Colunistas / Filosofia Popular
Rasta do Pelô

RASTA DO PELÔ proibe esposa de usar look de Rihanna para brindar Copa

Que sujeito mais ardiloso esse Rasta
01/07/2014 às 10:18
Com esse burburinho da Copa andamos a mil por hora. Eu com minhas tocatas de tamborim e vendendo minhas toucas aos gringos no Pelourinho e dona Céu fazendo tererê e aviando as toucas pra gente juntar dinheiro e depois da festa futebolística irmos a Mendoza, sonho de minha esposa, com esticada até Buenos Aires.

   Ela sempre está a me dizer que todas as suas amigas emergentes já conhecem a terra do tango e que, desta feita, ela irá. Ou seja, nós iremos.

   Então, disse pra ela economizar, deixar de ficar vendo as roupas de Helena, da novela Em Família, deixar de ficar trocando looks com sua irmã Rilza Cervejão, de ficar indo ao salão de Andréa do Lady Lú toda semana, que se juntar o dinheiro dá pra gente ir a terra de Maradona.

   Foi dito menos feito. Embora tenha tanto recomendado eis que bastou a Rihanna aparecer com um look repleto de cristais Swaroski que ela passou logo um whats aap para a irmã, ah! é, ela agora está de Samsumg última geração, e quer porque quer, fazer um traje igual ao de Rihanna, assinado por Adam Selman.

   Quando soube dessa história disse logo: ou Buenos Aires ou o look de Rihanna, nem com cristais falsificados comprados na Baixa dos Sapateiros, avisei.

   - Pois vou fazer as duas coisas, respondeu-me na ponta de língua dizendo que já havia contactado com a estilista Raiz Pinharada e lhe passado o modelo via e-mail para que fizesse um assemelhado.

   - Contestei dizendo que, ainda que tivesse capilé para fazer um look parecido ao de Rihanna, onde poderia usar um traje desses na cidade da Bahia, nesse remeleixo da copa onde a devassidão impera.

   - Vou ao Pelô, nos jogos da seleção canarinha, com minha amiga Val Enfa e tenha certeza que vou abalar. Pra dizer melhor, vou causar, entendeu seu bronco.

   - Você vai causar espanto porque não tem corpo pra vestir um look desses de Rihanna e o pessoal vai lhe chamar de mosquiteira, retei-me observando uma foto do vestido.

   - Sabe de uma coisa, vá catar cavaco e vender suas toucas e deixe que eu resolvo minha vida, falou a minha esposa retirando-se para sala.

   Sem argumentos, mandei-me para o Pelô, pois, se tem um lugar que faz minha cabeça, que fico aliviado, que me sinto bem é por lá. Depois do trabalho passei na Cantina da Lua pra tomar uma bramosa e comentei com minha garçonete predileta, Márcia Dendê, a intenção de minha esposa de fazer um look igual ao de Rihanna e ir assistir os jogos da Copa no Terreiro de Jesus.

   - Qué que tem! Acho bom, cada qual sabe o que deseja e ela tem todo o direito de fazer isso, respondeu-me.

   - Ah! você também virou feminista, acha que a mulher faz o que deseja sem o consentimento do esposo, questionei.

   - Acho sim. Se dona Céu deseja se apresentar glamurosa, e o look de Rihanna todo mundo tá comentando por sua beleza, por destacar as curvas do corpo feminino, nada mais justo que ela se apresente assim, ainda mais se o Brasil for hexa. Aí é que ela vai causar mesmo.

   - Vai causar é preocupação, vai causar é despesa desnecessária, vai causar é vexame, porque ela não tem dinheiro pra comprar cristais, não tem capilé pra comprar uma boa renda e no máximo que pode fazer é aquirir um filó aqui no Taboão e encher de lantejoulas, critiquei.

   - Você está é com ciúme. Você tá é com dor de cotovelo porque se dona Céu chegar aqui com um traje daqueles vai ser gringo em cima dela pra dar e chegar, gozou-me.

   - Gringo em cima dela uma zorra! Não vai ter gringo certo. Gringo é pra aprender a jogar capoeira e tocar berimbau, pra tirar foto de igreja, pra comer acarajé com pimenta e sair assoprando a boca, ironizei pedindo mais uma bramosa e vendo que o Pelô, de fato, estava repleto de gringos laranjas e rojos e o melhor seria usar de toda minha autoridade familiar e fazer a cabeça da mulher para que ela mudasse de ideia e comparecesse ao Pelô com roupas da seleção.

   Mandei-me para o Le Biscuit e adquiri uma camisa canarainha com o número 7 nas costas, mandei gravar o nome Dona Céu, a ponta-direita mais veloz do Brasil, adquiri um chapéu com trançado verde amarelo, uma corneta, uma mão guia turistico, um apito, duas pulseiras e cheguei em casa repleto de alegria já comemorando o hexa.

   - Aqui que trouxe pra você. Pra v causar no Pelô - fiz segredo mostrando apenas a sacola da Le Biscuit por fora. A mulher não esboçou mínima satisfação.

   - Se é pra me embromar, pra que eu desista do look de Rihanna se enganou meu bem e saiu cantando essa música de RC dizendo que se eu apareci quente ela estava fervendo.

   - Não gostou? Não é um charme? Olhe essa camisa! Olhe esse chapéu! - falei cheio de alegria dirigindo-me ao quarto onde coloquei o chapéu, a mão e a buzina sobre a cana. Queria fazer uma surpresa.
  Nisso a mulher entrou no outro quarto e fiquei a chamá-la para ver os mimos. De quebra, como sei que ela adora proseco trouxe uma garrafa da Salton e ainda coloquei um pouco de pó-de-pemba em sua taça.
 
   Quando estou arrumando a cama com os brindes, a mulher entra no quarto toda vestida à moda Rihanna, num sapato alto daqueles que promovem um assombro e não resisti: - Mas como você está bonita querida. E vai ficar ainda mais linda se usar esse chapéu que trouxe pra gente comemorar a vitória do Brasil e fui espoucando o proseco. Como Cristiano Ronaldo ao cantar o hino de Portugal, ...às armas, às armas... gritei ...às taças, às taças...e fizemos o maior brinde.

   Nisso o juiz apitou o início do jogo Brasil x Chile e foi aquela tensão, minha Rihanna se entusiasmou no proseco, eu de minha parte usei o chapéu que trouxe para ela, comecei a buzinar na sala, e ficamos alí até o final quando o Brasil venceu nos pênaltis.

   Minha Rihanna ficou tão entusiasmada com a vitória que lá se foi a garrafa do proseco ela já comentando que o Brasil era o melhor time do time, que ela narrava uma partida de futebol melhor do que Galvão Bueno e ficamos por alí, em casa, no sofá na sala, minha Rihanna com seu filó repleto de latejoulas em look assinado por Raiz Pinharada e ninguém foi ao Pelô.

   O pó-de-pemba funcionou direitinho. A esposa pegou no sono antes do JN, eu retirei seus sapatos altos e coloquei o chapéu do Brasil em sua cabeça. Só não tirei uma foto com medo de apanhar no outro dia.