Colunistas / Filosofia Popular
Rasta do Pelô

RASTA DO PELÔ conta desejo da esposa em ir para camarote de Daniela

Casal emergente da classe C de Lula lá esposa do Rasta não conseguiu tal intento e foi acalmada com a promessa de passar uns dias em Cacha Pregos
05/02/2013 às 12:31
Desta feita comecei o dia ligando direto para meu conselheiro espiritual e econômico-financeiro Badu, o intelectual de bigode, e fui direto ao assunto:

   - Quando lhe digo que a mulher está ficando com a cabeça fraca, abilolada, você põe panos quentes e diz que eu preciso ter mais compreensão.

   - O que foi que aconteceu agora para você me ligar tão cedo do dia?

   - Dona Celeste invocou que quer ir ao camarote de Daniela Mercury neste Carnaval - expliquei.

   - Que é que tem, nada demais! Fale com a promoter dela e arranje um pulseira nem que saiba para um dia. Bem que ela merece - aconselhou-me.

    - Mas como vou conseguir isso! Lá é o camarote da fina flor da society, da elite, de la creme de creme, de gente que possui gigantecard e dona Celeste mal tem o cartão do bomdepreço para comprar nosso macarrão de cada dia - comentei.

    - Você continua com essa cabeça de pobre. Lembre que agora vocês são classe média emergente, integram os 30 milhões de Lula lá, têm status, e no camarote de Daniela tudo é boca-livre, não se gasta um centavo e come-se e bebe-se do bom e do melhor - lembrou-me.

    - Mas, mesmo que arranje a pulsiera, dona Celeste não tem os acessórios adequados! Não tem bolsa Louis Vuitton, não tem cinto YSL, não tem óculos Gucci, e aí nós vamos é passar vergonha - aduzi.

   - Ora! Carnaval é a festa do povo, quer seja no camarote da elite; quer na avenida ou no afoxé Netas do Gongo. Mande ela usar seu all-star, sua bermuda florida da C&A e aquela sandália azual da Azaleia e tudo estará resolvido.

   - Sei que podemos fazer esses disfarces, mas, a questão principal é conseguir a tal pulseirinha que dá acesso ao camarote.

    - Procure seu amigo o jornalista Pig que ele agora é autoridade. Você sabe que autoridade abre portas. Ou então fale com Beto Magundes que também é autoridade e conhece a irmã da Daniela.

   - Vou tentar - me despedi sem mais delongas e fui para meu ponto no Pelô onde vendo minhas boinas rasta. O dia foi legal. Vendi boinas à mancheia aproveitando um Cruzeiro que aportou no cais Dourado de Salvador e mandou foi gente ao Pelô. Até sobrou uma gaita para tomar uma cervejota na Cantina da Lua.

    Com a cabeça preocupado em como conseguir a pulseirinha para o camarote de Daniela conficendiei a garconete Márcia Dendê os meus planos depois de pedir a primeira gelada. E, claro, já falando com certa intimidade, disse a Dendê que minha missão era agradar dona Celeste com a ida ao camarote da rainha Dani da axé.

    - Se assunte! Venha pro Pelourinho que é de graça e vocês podem sair atrás da banda do maestro Reginaldo, ou então vá para a Avenida - aconselhou-me Dendê com cara de desdém.

    E o tempo foi passando, eu me entusiasmando, a terceira cerveja já posta na mesa, a banda mirim do Olodum passou ao largo do Terreiro, deu a volta no cravinho e lá fui eu atrás no ritmo do samba reggae e esqueci de ligar para Pig, nem sabia mais o telefone de Magundes, e quando me dei conta já passava das 10 da noite, peguei a Laranjeira, quebrei pelo Maciel de Cima, cheguei a Baixa e peguei foi meu buzu para não chegar em casa muito tarde.

   Ao chegar em casa com aquela cara de goró, a primeira pergunta que ouvi de dona Celeste foi se tinha conseguido a pulseira do camarote de Daniela Mercury.

   Não sei se entendi errado que ela queria seguir o bloco da pipoca com Edu Casa Nova na Avenida Sete respondi de pronto: - Tá tudo em cima, conseguiu foi coisa melhor.

   - Melhor do que o camarote da Dani duvido! 

   - Sim nós vamos para o camarote andante do Denny, da Timbalada, com o cacique Brown puxando a moçada.
Sêo moço, se não me abaixo no momento certo, tinha recebido nas fuças um abajour de casca de coco que tinha na mesinha de canto da casa, que se espatifou no chão. Pra alcamar os ânimos durou uma eternidade e mesmo assim depois que prometi levá-la, pós Carnaval, para passar uns dias em Cacha Pregos.

    No outro dia, acordei com uma ressaca daquelas de quem engoliu cabo de guarda chuva, e dei conta de que a patroa já tinha espalhado pra vinzinhança que iria para o camarote de Daniela no domingo do Carnaval, dia nobre. Quando vou saindo para o trabalho a vizinha do andar de cima, dona Tati, arreliou: - Chique heim! no camrote da Dani domingo!

    Fiquei sem entender a brincadeira...e respondi de bati pronto: - No camarote do Denny, o andante de Brown na avenida... e levantei os polegares para cima e sai cantarolando ...água mineral no Candeal você vai ficar legal...
 
   Salvo engano antes de fechar o portão de casa ainda ouvi dona Tati dizer: - Pirou.