Crônicas
Jolivaldo Freitas
02/09/2015 às  10:50

A Superlua, os cães, os lobos, os malucos e outros

JF é ditor do site Notícia Capital


Todo mundo sabe que quando a lua está cheia, e pior: se for o mês de agosto, é mês e lua de cachorro louco e de quem é fraco do juízo. Os cães, levados pelo reprimido instinto selvagem dos seus antepassados lobos cinzentos (Canis Rufus) do Ártico, da Ásia; os menos domesticados sobem nos
bancos das praça, adentram a pouca mata urbana, chegam à varanda, espicham o pescoço pela janela do apartamento; da cozinha e uivam em direção à lua e aguardam o eco produzido por outros da sua mesma raça, que possa vir de lugares longínquos que habitam suas reminiscências.

   Os cães mais domesticados (Canis lupus familiaris), olham a lua como algo meramente etéreo, de uma imagem que se desfez nas brumas do tempo e se recolhem à uma mudez melancólica, sem entender ao certo o sentimento, a energia, o frisson que invade seu corpo e sua mente, deitam e procuram dormir
enquanto a lua passa lentamente por sobre seu telhado jogando velhas e temerárias sombras. 

   Os domesticados menos acomodados, que ainda guardam na gaveta da memória flashs do seu instinto selvagem e se vêm em longas pradarias ou correndo solto no deserto, nas taigas, savanas e tundras (como os lobos) seus irmãos, estes sim, enlouquecem correndo atrás do próprio rabo, salivando,
mordendo as patinhas, se automutilando. Se a espuma da baba engrossa é sacrificado sem que seu algoz se lembre que é da sua natureza, especialmente quando é Superlua em pleno mês de agosto.

   E os loucos? Assim como os cães, vadios ou domesticados, os lobos, conduzidos pelo espírito selvagem dos seus antepassados que viam no escuro o retrato do medo e que viam na lua a presença de um ser maior e indizível, o homem, mesmo depois que alguns iguais pisaram seu solo em viajem pelo nada em mais de 380 mil quilômetros, e trouxeram nacos de pedra e sacos de pó, ainda reverencia a lua como algo inacessível, chamativo e inebriante. 

   Os homens normais procuram transformar a lua em algo papável; dar-lhe algum tipo de utilidade ou eficiência, seja como objeto de romantismo ou preciosidade científica e transformam seu disco luminoso num, espetáculo a seu serviço e à sua sensibilidade. Os homens (mais sensíveis?) mais desequilibrado não entendem a lua, não a decifra, não lhes acham utilidade e definição palpável da sua luminescência ou esfera; de estar como um balão brilhante; ela solta ao leu. 
E quando chega a Superlua, no mês de agosto que o brasileiro classifica como “mês do desgosto”,
se abespinha, encolhe, o sangue ferve a cabeça empana e enlouquece; e se hoje os homens da Ciência dizem que é mera coincidência, os doutos de antigamente viam na loucura a presença eletromagnética da lua, as emanações de energias negativas que levavam à loucura. 

   Mas o que dizer dos homens que com a Superlua brilhando esplêndida e magnífica na janela da sua casa, do apartamento, não se deram ao trabalho de levantar da poltrona, de abrir a porta da sala de aula, de sair um pouco do escritório, de levantar da cama ou deixar os afazeres, as redes sociais o wathsapp e se conformaram em assistir o espetáculo inenarrável da Superlua com todo o seu brilho e esplendor pela televisão. 

   A lua ali, ao alcance dos olhos e os olhos presos na tela que emitia a Superlua em fótons, plasma, pixel,
hertz, feixes e elétrons. Tudo em alta definição. E a lua ali, insisto, a um virar de cabeça, a um olhar para o firmamento iluminado, a dois passos da sala, nua, linda, natural e virgem. 


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