29/04/2017 às  11:40

A Passagem, choro profissionaL à beira de caixão

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 A Passagem, de Marc Dourdin, Brasil, 2013. Esse filme conta uma história atípica. Para dar um clima de velório Maria das Graças, uma negra forte de corpo e alma, é contratada para chorar diante do caixão do falecido (a). Não pense que é fácil chorar por alguém que você jamais conheceu: coloque-se na posição da Maria. 

   Existe toda uma performance na hora de forçar o choro e dar o clima necessário ao velório de uma pessoa que, por vezes, não é tão querida e ninguém quer chorar por ela. Como diz o ditado popular: quem não chora não mama; e no caso da Maria das Graças se ela não chorar não ganha seu cachê, e não pense que é fácil entrar num velório com todos aliviados que aquele ente se foi e a Maria tem de fazer o papel de que aquele ente era querido e todos sentiam falta dele, por mais que isso seja mentira os parentes se apegam as poucas lembranças do falecido e entram na onda da Maria e começam a chorar com ela também. 

   Não pensem que se trata de um trabalho fácil, mas todos nós temos um talento, e no caso da Maria é provocar as lembranças mais antigas dos entes que estão no velório. A obra fílmica além de contar essa história nos remete a pensar na única coisa que é a mais misteriosa para nós: o outro lado, ou seja, a morte. Como estamos aqui agora daqui a dois minutos podemos estar do outro lado e isso que intriga no filme: a fragilidade humana de desaparecer ou sair dos palcos da vida sem o direito de dizer adeus. 

   De fato é um filme para apreciar, mas também para se pensar em que estamos fazendo com nossas vidas, afinal ela é ou não é um sopro? Deste modo basta viver e abusar da vida no sentido literal com as experiências de uma vida que propõe e consegue evoluir para o outro plano ou encarnação que estar por vir. Ou seja: ser corajoso consigo próprio pra realizar todos os seus desejos ocultos e por vezes não socialmente aceitos, porque quem julga não é juiz algum, mas sim a própria pessoa e seus pensamentos angustiantes de que deveria fazer isso ou aquilo, mas que por medo do que vão pensar não o faz e carrega o peso do não fazer para a próxima encarnação. 

   Se estamos nesse plano temos que aproveitar aquele espermatozoide que lutou e ganhou a batalha entre tantos outros, e que nos gerou. Em outras palavras, para ateus e não ateus: para ser feliz é necessário coragem e em certa medida ser anárquico (a) ao que é ou está estabelecido pelos homens, que por sinal não sabem de nada do que é ou não é justiça, apenas elaboram elucubrações daquilo que poderia ser sensato ou correto, entretanto na verdade que são apenas especulações ou modos de brincarem de ser Deus para julgarem as pessoas.
                                                                                    *****
 
   Valsa para Bruno Stein, de Paulo Nascimento, Brasil, 2008, com Walmor Chagas. Embora seja do interior do Rio Grande do Sul com quase a divisa com a Argentina o filme nos remete ao provincianismo do Brasil, do Oiapoque ao Chuí ,sem exceções. A narrativa do enredo é singular e simples como todo interior brasileiro: tem-se um patriarca e por consequência quase ou totalmente necessária seus parentes posteriores, tais como filhas, sobrinhas e netos. 

   Uma geração entende o mundo de uma maneira, já outra quer sair daquele fim de mundo para ser dono do seu nariz, já que no interior isso é mais difícil. Não foi o último trabalho do protagonista, porém talvez um dos últimos e percebemos nada sobre a questão do seu suicídio. Quando uma pessoa quer dar cabo de sua própria via é porque a coisa tá muito feia, mas muito feia é a personagem que o Walmor Chagas faz: um patriarca do século passado que mantem a todo e qualquer custo às tradições e modos de como conseguira fazer a sua pequena fortuna interionana, provindas da criação leiteira e de abate dos suínos, tais  como porcos, ovelhas, carneiros, bodes, vacas e bois. 

   A questão não é financeira nesse filme , mas sim a de valores, onde o que é mais importante é como se ganha e não de modo ou circunstância se ganha dinheiro. Ou seja: se for do estilo antigo é merecível e aceitável, mas se não for o dinheiro é podre e imprestável. 

  Os dilemas morais centram o roteiro do filme, até que a neta do protagonista decide sair da fazenda e se muda para a capital, Porto Alegre. Choque tremendo para o patriarca já que este tinha o costume de ordenar até que horas o jantar estaria servido ou até que exatas horas de minutos os seus funcionários trabalhariam, labuta esta que este o fez em “fazer a vida” no sul do Brasil, e agora poder descansar e ainda encher seu ego ordenando seus funcionários rurais.

   A narrativa flui através desse entrave de gerações de maneira que o tempo consegue maestralmente ser ordenador onde e aonde cada fato iria ocorrer, isto é, na capital de um grande país ou em apenas algum mísero interior, mesmo que esse fosse a capital de um mísero estado. A atuação de Walmor Chagas é estupenda, assim como outras que fizera.


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