23/08/2014 às  15:47

O homem que engarrafava nuvens e a música

Mel ( Miele ) é o primeiro longa-metragem da atriz agora metida a diretora Valeria Golino, Itália, França, 2013.


 O Homem Que Engarrafava Nuvens, do pernambucano Lírio Ferreira, Brasil, 2009. O documentário conta a História do primeiro parceiro de Luis Gonzaga, o advogado e exímio letrista Humberto Teixeira. 

   Dono de canções como Baião e Asa Branca, imortalmente interpretada pelo velho Gonzaga, Humberto Teixeira passa despercebido na história da música brasileira. O documentário conta com participações da filha de Humberto Teixeira (criado por ele), os músicos: Otto, Caetano Veloso,Gilberto Gil, dentre outros. Em certo trecho Otto afirma que Humberto Teixeira não teve seu devido conhecimento por ele ser a pólvora, enquanto Gonzaga seria o canhão da dupla, e é natural que o cantor seja sempre mais lembrado que o compositor, haja vista um exemplo de outra dupla em outro tempo que fora Paulo Coelho e Raul Seixas. 

   Entretanto voltando ao homem que engarrafava nuvens ou ao desalmado pai (dito pela filha por ser muito machista) Humberto Teixeira, este de fato fora quase como um interprete invisível na criação de um ritmo genuinamente brasileiro. 

   Em entrevista ao documentário de Lírio Ferreira, Gilberto Gil afirma que só existem dois estilos musicais totalmente nacionais: O Samba e o Baião. Humberto Teixeira e Luis Gonzaga foram os responsáveis por “urbanizar” o baião para que ele tivesse espaço no sul quando a dupla se mudou para o Rio de Janeiro. 

   Segundo Caetano a famosa internacionalmente Bossa Nova do João Gilberto foi descaradamente “bebida na fonte” do Baião, ou seja, para Caetano Veloso a Bossa Nova não fora nada mais ou menos que uma imitação mais lenta do baião, fato este que desmente qualquer privilégio no sentido de João Gilberto ou outro artista ter criado algum tipo de novo gênero musical genuinamente brasileiro. 

   Existe ainda uma lenda vigorada até os dias de hoje, e sempre dita por Raul Seixas (que inclusive tinha como marca registrada a mistura do Baião com o Rock) de que o Regue Jamaicano de lendário cantor e compositor Bob Marley teve fortes influências do baião após um vinil de Gonzaga e Teixeira chegar ao país caribenho. 

  Em suma o documentário nos permite conhecer um pouco mais da história da música genuína do Brasil (e como esta influenciou outros gêneros musicais) e ainda conhecer os seus verdadeiros arquitetos por volta de 1950 com influências até os dias de hoje. 
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   Mel ( Miele ) é o primeiro longa-metragem da atriz agora metida a diretora Valeria Golino, Itália, França, 2013. "Mel" foi selecionado para a secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, onde recebeu uma Menção Especial do Júri Ecumênico, e foi finalista do Prêmio Lux 2013. 

   Com esses ou por esses requisitos o filme tem como tema um assunto tabu que é a eutanásia. Irene (Jasmine Trincaé uma italiana ex-estudante de medicina de trinta anos aparentemente normal,a não ser sua profissão. A moça tinha um emprego pouco convencional que era “ajudar” as pessoas a darem cabo de suas vidas; 

   Estas que em sua maioria optavam pela eutanásia por terem pouco tempo de vida, muita dor devido a doenças. Irene, então era chamada por esses doentes terminais para ser um tipo de enfermeira do último suspiro deles, dando um fármaco utilizado para abater animais doentes.

    Na Itália a eutanásia é proibida e tal remédio não é facilmente encontrado; Deste modo então a esportista Irene tinha que regularmente viajar ao México para comprar a droga mortal para seus pacientes. O filme muda de rumo quando a moça conhece o Senhor Grimaldi: um senhor que quer morrer por estar com uma profunda depressão. Irene se confronta com o primeiro paciente desse tipo: saudável, ao menos fisicamente. Irene então nega seus serviços ao senhor e se defronta com suas ações quando vê uma pessoa aparentemente saudável querer morrer.

   Cria-se a partir daí uma tentativa de Irene motivar o senhor Grimaldi a viver, a dizer que vale viver, apesar dela ser a “enfermeira da morte”. O dilema das suas ações anteriores faz com que Irene repense sua vida e avalie se ela tem o poder de decisão de tirar uma vida ou não, ou seja, de continuar com seu emprego clandestino ou abandoná-lo. Fato é que Irene não consegue mesmo que o senhor Grimaldi não se suicide, porém dessa vez sem o seu auxilio.

  Um filme bacana, porém forte com um tema tabu que faz repensarmos nossos valores sobre eutanásia, doenças do corpo e da mente, esta última que muitas vezes não é levada tão a sério como deveria haja à vista a depressão, tida e conhecida como a doença do século XXI. 
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   A culpa é das estrelas, de Josh Boone, EUA, 2014. Obras literárias adaptadas as telonas serão sempre um risco e este risco se exponencia mais ainda na medida em que a obra literária seja um Best Seller do gênero da auto-ajuda.

  Transpor um livro de auto-ajuda para o cinema parece-me ser mais difícil que um livro ficcional, por exemplo, por o gênero “auto-ajuda” ser demasiado subjetivo e por muitas vezes chato. Não curto e nem leio livros do gênero e por isso já fui ver o filme com “ o pé atrás” , e ainda bem que fiz isso. Reza a lenda que críticos de cinema são seres desalmados, incapazes de chorarem por besteiras, etc.

   Concordo até certo ponto com essa lenda. Por estarmos sempre antenados nas telonas não será qualquer obra que nos levará as lágrimas, até mesmo porque somos conhecidos como “cascas grossas” em cinefilía. Desse modo posso escrever então que não consegui me emocionar nem um pouquinho que fosse com tal apelativo filme, mas vi muitas pessoas na sessão soluçarem de chorar. 

   Daí faço-me a pergunta: Será que vi o mesmo filme que essas chorosas pessoas viram? A resposta é sim: foi de fato o mesmo filme, porém ( e modesta a parte ) por um olhar mais aguçado do que seria arte no cinema ou somente pura apelação sentimental. 

   Todavia vamos, mesmo tendo achado o filme ruim, tentar fazer uma resenha sentimental na medida do ético-possível para também não cairmos nos clichês estereotipados do filme. 

   Primeiro vamos abordar o tema da virgindade dos personagens centrais, o que me parece ser um rumo que Hollywood toma para abocanhar mais telespectadores, haja vista a saga vampiresca Crepúsculo que começou com a onda de virgindade como queiram definir. Fato é que no livro os personagens não eram virgens, mas no cinema ficaram por tal tendência atual da indústria norte-americana de cinema. 

   A história em si tem todos os elementos apelativos para fazer uma boa bilheteria ( e fez ), mas falta uma coisa que é essencial para qualquer filme que é: originalidade, e olha que já vi muitas obras literárias adaptadas ao cinema “originais”, porém essa não chega nem se quer próximo disso. 
Os elementos apelativos do filme são os dois personagens centrais com problemas de saúde: Uma garota com câncer terminal e o garoto que não tem uma das pernas, que se apaixona por ela. O filme é tão besta que agora teria que inventar sinopses para esta resenha render um pouco mais, pois o filme fica travado nessa suposta paixão; E suposta porque tenho minhas dúvidas se o garoto gostava mesmo da menina cancerígena ou somente tinha pena dela e dele mesmo até.

   Fato é que o filme fica somente nisto, ou seja, nessa história sem graça, fazendo a imagem de pacientes com câncer como coitados e desorientados. Muita gente discordará dessas linhas escritas, todavia como já fora mencionado:
O filme fora avaliado por um olhar mais elaborado ou calejado de tanto ver filmes. As pessoas têm todo o direito de entrar no cinema e chorar até ao ponto de atrapalhar quem não estava se emocionando com o filme, mas como crítico de cinema tenho o dever de colocar “os pontos nos is” e alertar que o filme não é nada que parece ser. 
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