Literatura
Rosa de Lima
01/10/2020 às  11:08

ROSA DE LIMA SE ENCANTA COM TRÊS OBRAS DE EDGAR ALLAN POE

Clássicos do autor norte-americano criador do conto policial e dois dos seus melhores contos: o gato preto e o corvo


   Edgar Allan Poe viveu somente 40 anos de idade entre Boston, onde nasceu (1809) e Baltimore (1849), sendo considerado o inventor do gênero ficção policial, um dos primeiros escritores a se dedicar ao conto e a literatura de forma integral. Era também poeta, editor e crítico literário. Teve uma vida financeira atribulada e andava sempre metido com mulheres e bebidas, quando jovem.

  Sua morte precoce até hoje não se sabe ao certo o que teria ocorrido e se parece com suas narrativas em contos que escreveu, se foi suicídio, doenças cardiovasculares, drogas ou tuberculose.

  O importante foi o legado que deixou e a influência que exerceu (e ainda exerce) na literatura dos Estados Unidos e ao redor do mundo, mesmo em campos como cosmologia e criptografia. Estamos falando da primeira quadra do século XIX onde esses temas e estudos ainda engatiavam. É um dos autores mais populares dos EUA e que tem influenciado muitos escritores brasileiros.

  Recentemente, a Editora Pandorga lançou (venda pela Amazon.com box com 3 livros, 122, 118 e 111 pág. R$46,80) uma caixa, 3 exemplares no formato 13.6cmx21cm de "O Escaravelho de ouro e outras histórias"; "O corvo e outros contos"; e "O Gato Preto e outras histórias extraordinárias" no gênero literário contos, um aperitivo do que há de melhor em Poe, histórias sensacionais e que causaram uma repercussão imensa nos EUA daquela época pelo ineditismo, surpresa no meio literário, críticas acaloradas e reveladoras da personalidade quase macabra do autor com a exposição de textos que traziam uma nova realidade à literatura - mortes, mistérios, crimes até então inimagináveis e que não tinham relação com a vida real - nunca se ouvira falar e estavam bem distante da linha do romantismo que era o top da época.

  Comecemos pelo Gato Preto, um dos seus clássicos, e o autor adverte logo no início do conto: "Não espero nem peço que acreditem neste relato estranho, porém simples, que estou prestes a escrever" e avança ao dizer que é um caso onde seus próprios sentidos rejeitam. Narra a trajetória de Plutão, seu gato de estimação do qual arranca um olho com um canivete ao chegar em casa bêbado e entender que o animal não o recebeu bem e até o feriu na mão. No outro dia, sem remorso, Plutão se recuperando dos ferimentos, agarrou o gato pelo pescoço e enforcou-o numa árvore do seu quintal.

  Surge, do nada, salvo da imaginação do autor, um novo gato em sua residência, preto à semelhança de Plutão e sua esposa se afeiçoa a esse novo gato. Ele achou essa aproximação louvável, agradável. Aos poucos tomou ojeriza ao gato e com machado em punho tenta matá-lo. Salvou-o sua esposa. Possesso, ele mata a esposa com uma machadada rachando sua cabeça ao meio.

  A partir daí, imagina como se livrar do corpo, esquartejar, enterrá-la no quintal, vários cenários, mas decide sepulta-la de corpo inteiro numa das paredes de sua casa. Prepara o local e sepulta a mulher rebocando o lugar com esmero a ponto de ficar como era, parede lisa, pintada.

 Dias depois, a Polícia chega a sua casa para investigar a morte da mulher e ele abre as portas, tranquilamente, dizendo nada temer. Os policiais analisam todos os locais e nada encontram. Quando iam embora, ele, com bengala em punho, bate numa das paredes para mostrar que tudo era sólido, e ao tocar a bengala no local onde a mulher estava sepultada deu-se um miado alto de gato. A Polícia, então, descobre o crime e encontra a mulher sepultada em pé.

  Esse é tom dos contos de Poe. Nesse primeiro livro há, ainda, três outros contos: Ligeia (1838), a queda da casa de Usher (1839) e pequena conversa com a múmia (1839) este último o melhor deles, uma história fantástica envolvendo especialistas em sarcófagos. O autor dá movimento à múmia, põe a sentar-se e a falar e o diálogo é fantástico entre as partes. O mais interessante de Põe narra na primeira pessoa e se coloca no cenário, dialoga, opina e não se surpreende com o macabro neste e em todos os outros contos.

  No segundo livro, "O Escaravelho de Ouro e outras histórias" ele narra a descoberta de um escaravelho de ouro que, através de criptografia, vai dar as coordenadas para a descoberta de um tesouro. Dois personagens bem sugestivos, um cavalheiro huguenote que se fixa numa ilha na Carolina do Norte e um escravo chamado Jupiter que é o interprete dos seus desejos. E, claro, o autor, que é convidado para essa aventura, testemunha.

  O escaravelho é quem dará as coordenadas criptografadas para a descoberta. 53+305))6*4826)4.)4); (e outros) e vai decifrando cada número desses. Além do tesouro são achados esqueletos, e estabelece-se a dúvida do que fazer com eles e com o ouro, supondo-se que o capitão Kid teria matado todos os integrantes da pirataria para ninguém achar o tesouro.

  Seguem no segundo book com os contos o enterro prematuro (1944), a máscara da morte vermelha (1842) e o poço e o pêndulo (185) os três na mesma linha do horror, do terror e da morte.

  O terceiro livro da pequena coleção abre com o conto o corvo (1845) um dos seus mais famosos textos, que chegou ao cinema e ao teatro, narrado em prosa poética com reflexões: "somente isto e nada", "e o vento e nada mais", a "nunca mais" (palavras do corvo) fechando com "nunca mais".

  Vamos a última estrofe: - Seja esse o grito que me separe, demônio ou ave!, gritei ao me afastar/ Volta à tempestade e noite escura que lhe vai tragar/ Não me deixe uma só pluma para suas mentiras atestar/ Arranca o bico do meu coração e afasta-te dos meus portais!/Disse o corvo: "Nunca mais"/ E o corvo, sem se abalar, sentado permanece, sentado está/ No pálido busto de Atena, acima dos meus portais/ Lança-me um olhar sonhador demoníaco que imaginei jamais/E a luz que acima dela está, projeta sombras pelo chão/ E minha alma, dessa sombra no chão projetada/ Deverá ser libertada...

 Há, por fim, mais três contos o coração delator (1843), o barril de amontilhado (1846), a verdade sobre o caso do senhor Valdemar (1845) e os assassinatos da rua Morgue (1841) este último, o melhor deles, uma trama que se passa em Paris.

  Ler Poe é surreal, fantástico, um autor de extrema sensibilidade e grandeza. Nas suas narrativas estão angústias, sentimentos de amor e de ódio, traços da pisque do homem tal como sapiens, a vida, a morte, a paixão, a cegueira, vários conceitos a serem interpretados. O autor os põe em todos os contos e deixa o leitor a pensar a refletir sobre eles.


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