Colunistas / Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha

LOBISOMEM DE SERRINHA apadrinhou o casamento de Ioiô Turiba e Grãfina

Festa belíssima na fazenda do meu compadre Lapa, na Coité do Lapão, em terras do Turcano do Buraco do Vento onde tudo é mistério e assombração
14/07/2014 às 12:47
Nos festejos juninos deste ano tive a honra de ser padrinho do casamento de Ioiô Turiba com a senhora Ingrácia Grãfina, a viúva Gracinha do Cajueiro, enlace que se deu na Capela de Santa Izabel na Fazenda Coité do Lapão, propriedade do meu compadre Fernando Lapa, nas terras do Tucano, próximo do assombroso Buraco do Vento, local que diz o povo penetrando lá nele chega-se ao Japão a pé caminhando por uma trilha. 

   Tanto que algns lobisomens e vampiros amigos meus residem por lá e já foram homenageados na Câmara tucanense pelo vereador Beleléu.

   Foi um matrimônio que reuniu a fina flor do Tucano, do Cajueiro, de parte de Euclides, do Tanque do Rumo, da Tabua, parentes nossos dos penedões, dos lapões, dos quijingões, dos jorrões, gente que nunca mais tinha visto e que compareceu em peso ao matrimônio de Turiba com a senhora Grãfina cerimônia celebrada pelo padre Passos, de familia do Pombal, e que contou, também, com presenças de líderes comunitários, alguns politicos selecionados a dedo, tudo regrado a licor importado da Serrinha, de Dona Leda, de amendoim japonês, milho assado, cuscuz e um carneiro que foi ofertado pelo dono da fazenda.

   Festa belíssima com a noiva envergando um vestido branco e um véu cor de bufa e Ioiô vestido a caráter, de vaqueiro, com gibão de couro, chapéu, luvas e tudo mais que teve direito. 

   No momento da cerimônia a noiva foi às lágrimas, pois, a essa altura da vida, ela que já tinha passado dos 70 anos e fechado o balaio não esperava mais contrair novas núpcias com gente tão boa com era Turiba, nascido no Cajueiro, homem de raiz, homem de palavra, e que poderia ainda lhe dar muitas alegrias.

   Por posto, entre as garrafas de licor que Dona Leda havia despachado para a festança ela adicionou um botijão de 10 litros da legitima água de Serrinha contendo cantáridas, uma beberagem afrodisíaca, para que Turiba fizesse uso adequado não só para o ato libidinoso na lua de mel, que seria passada no Hotel da Senhora Penedo, no Jorro, como também para uso contínuo fazendo com que a senhora Grãfina ficasse sempre alegre no decorrer do mês.

   Inclusive a senhora Leda adicinou um bilhete junto ao botijão dando seu telefone para a venda de licores e também para quem quizesse encomendar os tais garrafões da água benta, entregue a domicílio por um senhor chamado Joaquim que fazia corrida de aluguel. Em tempo, oferecia também bolos de laranja e milho feitos por sua netinha Sol.

   O certo é que foi uma festança muito glamurosa, apesar do ciúme de Vado, que já havia namorado dona Grãfina, dizendo o povo que ela havia lhe dado uma touca de touro, o que ninguém acreditava porque ela era de linhagem honrada, mas, Vadinho, que não é brincadeira dizia que ele era chifrudo, e daí que surgiram cada causo no evento que, se eu não fosse um Lobi bastante experiente, de idade avançada, eu nao acreditaria.

   Dizia um camarada chamado Juarez que um cidadão de nome Tilvero, camarada de poucas palavras, fora convidado para comer um peru na Tabua na casa de uma comadre e quando o dito chegou lá outros tantos já haviam devorado o tal do peru, e Tilverão ficou irritado, azucrinado quando viu tal cena, o caldeirão contendo no seu fundo só um resto de caldo, e aí sacou de um punhal e a comadre correu pro terreno pensando que ele iria lhe matar, mas, qual nada, ele apunhalou foi o caldeirão, e saiu bufando pela porteira, pegou sua mula, "amuntou" e se mandou sem dizer palavra.


   A roda da conversa tava era boa. A música correndo solta, baião, xaxado, e o povo dançando e Turiba trocando beijos com a noiva e já pesnando como se deslocar para o Jorro na carona do carro do padre Passos, a fim de acontecer a lua de mel, sendo que antes ainda iria passar no Jorrinho para assistir o furdunço junino da jega de caçola.

   E a conversa foi se prolongando e entrando noite à dentro e contaram que, certa ocasião havia no casarão do finado Catão uma assombração dos pecados, uns dizendo que era um lobisomem que aparecia em tempo de lua cheia para comer cabritos; outros contando que quem andasse na estrada que margeava a casa tinha que passar pisando no alto porque toda noite um vulto aparecia tocando sanfona e era a maior assombração da terra, e o vulto tocava músicas de Luiz Ginzaga e Dominguinhos.
  E narrou-se o causo do camarada que assou dois cardeias para conquistar uma noiva e quando deu conta do assado já estaria na barriga do cunhado, havendo a maior confução e o camarada perdendo a conquista. 

   Nisso minha esposa EsterLoura me chamou pra dançar e quando olhou pro trio de tocadores cochichou no meu ouvido que só estava enxergando o zabumbeiro, um homem alto chamado Nicolau e o tocador de triângulo, um rapazote de nome Kel, e que o sanfoneiro era invisível, mas cantava e tocava "Riacho do Navio" de Luiz Gonzaga.

   Então pediu pelo amor de Cristo que eu olhasse pra aquela cena, uma sanfona solta no ar com fole abrindo e fechando, e uma voz misteriosa ecoando no salão. E Ester começou a tremer as pernas de medo e aí falei pra ela:

    - Deixa de bobagem Ester é o sanfoneiro malassombrado do casarão de Catão, ninguém nunca viu sua cara nem vai ver, mas o homem é bom de fole.