Política
Tasso Franco
03/11/2012 às  17:39

VITÓRIA DE NETO traz de volta o "carlismo" simbólico

O "carlismo" conceitual da era ACM esse não tem mais espaço na Bahia


 A vitória de ACM Neto para prefeito de Salvador (2013/2016) representa o retorno do "carlismo" (de Antonio Carlos Magalhães, ACM, avô de Neto) à cena política? 

   Simbolicamente, sim; conceitualmente no modelo em que foi gerado o "carlismo", não. Diria até que para segmentos radicais do "carlismo", conceitualmente representa esse retorno, mas, trata-se de uma minoria mais antiga e que não tem abrigo na maioria hoje comandada por Neto.

   Vamos à história. ACM nasce para politica como assessor parlamentar e deputado estadual, em 1954, pela UDN, e chega a Câmara Federal em duas legislaturas 1958/1962. Em 1967 é nomeado pelo regime militar prefeito da capital (1967/1971) quando promove a reforma urbana implantando as avenidas de vale e a Paralela rumo ao Litoral Norte. 

   Tem um episódio curioso nessa história: governava a Bahia, governador também nomeado, Luiz Viana Filho e ACM quis colocar o nome do governador na Paralela. Viana Filho recomendou que colocasse o nome do seu pai Luiz Vinna, o qual também fora governador no final do século XIX. Assim foi feito. Mas, até hoje, mesmo nos endereços oficiais do estado (governadoria, assembleia, etc) a avenida é postada como Luiz Viana Filho. Coisas da Bahia.

   ACM substitui Luiz Viana Filho no poder estadual entre 1971/1974. Depois, os militares nomeiam Roberto Santos para o período 1975/1978; e ACM retorna ao poder entre 1979/1982. 

   Político mais poderoso no estado, ACM preparou Clériston Andrade (ex-prefeito da capital e seu aliado) para substitui-lo no governo na primeira eleita direta (1982), ainda sob a égipde da Lei Falão. Clériston morre num acidente de helicóptero e ACM coloca João Durval  em seu lugar, faltando 40 dias para as eleições, este sendo eleito, mas ACM controlando boa parte do seu governo (os cargos chaves, inclusive a Fazenda, com Benito Gama).

  Então, nessa primeira fase de sua vida politica, ACM deu as cartas em Salvador e na Bahia por 16 anos, mas, ainda assim, era um politico regional.

   Aí vem a segunda fase. Nas eleições de 1986, já sem a lei Falcão, democracia plena com marketing politico na TV, Waldir Pires (PMDB) vence Josaphat Marinho (PFL) o candidato de Durval e ACM. 

   Waldir chegou com tudo e falou-se, inclusive, que seria o fim político de ACM, quando já se usava a expressão "carlismo". Waldir fracassa, passa o governo para Nilo Coelho, e ACM retorna ao poder, pelo voto direto, em 1990, contra Roberto Santos (PMDB).

   Vai ficar mais 16 anos no poder elegendo Paulo Souto (1995/1998), César Borges (1999/2002), Paulo Souto (2003/2006) e se tornando uma personalidade politica nacional, em parte, graças a ascensão do seu filho Luis Eduardo Magalhães, o qual se tornou mais importante do que o pai (politicamente, em BSB), junto a FHC.

   ACM perde a hegemonia na Bahia, em 2006, com a eleição do petista Jaques Wagner (2007/2010), reeleito para (2011/2014). Entre 1995 e 2007, quando faleceu, foi senador da República, mandato concluído por seu filho ACM Jr (pai de ACM Neto).

   No total, ACM comandou Salvador (em parte) e a Bahia (no total) durante 32 anos quando o "carlismo" se tornou uma espécie de legenda. 

   Outras "legendas" nesse estilo, o "seabrismo" de JJ Seabra; o "juracisismo", de Juracy Magalhães; e o "vianismo", de Luiz Viana Filho foram superados. Quem mais se aproximou dese modelo foi o "juracisismo" ainda hoje com um representante na Câmara Rederal, o deputado Jutahy Magalhães Jr.

   Todo mundo sabe no meio político que o "carlismo" tem bases no regime militar e viés autoritário. Há casos e mais casos dessa atuação mandonista de ACM deste chute na canela de correligionários, pitos públicos, imposição de nomes, controle do judiciário e dos tribunais de contas e assim por diante.

   A base conceitual do "carlismo" era obedecer ao chefe, dizer amém sem questionar e fim de papo. Que eu saiba, só um dos seus partidários, assim mesmo em sua segunda gestão como governador, Paulo Souto, deu testa parcial ao "velho" elegendo Clovis Ferraz presidente da Assembleia e praticamente impondo sua nome para concorrer com Wagner, em 2006. 

   Imbassahy teve essa oportunidade, em 2003, na greve do buzu, quando foi criticado publicamente por ACM no Correio da Bahia, mas, recuou. Resultado: perdeu a chance de fazer seu sucessor na Prefeitura, quando ACM impôs César Borges, o qual não tinha empatia com a capital e não era simpático (politicamente) a ele e a Souto.

   Por ironia do destino, hoje, é Souto que comanda a transição na Prefeitura do Salvador a pedido de ACM Neto.

Óbvio, portanto, que a sociedade se mexeu, as organizações sociais estão mais estruturadas, a ditadura militar terminou em 1984, o Brasil vive o seu mais longo período democrático da história, e ACM Neto nasce para a política nesse periodo (2002), herdeiro, em parte, mas com seu brilho próprio, dos votos e pensamento politico e filosofico do seu tio, Luis Eduardo Magalhães, filho de ACM, reconhecidamente um deputado que sabia ouvir, bom negociador e presidente da Câmara, morto precocemente. .

   Por isso mesmo, existem indicativos seguros de que o retorno do "carlismo" é apenas simbólico com a vitória de Neto, mas conceitual, no modelo ACM chutando a canela e impondo sua vontade, autoritário, mandonista, não há mais espaço para esse tipo de comportamento.

   E ACM Neto, mais do que todos nós, sabe disso, tanto que na campanha a prefeito raras vezes falou no seu avô, só quando provocado, e Pelegrino cometeu o erro de trazer aquele velho "carlismo" mandonista ao debate, talvez apenas para agradar sujas bases radicais, sem entender os novos tempos e sem agregar valores (votos) porque uma grande parcela da população já está em outro giro. 


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