalha", o livro de crônicas que venceu o Jabuti, em 2009, possui esse dom de abordar os temas banais com maestria, nonsense e assim por diante, exatamente sem ser linear e infantil.

    Ler Carpinejar é garimpar expressões que só ele usa com bastante sonoridade em seus textos, tais como “macho fiel não apara as unhas dos pés”; “o homem é corno desde o ventre”; “ficar um tempo sozinho é a maior mentira inventada”; “desconfie do sabonete das mulheres”; “o mau humor é o melhor antídoto que existe”; “a criatividade nasce de uma porta fechada”, situação que os leitores já devem ter experimentado e que não se dão conta de que esses momentos possam ser transformados em textos literários.

    É isso que faz Carpinejar nos mostrar que é possível ter uma visão do que nos cerca com maior atenção, senso de humor, oportunidade de refletir sobre lugares comuns e que acontece cotidianamente em nossas vidas. Bem, eu mesma nunca desconfiei dos sabonetes dos homens, mas, já que o autor pôs essa interpretação sobre o sabonete das mulheres, e aqui em casa ele é coletivo, meu e do meu marido, não deixa de ser curioso.

    Homem tem perfume diferenciado do da mulher, mas, sabonete! Ah! Já que Carpinejar assim pôs em seu livro, este e outros temas, os (as) leitores (ras) devem estar curiosos (osas) para conhecer esse autor. Vale a pena, com certeza.