Causos & Lendas
Lobisomem de Serrinha
26/03/2014 às  08:04

LOBISOMEM de Serrinha fica admirado com sanitários de maçaneta d'ouro

Lanzudo diz que nunca viu sanitários químicos tão caros como os do Carnaval de Salvador


 Já estou com as pernas enferrujadas e não brinquei o Carnaval como gostaria, em função da idade. Não é fácil completar 281 anos como faço em abril próximo e atuei mais apreciando a festa do que dançando, ou pulando como se faz nos dias atuais.

  O Carnaval da Serra com o Rixô Elétrico foi uma maravilha. Minha neta Sol, a qual não desceu de sua varanda usada como camarote, repleto de baldes de champagne, adorou, e ainda me disse que havia um bugre igual ao meu. O Rixô tocou aquelas músicas no passo lento e deu pra estirar as canelas na subida para a Morena Bela, isso graças ao nosso prefeito Cardosão que, mesmo no passo do compasso, devolveu a Serra sua tradição carnavalesca.

  Uma semana depois, pois nosso Carnaval foi antecipado, a convite de uma familia que mora na Barra seguimos para participar do Carmaval da capital. Eu e a minha esposa dona Ester Loura fomos bem recebidos na casa dessa comadre e também no camarote de uma cervejaria. Carnaval belíssimo, por sinal. Mas, muito repetitivo e repleto de balões de propaganda. parecia até uma feira de venda de produtos de beleza e bebidas.

   Tanto que dona Ester resolveu fazer o cabelo e as unhas num salão que havia no longue do camarote e eu fiquei angustiado porque, a contra-gosto, tive que beber a cerveja que não gostava.

  Mas, sabe como é, convidado não pode reclamar de banquete de graça. Se topou ir para o camarote na base do 0800 que beba seu charope e fim de conversa. O melhor do Carnaval foi Mari Antunes aquela moça do Babado Novo. Até eu babei. Manchei meu lenço de seda indiana e só não tomei belicões porque Ester ondulava os pelos no salão.

   Agora, o que fiquei admirado mesmo foi com os tais sanitários químicos da festa que teriam custado R$18 milhões aos cofres municipais. Pensei! Seriam os assentos como os do antigo Xá Reza Pahlevi em sua tenda árabe iraniana com maçanetas d'ouro? É possível. Como preços nessas alturas, só assim.

  - Lá na Serra no Carnaval do Rixô, eu e amigos da patusca fizemos xixi num pé de amendoeira próximo da casa da professora Eloá, comentei com minha comadre.

  - Isso é lá. Aqui é outra coisa. O vereador Arnando Lessa diz que houve alguma arte estranha, pois, nunca viu em sua vida sanitárias tão caros, respondeu a guapa.

   - É pode ser, como diriga Gil, pelo sim; pelo não; muito pelo contrário; ademais, no entretanto; entendendo a morfologia das expressões, justifica-se o injustifável de um tal contrato guarda-chuva para todo o ano, respondi a comadre com base em dados revelados pelo governo municipal, saudando dona Ester que voltava do salão toda arrumada.

   Não poderia deixar de elogiar minha esposa como o fiz: - Você está linda com esse cabelo a la Beyoncé, derretim-me em mesuras.

   - Beyoncé não! Catherine Deneuve - consertou. Isso aqui nem parece que estamos no Carnaval. A moça lá do loungue ... é assim mesmo que se diz..., soletrou fazendo bico à inglesa... lon-gue, caprichou não só no cabelo, mas, nas unhas dos meus pés e das minhas mãos (mostrou) e ainda tomei massagem nas costas e na nuca, elogiou.

   - Melhor do que o Salão de dona Ana lá na Serra? - questionei.

   - Melhor não diria. Mas, mais estiloso. Além disso, ao lado do salão tem uma mesa de frios com tudo de bom, até o jamón espanhol pata negra, petiscos, pães, brioches, uma maravilha.

   - Nem acredtio. Mas, não combina um pata-negra com essa cerveja. Aprovaria com um tinto francês daqueles que compro para você no Carrefour de Paris, respondi.

   - Não seja soberbo. Aproveite o 0800 e tire a barriga da miséria - interferiu a comadre - nos convidando para ir à mesa assim que o Vumbora de Bell passasse à frente do camarote.

   - Um horror - disse Ester ao ouvir Bell entoar uma música chamada Nicolau. Esse moço já apresentou coisas melhores no Carnaval, aduziu no meu pé de ouvido.

  - É! lembra que dançamos muito a música Chicleteiro em nosso sítio ao pé da fogueira e a Noite de Forró que ele canta tão bem, respondi também ao pé do ouvido para Ester ouvir diante do poderoso som do ex-Chiclete.

   À mesa seguimos os três assim que a banda passou. Ester pegou um prato e colocou fatias do pata negra e eu preferi um salcichão alemão que estava de boa textura. Diria que nos fartamos. A comadre, chique que só ela existe na Bahia, beliscou uma salteña temendo os culotes.
Nisso dei vontade de fazer xixi. A comadre indicou o local no camarote e lá fui em direção ao WC, pelo menos era o indicativo. Taí! Chique, mais chique do que os da Prefeitura de Salvador e a amendoeira da Serra. Depois que balancei o bilau automaticamente uma água cheirosa asseou o vaso. Ao tentar lavar as mãos, apenas por educação, porque meu bilau é limpo e não preciso desses asseios, desisti porque havia uma torneira estilosa, mas procurei o abridor e não achei. Passei papel nos dedos.

   Depois, já no camarote propriamente dito comentei com a comadre: - O banheiro é bom mas esqueceram de colocar os abridores das torneiras.

   - Bronco! É automático, censorial. É sô você por as mãos embaixo do bico da torneira que a água saí.

   - Ah é! - admirei. Então vou ficar mais um tempo na festa, tomar umas quatro cervejas pra fazer xixi de novo.

   Adiante, contei a novidade a Ester e prometi a ela colocar torneiras iguais a essa lá em nosso sitio da Serra. Vai ser um sucesso, garanto, inclusive vou fazer até um comercial na rádio Continental anunciando tal feito.

   E minha neta Sol, que gosta de novidades, vai adorar.


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