03/05/2014 às  11:24

Trampolim do Forte, a realidade baiana

Corpos celestes, dirigido e produzido por Marcos Jorge com Dalton Vigh e Rodrigo Cornelsen como protagonistas em épocas distintas, Brasil, 2011.


Trampolim do forte, de João Rodrigo Mattos, Brasil- Alemanha, 2010. Em suma trata-se de um filme que conta ou narra uma certa fase em que todos já passamos: a infância, e como esta é marcante.

   Freud, o pai da psicanálise afirma que as lembranças mais importantes de uma pessoa acontecem até aos sete anos de idade. Após isso todas as ações que fazemos acontecem em prol dessas memórias e assim nos tornamos as pessoas que somos adultas, ou não, hoje. 

  Em especial no filme essa infância é contata de uma forma sufocante e muitas vezes angustiante por se tratar de meninos e meninas negras e de baixa renda ambientada na cidade de Salvador, na Bahia de todos os santos. Orixás estes que se esquecem desses pequenos indivíduos e as ruas e a vida soteropolitana os acolhem como consegue, ou seja, de uma forma dura. Temos como fios condutores dessa cativante e comovente história dois amigos.
  
   Um sai de casa porque sua mãe inesperadamente some e ele não quer ficar com o padrasto bêbado. E o outro, que tinha o apelido de Feliz e vendia picolé acaba por sair de casa por não concordar em dar seu dinheiro suado para uma igreja evangélica, assim como fazia sua mãe.

   Os dois então resolvem morar e dormir nas ruas para fugir das famílias. Acabam se envolvendo em furtos e “más-companhias”, mas esta era a regra da rua, da vida de quem quer ser dono de seu próprio nariz e isso não importando a idade que tivessem. Se a urgência pedia para que eles se mandassem de suas casas ainda crianças era porque o destino o quis assim, e, portanto os garotos ficaram “cascudos” antes do devido, mas quem somos nós para julgarmos o que é “certo” ou o que é “errado” nessa sociedade esquizofrênica que vivemos, não é mesmo? 

   Fora a dureza da rua crua existia um misterioso molestador de crianças apelidado por: “Tadeu, o rei das crianças”, que era tipo uma lenda, como se fosse uma caipora na floresta ou um Saci-Pererê. Mas, entretanto esse “saci” de fato existiu em Salvador nas décadas de 1990 (quem morou aqui nesse tempo conheceu a fama do “rei das crianças” ). 

  Anos se passaram e nada nem ninguém conseguia botar as mãos no Tadeu, ela estuprava as crianças e ninguém pegava. Esse personagem real, o Tadeu, entra na história do filme do diretor soteropolitano, e com requintes de crueldade. E numa dessas molestadas do Tadeu um dos pivetes vinga toda a sua geração que fora aterrorizada por esse desgraçado, que era na verdade um pastor, fato este que mexera na população soteropolitana na década de 1990. 

  Todavia escrevendo de qualidade de filme podemos tecer que trata-se de uma obra que nos conquista por sua falta de expectativas daqueles garotos jogados a sorte de uma metrópole provinciana , mas que apesar de tudo não perdiam as esperanças de um futuro melhor, transformando as suas realidades tristes em ficções alegres quando tais garotos pulavam do trampolim do forte do bairro da belíssima Barra.

    Como força para o cenário do cinema baiano atual, Trampolim do forte serve como um acalanto para que se façam mais longas metragens com bons patrocínios na capital baiana. Tal filme poderia servir como um trampolim literal para que o cinema fosse mais acreditado ou valorizado nesta cidade que não se cansa de enganar sua população com diversões que facilitam o menor esforço para um raciocínio mais elaborado, deixando de criar assim cidadãos mais críticos da situação caótica cultural da nossa cidade. 
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    Corpos celestes, dirigido e produzido por Marcos Jorge com Dalton Vigh e Rodrigo Cornelsen como protagonistas em épocas distintas, Brasil, 2011

   O filme nos “perfuma” de um lembrete popular, que é:"Se tens uma chance: agarre-a com todas as unhas e forças, pois poderá ser sua última, apesar de ter sido a primeira também, ou seja, a sua única chance na vida". Esse ditado meio popular e meio inventado por mim traduz bem o sentimento do protagonista do filme. 

   Este quando criança morava em uma cidadezinha interiorana das Minas Gerias em uma região bem parecida com a aridez do vale do Jequitinhonha dos livros do genial escritor mineiro Guimarães Rosa e um dos melhores escritores brasileiro de todos os tempos, escreva-se de passagem. Fato é que a história começa por esses lados duros e miseráveis do estado continental que é a nossa querida Minas Gerias. 

   Um garoto é criado naquele ambiente seco e sem perspectiva para literalmente nada, ou seja, no meio da miséria. Eis que surge em sua vizinhança um norte-americano “doidão” ou que vivia no mundo da lua, como preferirem imaginá-lo. Era um Astrólogo , aquele ser que estuda as estrelas e os sistemas planetários. 

   O homem, por sua “estranha” ou nova profissão por aquelas bandas onde quase todos não sabiam nem ler, eram visto como uma figura que era para não manter contato e deixá-lo isolado em seu casarão onde não falava, mas também não procurava confusão com ninguém, vivia em seu mundo de corpos celestes e lembranças amargas familiares num passado recente em sua terra natal: Os EUA, e por isso, “escondia-se dessas lembranças em um mato selvagem e solitário dentro de uma casa praticamente no meio da floresta mineira. 

   Aí acontece ou surge um tal menino curioso que se perguntava sempre: “porque aquele maluco daquele gringo vizinho fica toda santa noite olhando para as estrelas com um tal de um binóculo grande?”. 

   O garoto, na noite seguinte a essa indagação “destinal”, vai-lhe fazer uma visita em sua casa “assombrada” e às escuras, por ser ao entardecer, e por surpresa do garoto o dito por todos como rabugento e maluco gringo o recebe com educação e admiração por sua coragem de ir visitá-lo. 

   Desse dia, ou melhor, dessa noite em diante, o garoto sempre dava um jeito de fugir da marcação do seu pai bruto e analfabeto que não queria a mínima aproximação com aquele vizinho gringo maluco. Porém o garoto dava um jeito ou drible e toda noite esperava o pai dormir e conseguia fugir pela janelinha do seu quarto para tomar aulas de astronomia com o agora seu vizinho amigo e gente fina: O gringo solitário e "estranhão". 

   Foram muitas noites estudando as estrelas, praticamente a infância do garoto inteira, de modo que quando o garoto cresceu passou-se de um miserável que provavelmente iria trabalhar com uma enxada assim como o pai, para transformar-se em um prestigioso professor universitário com mestrado em Astrologia quântica nos EUA.

    O agora renomado professor nunca mais tinha voltado a Minas Gerais para ver seus pais e seus irmãos , que provavelmente não tinham saído daquela situação miserável de vida. 

   Eis que mais uma vez um inesperado caso acontece ao professor de astrologia; Ele recebe uma ligação do filho do seu vizinho de infância: o tal americano que tinha lhe ensinado tudo sobre astrologia e por isso a pessoa que tinha mais carinho e divida. A vontade do filho do americano era conhecer a cidade e a casa que seu pai “se escondia” dele e da sua mãe porquausa de uma suposta traição da ex-esposa. 

   O filho queria saber mais do pai: o que ele fizera e como viveu e onde durante todo esse tempo fora, apesar que este já estivesse falecido. Coisas de filho que não conheceu o pai, fazer o que? 

   Por vinte longos anos o professor não tinha voltado a sua pacata e miserável cidade natal, mas com esse pedido do filho da pessoa que foi a responsável por ele ter saído daquela miséria toda que ainda seus pais e irmãos se encontravam, era o mínimo que podia fazer para o filho do seu mestre. O encontro familiar, após vinte anos sem contato algum, foi deveras difícil, inclusive com muitos irmãos o chamando de escroto por nunca ter mandado nehuma grana para eles ou para os pais.
 Quase rola uma briga por esse motivo, apartada pelo filho do astrólogo morto. Os ânimos meio que se abaixam e o professor e o gringo resolvem voltar a casa abandonada por aquele ser estranho e admirável que fora o norte-americano ligado as estrelas. Chegando à casa nosso professor passa por uma experiência sensorial; Ele levita e pega com a palma da mão a estrela do cruzeiro do sul. Sem dúvidas é a parte mais emocionante do filme. 

  Corpos Celestes então propõe uma experiência sensorial com a astronomia e ainda nos permite brincar com um mundo do desconhecido; o das galáxias, dos planetas ou das vidas inteligentes fora do planeta Terra ainda não achadas cientificamente, mas que muitos dizem que já tiveram esse contato extraterreno e que não se trata de nenhum bicho de sete cabeças ( A NASA sabe de muita coisa sobre o assunto “E.T”, e não fala porque sabe que causaria um pânico geral no mundo). O que sem dúvidas acharemos nesse filme são aprazíveis experiências extraterrenas que mexe com nossa imaginação e por isso vale ser conferido, pois quem o assistir certamente passará a ver as estrelas literalmente com outros olhos.


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