Colunistas / Filosofia Popular
Rasta do Pelô

RASTA DO PELÔ conta como foi seu Carnaval e cinzas em Santa Terezinha

Esposa do Rasta rejeita circuito do Pelourinho e diz que, quem gosta de diversidade cultural é intelectual, e que ela gosta é de pagode
13/02/2013 às 09:50
 Com  as bençãos de Oxalá podemos dizer, eu e dona Celeste, minha santíssima esposa, que fizemos um bom Carnaval.

   É verdade que não consegui a pulseirinha para o camarote da Dani, que era um objeto de desejo da patroa, mas, houve compensações e ela entendeu que, nem tudo é possível para a classe C emergente. Tem seus limites.

   Daí que, em compensação, curtimos todos os camarotes do circuito Barra-Ondina do chão, percorrendo a Avenida Oceânica, nos trios pipoca e nas sobras das cordas. Só não aguentamos ir ao lado do Chiclete porque o pique é muito forte e a mulher tem uns problemas nos joelhos e poderia ficar contundida.

   Também prometi levá-la no Camarote Andante do Brown Cervejão, mas, desta feita ele falhou.

   A gente, portanto, não pode se se queixar de nada. Não levei uma cotovelada sequer, tomamos várias piriguetes e dona Celeste ainda se deu ao luxo de beber vodcka ice, em latinha, aproveitando a promoção de 3xR$10,00. 

   Como havia reservado de nossas finanças R$150,00 para os 3 dias da folia (sábado, domingo e terça - segunda foi de descanso), incluindo o transporte, ficávamos com uma reserva estratégica de R$40,00 ao dia para a comida e a bebida. Deu numa boa. 

   Só passamos uma certa dificuldade no domingo, na Barra, porque a mulher perdeu uma pelegava de R$20,00 e aí tivemos que reduzir tudo, inclusive dividimos o rango no restaurante da Galega, no estacionamento da feirinha do Chame-Chame, um ensopado pra dois.

   Como me dou bem com a galega, que é uma bondosa senhora do Uauá, pedi pra ela caprichar no PF aceitando R$10,00 por tudo, incluindo meio litro de pepsi, e aí deu pra levar. 

   No mais. uma maravilha. A mulher ficou encantada com o camarote do Reino, mais até do que o de Dani e o de Gil, e tive que explicar para ela o significado daquelas colunas gregas e das deusas louras que adentravam no local. A gente até curtiu, de fora, quando o Olodum passou por lá, e ficamos um tempão admirando aquela beleza e o som da banda dos meninos de Sêo João Jorge.

   Até prometi a ela, num momento de euforia, tenho a impressão que foi o efeito das piriguetes, que, em 2014, vou dar um jeito da gente ir pra lá, pro Reino, ou pro 2222, pois tenho um amigo politico da Câmara de Vereadores que conhece Sêo Gil da época em que ele foi edil, e podemos descolar uns convites. Dona Flora há de entender. 

   E, se for pra dar alguma compensação, posso levar meu tamborim e fazer uma tocata na Varanda Elétrica com a filha de Sêo Gil e dona Celeste pode armar sua tenda de tererê e arrumar umas "dendês no sangue", aquelas artistas que só amam Salvador durante o Carnaval.

   A mulher só ficou chateada quando sugeri que passássemos o último dia do Carnaval no Circuito Batatinha, no Pelô.

  - Não tem sentido. Logo no lugar que a gente trabalha! Eu quero ir é pra Barra, pro galamour - protestou.

   - O Pelô é a nossa casa, nosso ganha pão diário, vale a pena - insisti.

   - Não dá. Se até os meninos do Filhos de Gandhy, Neusão do Ó Paí Ó, e a turma do Olodum quer ir para a Barra, para Ondina, eu também mereço - arguiu.

   - No Pelô! meu bem (falei bem carinhosamente), partiparemos do Carnaval da Diversidade, da cultura, das diferentes formas de manifestações carnavalescas emanadas do povo - tentei demovê-la da ideia de ir a Barra.

   - Quem gosta de diversidade e som sinfônico é intelectual. É esse pessoal da Secult, do IPAC, da Fundação Cultural e da Gregório de Mattos. Eu gosto é de luxo, de pagode, de Alinne Rosa, de Claudia Leitte, de rave, dos sons dos camarotes, de Pablo, de Xandy, um amor!

   Não teve jeito. Acabamos mesmo indo para o circuito Barra-Ondina na terça do Carnaval, local que já tinhamos ido no domingo, e diria que foi legal. 

   Brincamos a valer, pegamos inclusive uma carona no som do Filhos de Gandhy, ficamos um tempão em frente do camarote da Dani dançando Ziriguidum, a mulher adorou a roupa de Alinne Rosa e me disse que iria fazer uma igual, babou o camarote da Band e aquelas tvs enormes na passarela dos vips e digo mais que, na descida que a gente fez para a Barra, pegando o buzú via Avenida Centenário, a patroa ficou encantada com o novo Shopping Barra, e me disse que, de agora em diante, só compra roupas nesse templo.

   Mas, tudo que é bom dura pouco e o Carnaval acabou. Emergente só sofre mesmo é no retorno para casa. Porém, como estamos acostumados a pegar buzú, tudo bem. Agora, no final do Carnaval é um horror. 

   Primeiro a gente esperou o dia amanhecer, já na quarta-feira de cinzas, e ficamos um tempão, justo em frente ao Shopping Barra, esperando nosso ônibus. 
 Só não foi pior porque, sendo dona Celeste devota de Santa Terezinha, ela aproveitou a deixa e particpou da missa de cinzas na igrejinha de Santa Terezinha do Menino Jesus, do Chame Chame, e ainda me fez colocar aquele sinal da cruz em cinzas na minha testa.

    E lá fomos nós embora, já passando das 10h, até a Maderada de Ivete Sangalo já dava os primeiros acordões do Arrastão, e chegamos em nosso bairro, na Caixa D'Água, depois do meio dia.

   Quando bati o portão para entrar em casa, eis que, minha bendita vizinha, dona Tati, arreliou: - A festa foi boa na Dani hem Sêo Rasta! que até as cinzas se derreteram do bloco Mataborrão".

   Nada não, com o calor no ônibus, aquele abafamento, a cruz de cinzas se desmanchou e tinha ficado um borrão na minha cara. Só não mandei dona Tati para aquele lugar porque sou um emergente educado.