21/05/2016 às  12:32

O dono do jogo e a guerra fria EUA x Rússia


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O Dono do Jogo (Pawn Sacrifice), dirigido por Edward Zwick, EUA, Canadá, 2016. Li há pouco que o xadrez serve até para matérias como Geografia. Ou seja: Além do jogo ser bom para o cérebro, ele ainda tem a
 capacidade de espaçamento, de saber onde anda e quais passos dar. Pensei e cheguei à conclusão que a notícia lida tinha um fundo verdadeiro no tocante ao assunto do espaçamento físico, pois para se 
fazer uma jogada, seja esta com o peão ou a rainha, o jogador tem que prever o que tal movimento desencadearia em outra reação de maior proporção e força para o jogo. 

No xadrez é necessária uma expertise mais que cerebral para fazer as jogadas, mas também ter a 
percepção de localidade. Resenho um filme que está em cartaz nos cinemas e vale bastante a ida. De enredo temos um garoto prodígio estadunidense, que de forma altruísta, se apaixona pelo xadrez desde muito cedo, e com sua capacidade cerebral no tocante a sua memória a fim de guardar as suas jogadas frustradas e derrotas no jogo quando criança, e se torna a principal aposta e única esperança dos EUA em ganhar no xadrez da extinta União Soviética em plena guerra fria. 

Os russos se gabavam por ter o campeão mundial do esporte e este simbolizar quem seria melhor nas estratégias no período da guerra fria. O Ator Tobey Maguire ( ou o eterno Homem- Aranha) tenta 
dar um corpo ao protagonista, mas de fato o que mais lembramos quando olhamos pra ele, é o Homem-Aranha. Todavia com uma imensa generosidade embarcamos na estória e enxergamos, após alguns minutos, o prodígio do xadrez norte-americano, e não Homem-Aranha. 

Superado este primeiro problema voltamos a guerra fria e percebemos o desenvolvimento daquele 
garoto inteligente e estranho querendo ser o número um do xadrez; e isso  não pelo seu país, mas por ele mesmo quer isso mais que ninguém. É tanto “quereres” que o protagonista emplaca em sua mente uma paranoia incrível sobre os soviéticos; na cabeça dele, era vigiado todo segundo e  ainda mais quando começaram os embates entre o fenômeno estadunidense com o atual campeão mundial russo.

 Pelo filme ter sido baseado em fatos reais, ou seja, o embate entre Bobby Fischer, o norte americano, contra o  russo Boris Spassky, adentramos por isso ainda mais na estória, onde não se tinha nem bandidos ou tampouco mocinhos: Somente nações ávidas e sedentas pelo poder mundial que colocavam seus melhores seres privilegiados cerebral e fisicamente, para então se desafiarem em um tabuleiro de xadrez. 

Se paranoia não é transmitida o filme mostra exatamente o contrário disso. Ou seja: Trata-se de uma das doenças mais contagiosas que existe. Após o primeiro combate entre os enxadristas nos
 anos 1980, o norte-americano encasqueta que tinha sido plantado microfones embutidos na mesa do confronto, e com tal desequilíbrio acabe  perdendo a concentração e, por conseguinte a capacidade de análise de jogo, perdendo assim o primeiro jogo. 

Na revanche a paranoia muda de lado e o russo agora que supõe estar sendo vigiado pelo “Tio Sam”. A 
paranoia de ambos é tão literal que embarcamos no tabuleiro com eles e sentimos que existe um microfone estranho por ali, somente pelo calor das atuações e as boas narrativas entre os intervalos dos confrontos. 

Existiu uma terceira partida, e de fato, uma das nações teve o privilégio de se auto intitular como a mais inteligente, mas seria deselegante da minha parte se revelasse qual nação seria. O filme é bom 
porque além de entrarmos no esquema do universo do xadrez e de seus exímios participantes, a obra fílmica dá algumas pinceladas em abordar como era o mundo no período da guerra; fato este não tão distante de hoje em dia (ainda me lembro quando criança como as coisas eram tensas até aqui no Brasil). Sem sombras de duvidas o filme é uma ótima pedida para ir ao cinema mais próximo e ainda nos livram dos terríveis e chatos  filmes da Marvel de super-heróis: Um brigando com o outro a troco de nada. 
                                                            *****

Body, dirigido e co-roteirizado pela talentosa Malgorzata Szumowska, Polônia, 2016. O filme abocanhou o Urso de Prata como melhor direção no último festival de Berlim; um dos festivais que ainda podemos
 descrevê-los como semi-isentos sobre os interesses das indústrias de cinema. Semi-isento , e com muita dificuldade para obter esse título, pois festivais de cinema de grande porte totalmente isentos ou 
independentes hoje em dia é uma utopia, ou seja, não existe.

 Porém ainda  assim um Urso de Prata de Berlim é algo que temos que conferir para não
 ficarmos ultrapassados, afinal de contas se a indústria está aí engolindo tudo com a sua bolha hollywoodiana , temos que acompanhar, mesmo que seja de longe. Pois bem senhores e senhoras como é sabido a expressão Body significa corpo em inglês, e isto nos dá uma ideia de físico, de algo animado e tangível. 

A obra fílmica se permeia entre os universos que vemos, ou seja, o físico, e o que não vemos, ou seja, o 
espiritual. O filme , que está em cartaz nos melhores cinema de sua cidade, é composto por três personagens principais de mesmo peso e intensidade ,que dão lógica ( ou não )ao enredo em que a diretora polonesa quis imprimir em sua obra.

Primeiro, temos um policial da área criminalista que tem como função checar pistas, como impressões digitais e outras coisas por exemplo, de cadáveres , e talvez descobrir os motivos das suas mortes. Segundo, temos a filha desse policial incomum, que sofre de anorexia e sente falta da mãe falecida, e põe , descabidamente toda a culpa das suas frustrações existenciais no fato de não ter mãe, ou por ela ter morrido no parto, ou seja, a garota sente culpa por estar viva a troco da sua mãe estar morta após o parto, e por isso e também pela distância que têm com o seu pai, acaba por desenvolver o distúrbio anoréxico. 

O terceiro elemento ou personagem chave da trama é uma médica psiquiatra que tenta tratar da filha do policial. A médica acredita piamente que a mãe quer se comunicar com a filha ( e até cita um médium baiano Divaldo Franco como exemplo) , mas o policial pai fica reticente a esta solução, já que
 é um homem completamente descrente sobre o assuntos de vidas passadas. 

Também não poderia ser diferente uma pessoa que lida  com cadáveres acreditar em vida após morte seria no mínimo uma temeridade e insanidade  juntas, que atrapalharia inclusive o seu oficio. Sob o olhar do pai o tratamento seria uma loucura e descabido já que via o corpo físico da sua filha a cada dia "murchar" devido a anorexia, então pra ele o problema da sua filha era mais físico, ou seja, falta de comer do que qualquer outro aspecto sobrenatural. 

A médica consegue o convencer que o  físico se liga ao espírito, e este por sua vez é amparado ( ou 
desamparado) por carma de vidas passadas. Trocando em miúdos, para médica tudo é sinergia ou energia, seja esta física ou espiritual. O filme é bonito porque aborda assuntos complexos e tabus de uma forma leve e até em certas cenas com tom de humor. 

A obra fílmica ainda nos presenteia , sem sair da poltrona do cinema, olhar as mudanças da 
Polônia atual, mostrando o quanto o país passa a se acostumar ao capitalismo latente atual em contrapartida ao comunismo recente, passando ou pincelando por cima a igreja católica e o judaísmo como protagonistas religiosos de uma Polônia que ainda tenta encontrar o equilíbrio necessário entre essas forças econômicas e religiosas atuais que assolam o país. 
                                                                       *****
A Lenda de Barney Thomson, dirigido e protagonizado por Robert Carlyle, Reino Unido/Canadá, 2014. Todos os homens são complexos por natureza. O que acontece é que alguns sabem, e a esmagadora maioria não sabem disso. Trocando em miúdos: O homem pode até ser um "ser" para 
viver socialmente, disso não discordo, mas todos nós carregamos monstros
 dentro de si. Alguns invocam esses monstros e o encaram através de 
análise, Yoga, religiões, mantras, etc. 

A maioria das pessoas preferem deixar ele lá quietinho, pois as consequências podem ser desastrosas. 
Pois bem este misto de comédia com humor negro e drama fala exatamente disso. Trocando em miúdos: É mais confortável e menos perigoso deixar nossos monstros quietinhos e fingir que eles não existem, e que o homem é  um "ser" normal e a vida é sempre bela como um vaso de flores frescas, 
cheirosas e coloridas.

 Todavia lá no fundinho de cada alma humana, sabemos que não é nada disso, ou seja, somos de fato complexos, cheio de  estranhamentos que até nós mesmos por vezes nos espantamos sozinhos, e 
quem dirás os outros que poderiam ver tais monstros, certamente nos taxaria como loucos. Loucura é outro termo que se "perjora" na nossa sociedade como algo negativo, mas quem é que não é louco que atire a primeira pedra, certeza que não sobrará ninguém, pois como diz o ditado 
que "de médico e louco todos têm um pouco". 

Bem de médico já não arrisco-me a dizer que todos são , mas loucos sim, somos. E já que todo 
médico é meio louco, então fica tudo em casa no âmbito da loucura. 
Escrito isto agora me sinto bem em apresentar o protagonista deste incrível filme: Um sujeito que já chegou aos cinquenta e não conquistou nada na vida, nada mesmo: Mulher, grana, respeito, nadica de nada. Se tem alguém que pode ser chamado de um "zero a esquerda" este era o nosso
 protagonista. Um mero barbeiro que trabalha há vinte anos no mesmo local, e há vinte anos era esculhambado por seus colegas de trabalho e chefe, além da sua mãe. Claro que por mais que tentamos não expor nossos  sentimentos, eles ficam lá esperando uma hora para desabafar ou explodir. Trocando em miúdos: Não adianta tentar nos enganar dizendo que  está tudo bem quando não está. Isto no máximo te fará ganhar tempo para  tomar uma decisão e acumular mais raiva da situação, lógico, pois os 
juros emocionais também correm pra valer. A solução que nosso barbeiro 
acha é meio que sem querer ( sem querer mesmo ele mata acidentalmente 
dois barbeiros colegas de trabalho, um com uma tesourada e outro com um 
golpe de esfregão direto no "gogó"). O filme deixa claro que os 
acidentes foram mesmo acidentais conscientemente, mas pergunto e 
inconsistente: Será mesmo que aquele barbeiro que se "lenhou" desde que 
nasceu não tinha uma vontadinha de fazer aquilo que fez por acidente? 
Piamente creio que sim, mas como foi um acidente, então tá. O desenrolar
 do filme é na luta do barbeiro esconder os corpos para não ser preso, 
já que a policia não acreditaria na sua tese de acidente duplo. A mãe do
 barbeiro entra na trama de humor negro com fatos mais surreais que os 
do seu filho, fazendo da tragédia uma comédia, afinal pimenta nos olhos dos outros é sempre refresco. Taí um filme que me surpreendeu, 
recomendo.


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