Colunistas / Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha

LUBI ENSAIA PARA O 'THE VOICE' COM A AJUDA DOS RITUAIS DE SUA NETA SOL

Lubi ensaia música de Catulo da Paixão para impressionar Le Feirth r conquistar os jurados do 'The Voice'
01/11/2020 às 20:24
  Imaginava em meus pensamentos criativos que o ciúme fosse um reação dos vivos que perambulam pela terra - como pareço ser ingênuo meu cativo leitor, minha amada leitora - e descobri, ainda bem que a tempo, que essa atitude complexa acomete as almas do outro mundo e tomei conhecimento desse fato - eu que ando a escrever depoimentos de vivos e mortos - através de um mensageiro do Marianno Sylvio Ribeiro, primeiro alcaide da Serra (1891/1893) dizendo que o político pioneiro estava chateado comigo, pois diante dos meus escritos ainda não o havia citado para uma entrevista entre as que já divulguei.
Peço desculpas a eminente alma bondosa por não o ter citado, mas, claro, está na minha lista dos a ser entrevistados.

  Tratar de tema tão delicado exige paciência, conhecimento da história, discernimento.

  Contudo, como alma pode ter ciúmes?

   Imaginem vocês que situação vexatória me encontro entre a cruz e a caldeirinha. O Marianno poderia deixar isso para os historiadores que o colocaram como relevante personagem da Serrinha.

  Ainda assim, seu mensageiro de luz disse-me que habitou em vida numa casa que existia no Largo do Castelo do Pai Geza, se mantém na memória dos estudiosos, não do povo, coitado, este sabe pouco da Serra, segue a ser enganado com cisternas e carros de Polícia, e quer falar-me que seu cachorro 'charuto" foi enterrado neste local onde anos depois foi a Usina de Energia Elétrica, hoje, área da Casa Paroquial, e gostaria de um resgate desta amizade para ser sepultado no Acácias da Maçonaria.

   O irmão de luz - corpo branco do espírito - já pertenceu a esse mundo - prefiro manter seu nome em reserva, em segredo, hoje, atua noutra esfera espiritual e, resulta que, além de Marianno a ser conversado há outras almas a serem ouvidas e exaltadas e falou-me ou lembrou-me de algumas delas, a nominar a professora Astrogilda Paiva Guimarães, o homem das leis Artur Machado, o maestro Vianinha da 30 de Junho, o professor Piedade e Dodô do Violão, seres abnegados da Serra.

  A Ester, a qual acompanhava minha meditação em silêncio e preparava umas bundas de tanajuras fritas e licuris no forno para degustarmos com um cabernet sauvignon assistindo 'The Voice Brasil' com o Leifert, ligou a TV e perguntou se eu já tinha voltado ao mundo dos vivos, cutucando-me com minha bengala para eu sair do transe em que me encontrava, e espocando a rolha do red.

  - Calma, mulher! V está parecendo o meteorito que caiu no mar de Pratigi, Baixo Sul da Bahia, que assustou meio mundo entre Morro de São Paulo e Ituberá, falei.

  - Ora, se não acordo desse transe você a conversar com essas almas penadas que andam soltas no universo, até Carlinhos Brown já acordou até o público virtual do 'The Voice', com sua saudação ao Filhos de Gandhy.

  - Não exagere. Ademais, são almas que grandes realizações fizeram a nossa comunidade, vivazes, não penadas, sábias, Lá que Sabe, de maneira que estou atento a não perder de vista a beleza da Isa, o look do Teló, o charme do Lulu, e os cantores e os cantoras brasis em busca da fama.

  - Uma hora dessas é capaz de v querer ir se apresentar no 'The Voive'. Não duvido nada. Depois que sua neta Sol anda fazendo rituais com cartas do tarô à Baba Yaga para v melhorar a voz e disse que está surtindo efeito e cantando melhor, mas ainda sofrível, imagino que esteja a mandar um vídeo para o Leifert com essa voz de taboca rachada interpretando alguma música do Catulo da Paixão.

  - Enganas, minha marquesa dos alpes serrinhenses, atestado pelo Claus que sou barítono com falsete dos melhores e caso envie algo ao 'The Voice' será do Tom Jobim ou do João Gilberto. Ou mesmo, diria, alguma música em inglês escolhida pela Sol, do U2, do Led Zepelin do Sttones, ela que agora só habla na língua de Sheakespeare.

  - Vai ser gongado antes mesmo de chegar ao palco, nas preliminares, a direção do programa certamente a evitar esse dissabor. Imaginando que chegues ao palco e seja aprovado por um daqueles 4 jurados, alguém que bateu a mão errada no botão vermelho e a cadeira virou, para alegria do Leifert, que é educado e vibra com todos aprovados, no momento em que o jurado perguntasse quem você escolheria, surdo como estás, iria responder que não é filho da dona Maria.

  - Zombas deste artista da voz timbrada, gogó de prata, mas tenho certeza que ficaria orgulhosa com a minha aprovação dando pulos de alegria. Não só vós, elegante senhora, mas centenas de minhas fãs.

  - Só rindo de sua audácia. Estás mais voluptuoso do que o messias, o qual bateu recorde em trapalhadas nesta semana, primeiro sinalizando a privatização do SUS e depois insinuando ser um 'boiola' como os maranhenses diante do refrigerante cor de rosa, famoso na terra de Alcione, o Jesus.

  - De política, não falo. Estamos às vésperas de pleitos importantes nos EUA e no Brasil na ante sala do feriado do Dia dos Finados, a iniciar com júbilo o mês da consciência negra, daí que prefiro me manter no mundo dos vivos interessando-me apenas pelos espíritos de luz que muito fizeram por nossa comunidade.

  - Mas você não votou no 'home'! Não saiu com a bandeira do Brasil enrolada no corpo para manifestações na Nogueira dos Oitis! Não disse que o profeta iria fazer isso e aquilo, turbinar Pindorama, elevar nossa autoestima e eis que, o arroz está a 10 pilas o quilo, uma pelega de arara, o cacetinho que comprava 10 unidades por 5 reais, uma garça, agora são elas por elas, estamos pela hora da morte na cesta básica a beira de uma Venezuela com 14.4% de desempregados.

  - Tudo vai se resolver com parcimônia. Cada dia sua agora. Primeiro, vão resolver se comprar a vacina chinesa ou não, um diz que compra; o outro que não depois ver-se-á essas outras questões. O importante é que temos nossa rocinha de batatas doces, de aipim, nossa horta com cenoura e tomate, nosso pezinho de café, o leite da Mimosa, o queijo artesanal, a Jurubera Leão do Norte, e mesmo que o dólar chegue a 10 reais, uma arara, sobreviveremos da hecatombe.

  - Tá bem. Tá bem. Pegue a viola, ponha o aparelho no ouvido e vá treinar Luar do Sertão. 

  A Ester, ao que tudo indica, se convenceu de que devo, de fato (e de direito) com a ajuda dos rituais da Sol participar do 'The Voice'. Peguei a viola dei um ré maior, enchi os pulmões de ar, amoleci o palato como me ensinou o professor Claus e soltei a voz: - Não há, ó gente oh! Não!/ Luar como esse do sertão. 

  Apurei o ouvido, a Ester acorreu a varanda e um lobo do Morro do Fundo começou a uivar.