Política
Tasso Franco
03/11/2012 às  17:41

SALVADOR disse a MK que o deseja apenas como radialista

MK não conseguiu polarizar com Pelegrino e ACM Neto nas eleições de 2012


O candidato do PMDB no 1º turno das eleições municipais em Salvador, Mário Kértész, obteve 9.43% dos votos, total de 121.894. Quando lançado seu nome pelo PMDB para concorrer ao pleito pelos irmãos Vieira Lima, Geddel e Lúcio, este último presidente do partido na Bahia, a expectativa era de que MK pudesse participar da polarização entre ACM Neto (DEM) x Nelson Pelegrino (PT) representando uma terceira força, quiça uma segunda, para ter forte influência no 2º turno, como aconteceu, com Neto, em 2008, decisivo no confronto entre JH x Walter Pinheiro.


   O que então teria acontecido para MK não ter deslanchado a ponto de ter esta influência e até chegar ao 2º turno como um "outsider", um nome que estava fora da politica, mas, com raízes nesse segmento?

   Vamos à história:

   MK nasce para a vida politica depois de ser secretário do Planejamento, governo de ACM (1971/74), aos 26 anos de idade, quando coordenou a implantação do CAB, do Parque Metropolitano de Pituaçu e da primeira fase de recuperação do Centro Histórico. Entre 1975 e 78, quando Roberto Santos foi nomeado governador da Bahia segue com ACM para a Eletrobras sendo seu chefe de Gabinete.

   Do Rio, ambos retornaram a Bahia, ACM como governador para mais um mandato (1979/1983) e MK como prefeito nomeado para Salvador, nesse mesmo período. 

   Jovem, inovador, MK faz uma gestão que mexe com a cidade e as estruturas metálicas do arquiteto Lelé, o programa de escadarias, as ações culturais com aproximação ao continente afro e tem grande destaque na midia. 

   Isso, de certa maneira, provocou uma ciumeira em ACM, o qual se considerava (e era) o todo poderoso na Bahia.

   Quando se iniciaram as preliminares da sucessão estadual, primeira votação direta ainda com a Lei Falcão (não havia debates na TV e só se colocava o curriculo resumido dos candidatos), ACM sinalizou que queria o seu amigo e ex-prefeito Clériston Andrade para substituí-lo. MK fez de conta que essa preponderância não seria pra valer e também sinalizou que gostaria de ser o candidato.

   A questão é que o espaço só dava para um dos dois. Em determinado momento, ACM chamou-o e disse que o nome era Clériston. MK se indispôs e renunciou ao mandato e/ou foi renunciado. Por ironia do destino, com Fernando Wilson Magalhães o substituindo na prefeitura, também nomeado por ACM e os militares, Clériston morre num acidente de helicóptero, em campanha, e ACM põe João Durval em seu lugar, eleito governador para o período (1983/1986).

   Há quem diga, sem a devida certeza, que se MK tivesse sido paciente, diante da morte de Clériston teria sido o governador. 

   O fato é que, em 1984, MK ingressa no PMDB e elege-se prefeito de Salvador contra o deputado Marcelo Cordeiro, o qual teve apoio (por debaixo) de ACM e de Jorge Hage, ligado a Roberto Santos, o qual também tinha sido afastado da prefeitura (governo RS) por discordar da politica robertista/militarista.

   A eleição de MK foi uma aclamação. Fez um governo ainda melhor da Prefeitura ampliando suas ações administrativas, mas, derrapou na sua própria sucessão ao tentar emplacar Gilberto Gil (Waldir Pires governador foi contra) e teve que se aliar a Pedro Irujo elegendo Fernando José (1989/92), o mais popular radialista da Rádio Sociedade.

   MK ainda tentou voltar a prefeitura pelo voto direto, em 1992, mas, desgastado com FJ e denúncias de que teria deixado a cidade endividada até o ano de 2014, perdeu para Lidice da Mata (PSDB), tendo ACM apoiado nesta eleição Manoel Castro.

   A partir desse momento, MK desistiu da vida político partidária (expressão usado pelo próprio) e montou um projeto de comunicação com a rádio Cidade, depois Metrópole, um jornal, blog, site e experiências de apresentador de TV. 

   Emplacou mesmo foi como radialista. Deu uma nova roupagem ao radialismo baiano, até então comprometido até a alma e bajulatório, para um radialismo mais critico, de conteúdo, inclusive abrindo espaços para todos os segmentos da sociedade, inclusive no campo político.

   MK se firmou como o mais influente radialista da capital sobretudo nos segmentos da classe média e classe média alta e levava vantagem sobre os demais exatamente por debater os problemas de Salvador e da Bahia sem paixões politico partidárias e com conhecimento de causa, abrindo espaços para todos, num debate franco e aberto. 
   
   Pagou até um preço alto por essa ousadia, digamos assim, indispondo-se com dirigentes no governo do estado e prefeitura de Salvador, no campo da midia institucional.

   MK também disse diversas vezes em sua rádio que estava feliz da vida com o radialismo e a política partidária estava fora dos seus planos. 

   Em 2012, no entanto, vendo Salvador aos cacos, mudou de idéia e começou a veicular na sua rádio o jingle "Deixa o Coração Mandar" que fez tanto sucesso, em 1984, com Valtinho Queiroz, montou um programa de entrevistas com chamadas em outdoors onde sua figura se destacava mais do que o entrevistado (foi punido pela Justiça Eleitoral) e, finalmente, topou ser candidato do PMDB.

   Na inicial, as oposições marchariam com ACM Neto (DEM), Antonio Imbassahy (PSDB) e MK (PMDB) e teria havido um acordo no qual, após o Carnaval, quem estivesse melhor situado (não se conhece com detalhes os critérios desse acordo e cada qual teve opinião diferenciada um do outro) seria o candidato. 

   Chegou o Carnaval e nada. MK, então, retirou seu nome. Depois, voltou a colocar no tabuleiro, já como irreversível e pelo PMDB independente da posição de Neto e Imbassahy.

   Neto, de sua parte, se aliançou com Jutahy Magalhães Jr foi a SP e detonou a candidatura Imbassahy, via diretório nacional do PSDB. A equação estava resolvida: os candidatos seriam ACM Neto (DEM/PSDB/PP) e MK pelo PMDB.

   A essa altura, campanha nas ruas a partir de 7 de julho, nos bastidores ACM Neto com pesquisa interna dando-lhe 41% de preferência do eleitorado (confirmada pelo Ibope em 2 de agosto), MK se lançou com marketing político de boa qualidade, ótimo jingle, peças de rua chamativas destacando o coração (emoção) e caminhadas nos bairros com os candidatos a vereadores do PMDB. 

   No início de agosto, MK tinha um número de intenções de votos assemelhado ao de Pelegrino na faixa de um dígito (6%/9%). 

   Quando começou o horário da TV, em nossa opinião, deu-se o primeiro erro de marketing de MK (repetido nos debates) ele se apresentando muito professoral, uma espécie de dono da verdade, experiente, acima dos demais candidatos, aquele que poderia resolver os problemas de Salvador.

   Na avaliação interna de grupos qualitativos que tive conhecimento essa postura de MK não agradou ao eleitorado de uma forma geral e a classe média o rejeitou (em parte) na medida em que, deixou o radialismo (a sua grande paixão e onde a classe média se amparava) para se tornar um político, um ente igual aos demais. Sua credibilidade, em tese, foi para o espaço.

   Em setembro, Pelegrino descolou de MK em termos percentuais e se aproximou de Neto. A partir daí, MK consertou seu  marketing e a postura na TV, agora menos professoral e mais didático, mostrando suas realizações e se apresentando mais humilde, mas, a população já tinha polarizado a campanha entre Neto xPelegrino, e dava sinais de que, gostaria, sim, que ele continuasse o crítico, o independente, mas, como radialista.

 Quando as urnas foram abertas, Neto teve  40.14% dos votos (518.976), Pelegrino 39.73% dos votos (513.350); MK 9.43% (124.894); Márcio Marinho 6.51% (84.094); Hamilton Assis 2.60% (33.650); e Da Luz 1.56% (20.143).

   A votação de MK não foi decepcionante. Pelo contrário. Para quem estava 19 anos afastado da política representou um feito e tanto e o PMDB elegeu dois vereadores Alfredo Mangueira e Pedrinho Pepê. 

   No segundo turno, quando se esperava que MK fosse seguir a direção partidária do PMDB, decidiu apoiar Nelson Pelegrino (PT), uma ação pessoal que desgastou sua imagem, ainda que seja de direito. O PMDB (o partido e seus vereadores) apoiaram ACM Neto, o eleito.

   Agora, MK jura com todas as letras, que volta para o radialismo (já voltou) e não se arriscará em nova eleição. 


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