Política
Tasso Franco
22/04/2010 às  09:05

PRIMEIRO OS MEUS, DEPOIS...

Depois, se sobrar, fica alguma coisa para a oposição


Como havíamos previsto neste espaço, a aprovação do projeto de lei que autoriza o governo da Bahia a efetivar empréstimo de R$563.7 milhões junto ao BNDES para recompor seu caixa de investimentos abalado pela crise financeira de 2009, se constituiu numa "batalha" entre a base governista e a oposição na Assembleia Legislativa. E mostrou que, se não fossem manobras regimentais utilizadas pela Mesa, muito esforço do líder do governo, deputado Waldenor Pereira (PT), e uma ação pessoal do governador que teria ligado para todos deputados governistas, o projeto não seria aprovado.             Diz-se que, reza a tradição na Assembleia, momentos como os praticados na Casa Legislativa nas últimas 72 horas sempre existiram e vão existir em sua história. A questão é que o atual governo está com sua base de apoio fragilizada desde que o PMDB/PR/PSC tomaram outro rumo político, não tem mais maioria em algumas comissões importantes, e a votação em plenário mesmo usando os trunfos regimentais do Artigo 178 e outros apelos ficou apertadíssima. Tanto que o polêmico empréstimo bateu na trave com apenas 31 votos favoráveis e 2 nulos numa Casa que tem 63 deputados.

            Mas passou e foi importante para o Estado que passasse. São recursos que, se bem aplicados em obras de infraestrutura e segurança como relatam a mensagem do governador e a defesa da liderança do governo, e não desviados para custeio e uso eleitoreiro, como sustentou a oposição durante mais de 30 horas de sessões contínuas, tornam-se imprescindíveis. A questão, agora, é saber se o BNDES terá agilidade para disponibilizar esses investimentos com rapidez e onde serão aplicados.

            O líder da oposição, deputado Heraldo Rocha (DEM), e o líder do PMDB, deputado Leur Lomanto Jr, desconfiam das duas coisas: que o dinheiro chegue logo a Bahia, até porque sequer foi liberado pelo BNDES a segunda parcela de um empréstimo de R$380 milhões aprovado pela ALBA no ano passado (só veio R$178 milhões), e em chegando a Bahia esses recursos, argúem que têm certeza da aplicabilidade em obras eleitoreiras para atender políticos ligados ao governador e sua chapa à reeleição.

             O líder do governo, deputado Waldenor Pereira (PT), tem uma argumentação inversa e sustenta que os recursos serão para todos. Ou seja, pode até uma obra de infraestrutura beneficiar deputados da oposição, porque o território baiano é imenso e essa delimitação de quem é dono político deste ou daquele pedaço não existe. De bom coração, evidente que essa afirmação também é verdade. Mas, na prática, ninguém acredita que o governador Wagner leve consigo Leur ou Heraldo para uma inauguração de obras.

            Vive-se época de ano eleitoral. E, embora o governo difunda em sua marca que a "Bahia é de Todos Nós" natural, que primeiro os meus e depois os teus. Todo governo é assim e o de Wagner não poderia fugir a essa regra porque se assim agir, magistrado pleno, o que não existe na política, perde a competitividade. Ademais, a crise de 2009 deu uma atropelada séria nos investimentos do Estado com rubrica própria e maleável, diferente daquelas que já vêm carimbadas com a marca federal, e esses novos recursos são importantíssimos para os planos do governador.

            Em certo sentido foi mais importante do que esse debate estéril em relação à composição final de sua chapa. 


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