Política

LOBISOMEM DE SERRINHA homenageia Montagner e revela causos da Bomba

Lobisomem contesta declaração de pescador dada ao Fantástico que relacionou sua raça como assombração no Velho Chico
Lobi da Serrinha , Serrinha | 26/09/2016 às 18:10
O açude da Bomba onde vivia a Traíra Gigante que engolia gente
Foto: DIV
   Um dos fatos mais tristes que aconteceram neste ano com grande repercussão aqui na Serra foi a morte do ator Domingos Montagner afogado no Rio São Francisco, em Canindé do São Francisco, puxado pelo "Nego D´'Água" uma malassombração do Velho Chico.

    Algumas senhoras choraram lágrimas em profusão e não se comentou outra coisa durante mais de uma semana na Barbearia de Soté, muita gente se benzendo e afirmando que esses sobrenaturais existem e devem ser respeitados com todo zelo.

   Como vocês sabem, ou pelo menos têm alguma informação básica, na nossa gloriosa Serrinha não tem rio, nem mar, daí que são poucos os que morrem afogados por acá e a gente tem nossas assombrações próprias - o "Homem Verde do Ginásio", "A Mula sem Cabeça de Sêo João Devoto", "Couro Seco", "A Traira Gigante da Bomba" - e o Velho Chico tem dezenas delas além do "Nego D' Água, tudo tão bem narrado sobre o grandioso rio pelo escritor Wilson Lins, barranqueiro das bandas do Pilão Arcado.

   Quando nosso açude da Bomba era de fato um 'mar' para alimentar com água as máquinas "Maria Fumaça" da Leste Ferroviária e servir de água de gasto para os moradores da cidade, de vez quando ainda morria alguém afogado na Bomba, a maioria, é o que dizem, puxada por uma "Traíra Gigante" que virava canoas e engolia viventes. 

   Com o decorrer dos anos a Bomba foi entulhada, virou um 'penicão' e a traira morreu. Hoje, só mata gente de doenças de vermes e de sistosomas com suas águas fétidas.

   No tempo de Sêo Amadeu, pescador de piabas e corrós, com o açudão à vista, este só pescava na beirada evitando entrar n'água temendo a grande traíra e contava que, por pouco não morreu, certa noite de lua cheia, quando saira para pescar com o filho Messias e sua catraca - que era de pau forte - não tombou n'água com uma investida da "Traira Gigante". 

   Daí que ele nunca mais se aventurou a pescar dessa maneira e ainda avisou a todos aqueles que conhecia dessa temeridade.

   Sêo Miguel pai de Gedinho e Nanci, gente muito conhecida residente no final da Barão de Cotqgipe, próximo da Bomba foi outro que de certa feita quase morre sugado pela bocarra da traíra. 

   E hoje seus filhos e amigos lembram do falecimento de Santo, de Velho Chico, astuciando que assombrações de rio, de mar, de açudes, de grandes aguadas, é coisa do outro mundo e existe mesmo. 
 
   Daí que Santo, sem saber desses mistérios, lá se foi puxado por um ser em Canindé do São Francisco, ao que parece, pelo menos pelo depoimento da atriz Camila Pitanga, que uma 'coisa' puxava suas pernas para o fundo e ele não conseguia nadar.

   No Fantástico do último domingo, teve um pescador ribeirinho do Velho Chico na banda das Minas Gerais, que falando dessas assombrações jurou de pés juntos ao repórter Francisco José, que seu pai lutara com um lobisomem que queria levá-lo para o fundo do rio. E teria até usado de uma peixeira para se livrar do lanzudo. 

   Achei a hisória furada porque nossa familia não é disso. Eu mesmo resido nas proximidades do Pontilhão da Bomba e nunca puxei ninguém por fundo do açude, nem mandei puxar. Algumas pessoas ainda ficam querendo agourar nossa familia de lobisomens, nós que somos de paz e amor, e não afogamos ninguém. Essa conversa do pescador de Velho Chico é pura mentira. Até porque somos mais da terra, da mata, e água não é nosso forte.

   Casos eu sei muitos de gente que morreu na Bomba, uns afogados devido a bebida alcoólica, outros por tiros de espingarda, outros porque não sabiam nadar, uma vez que sou do tempo em que doutor Miguel Nogueira subia a ladeira do alto da Bela Vista andando de costas. Quem visse o doutor nessa situação, poderia até achar que ele era um malassombrado, mas, disso ele não tinha nada, e dizem que também saia de casa às noites altas para pegar marinheiras, um peixinho miúdo, nas águas da Bomba.

  E segundo Jorge CUC teve o caso do finado Roldão, dito assim finado porque obviamente já morreu, e ninguém sabe porque todo mundo só trata ele com o epiteto de Finado Roldão, e este foi se aventurar em dar umas nadadas nas águas da Bomba, mas, advertido que foi pelo vigia da Leste, cujo nome acho que era Anacleto Conceição, "de que não poderia tomar banho ali que era proibido", Sêo Roldão não deu a mínima e quando se dirigia para mergulhar nas águas na altura da Caixa D'Água, diria que nu ou semi nu, porque ninguém usava sunga na Serrinha, recebeu um tiro nas costas e morreu com a boca cheia d'água.

   E foi um caso rumoroso que aconteceu na Serra e que acabou não dando em nada porque o vigia foi absolvido, uma vez que Roldão teria desobedecido sua ordem. Mas, como a justiça divina tarda mas não falha, certa feita esse mesmo vigia tava jogando uma partida de sinuca no bilhar de Sêo Jardineiro, no Beco da Lama, e se desentendeu com seu parceiro de jogo. Daí que levava na cinta um facão de sete polegadas e na hora que puxou o facão da bainha para dar uma lição em seu adversário, e que fez movimento de vai e vém com a arma branca, ale tinha posto a bainha de lado errado e o este deu um corte em si mesmo e sangrou uma veia embaixo da virilha e morreu ali mesmo no sinuca.

   E teve o caso de Sêo Guinha, operário que trabalhava na Serraria de Sêo Benedito, que morava nos arredores da Bomba e numa certa boquinha da noite, uns colegas seus foram até a padaria de Sêo Peixinho, compraram meia dúzia de pães cacetinhos e deram um carreirão em Guinha. 

   E dizem que essa turma usava máscaras ou eram seres do outro mundo, e perseguiram Guinha e a certa altura este caiu na entrada do curral de Sêo Ambrósrio e um dos camaradas, o mais ousado, passou um pão cacetinho com alguma força no derrière de Guinha. 

   Este, aflito, postado no chão, gritou para Sêo Ambrosio. - Socorro que cortaram meu lofote.

   É isso que narro fazendo nossa homenagem ao saudoso autor Domingos Montagner, que Deus o tenha em bom lugar, e Dona Camila que acenda toda semana umas velas para o Nego D´Água porque, por pouco ela também não iria para o céu. 

   Deus seja louvado e o Demo também.