22/03/2014 às  17:56

Ninfomaníaca, de Lars von Trier, tapa na cara

Veja também:Uma estranha amizade, com direção, produção , montagem e co-roteiro do múltiplo Sean Baker, EUA e Reino Unido, 2012.


Ninfomaníaca - Volume II , dirigido e roteirizado por Lars von Trier, com Charlotte Gainsbourg, Dinamarca e Alemanha, 2014. A mais poderosa, principal e verdadeira vontade humana é sem dúvida a sexual. Se por ventura alguém se autoafirmar como assexuado é porque tem “caroço nesse angu”, e tal caroço pode ser de ordem natural, ou seja , de sua orientação sexual ou de lembranças pessoais passadas durante sua infância. 

  Não existe ser humano assexuado e ponto, ou você gosta de mulher ou de homem ou até de ambos, mas não existe gostar de nenhum sexo, pois como mencionei a maior vontade humana foi e sempre será a sexual. Tive o cuidado em ler meia dúzia de críticos de cinema sobre o filme e ao menos a metade afirmara que o filme se presta como um instrumento para a psicanálise contemporânea. 

  Discordo radicalmente: O filme não se trata de nenhuma continuação das teses de pensadores psicanalíticos como Freud, Lacan ou outros, muito pelo contrário em certas cenas tais pensadores, principalmente Freud, é “abatido” como se fosse um bezerro com suas fracas teses de que na infância existem todos os elementos e respostas para as nossas atitudes quando tornamos adultos. 

   Em alguns casos, como a de uma ninfomaníaca, tais atitudes e necessidades não surgem por lembranças ou fatos do passado; Acontecem simples e justamente porque nem todos somos iguais e a sociedade não permite através da sua burguesia hipócrita em aceitar determinados padrões ou tipos de pessoas. Como a própria belíssima protagonista menciona na cena em que a obrigam frequentar um grupo de ajuda para viciados em sexo: “Não sou viciada em sexo ( sou mais que isso e sem culpas), tampouco uma doente só porque essa sociedade burguesa politicamente correta quer que eu seja assim para me rotularem, sou o que sempre fui desde que nasci, uma ninfomaníaca quer vocês aceitem ou não e isso é que sempre serei e terei sempre orgulho de quem e de como sou”.

   O filme é sem dúvidas a continuação de um tapa na cara da sociedade, mais até que o volume I do filme cortado por questões ditas morais e comerciais e por isso feito em duas partes. Por esse filme coloco particularmente o diretor dinamarquês Lars von Trier no grupo dos seletos gênios do cinema em todos os tempos e sem dúvidas é o mais talentoso cineasta contemporâneo da atualidade. Tapa na cara e soco no estômago da sociedade é com ele mesmo, é o cara: Não tem igual e cá pra nós são esses tapas na cara bem dados e com contundências intelectuais e principalmente morais que nossa hipócrita sociedade mundial guiada pelas religiões e por consequência delas, nós também: homens e mulheres mais precisamos tomar (tapas de lucidez) para que esse mundo se torne um lugar mais agradável de se viver, porque do jeito que está não dá. 
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O Herdeiro do Diabo dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, EUA, 2014. O enredo: Um típico casal jovem estadunidense vai curtir a lua mel em Porto Rico na sua capital São José. Certa noite e uma semana antes de partirem um taxista que acompanhava o casal como um tipo de guia turístico motorizado os convida para uma balada de despedida em um local bem atípico e nas periferias da capital caribenha. 

O casal por aventura aceita o convite da balada esquisita e acaba a noite em um subsolo muito louco onde se tocava de tudo e tinham todos os tipos de pessoas naquele inferninho. De cara o recém casal norte americano logicamente ficara desconfiado com aquele clima de curtição sem nenhum perigo naquele inóspito lugar, entretanto ainda assim eles de comum acordo aceitam se “jogarem” nessa balada incomum, pois como diz o ditado: “ Se está no inferno e melhor coisa a fazer é abraçar o capeta mesmo, e sem pudor”. 

Com a decisão o casal acaba por exagerar nas doses de tequila, especialmente a mulher, pois após a décima segunda dose ela acaba vendo coisas esquisitas vindas com olhares poucos amigos do seu motorista e até então camarada que o levou até aquele local. Com a o teor alto da tequila na cabeça e alguns "tiros de pó" no banheiro, a moça acaba ouvindo um papo dos supostos latinos que eram da “sua turma”, ou melhor, da turma do seu guia turistico. Conversa essa que a fez surtar e carregar seu marido para fora daquele inferninho camuflado de sótão de algum lugar distante do hotel em que estavam hospedados. 

O papo do taxista e seus amigos era que a americana se tratava da mãe do demônio ou do diabo, como preferirem chamá-lo. Por já estar grávida esses ladrões ou proféticos da magia negra tinha certeza absoluta de que iria nascer a ressurreição do diabo naquele feto maldito da meiga menina americana mimada e assustada com tudo aquilo que fora mencionado a ela e esta por sua vez e na opinião dos caribenhos evoluídos em magia negra não teria como fugir do seu destino, ou seja, dar a luz , ou melhor, dar as trevas ao filho do demônio tão esperado por seu pai: O diabo "pai- mor". 

Óbvio que o casal volta para a casa nos EUA super abalados por essa suposta informação, alias informação esta em que de inicio não acreditaram como quase todos estadunidenses céticos que pensam que sabem tudo e mais um pouco seja em qual assunto for. Eis que no processo de gravidez a mulher se transforma ao longo da gestação em uma mulher irreconhecível capaz das coisas mais atrozes que um ser poderia ou não fazer. Para inicio de conversa ela literalmente fica esquizofrênica na medida em que sua barriga cresce, pois já sente no ventre que algo de anormal está lá se mexendo das formas mais estranhas e assustadoras possíveis. 

Isso faz com que a mãe acabe a pensar na conversa dos caribenhos de São José, ou seja, que ele carregava o filho do demônio e nada poderia ser mudado perante a isso. Pararei de contar a trama de terror, que ao menos e esse em que vos escreve pareceu bem mais uma comédia, para não estragar o final do filme e não perderem a oportunidade de quem vos lê essas linhas, em alugá-lo. Já ia me esquecendo de um fato curioso e que de certa forma acaba por mudar a estética fílmica da obra: 

O marido da mulher que carregava o filho do diabo em seu ventre filmou o “filme” durante todo tempo tentando assim reproduzir no filme mais suspense por ter sempre uma câmera balançando e de certa maneira até desfocada das principais cenas com muito “treme-treme”, ora intencionais e ora provida do amadorismo do diretor do filme que no máximo que conseguimos dar são gargalhadas por ser tão mal construído em todos os seus elementos principais; Desde o mais principal que o roteiro, até seus efeitos especiais pouco eficazes. 
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Uma estranha amizade, com direção, produção , montagem e co-roteiro do múltiplo Sean Baker, EUA e Reino Unido, 2012. O longa traz a estreante Besedka Johnson (que faleceu em abril de 2013) para contracenar com Dree Hemingway (filha da eterna musa de Woody Allen, Mariel), mas vamos aos fatos ou ao filme. É de se desconfiar quando alguém quer fazer amizade sem nada em troca. Ainda mais se esse alguém tem idade para ser sua neta. Com esse mistério surge então uma estranha amizade entre uma senhora e uma jovem adulta.

Tudo começa quando a ninfeta compra um vaso usado na casa da senhora que estava vendendo tudo que tinha em prol de dividas com vizinhos e com impostos. Entretanto nesse vaso existia uma pequena quantia de dinheiro. Quando a ninfeta descobre isso ela meio que tenta se aproximar da senhora por pura culpa de não querer entregar o dinheiro a senhora. Dessas tentativas da jovem se aproximar a idosa que surge uma amizade capaz de transpor barreiras de idades e modos de vida, ou seja, uma estranha amizade.

 Até mesmo porque a jovem tinha, digamos assim, um jeito peculiar de se manter-se: que era fazer pontas em filmes pornôs e a senhora aposentada e endividada por sua vez tinha o hábito de jogar bingo para distrair-se. O filme é sensorial, ou seja, somente assistindo para saber como essa improvável amizade surge porquausa de um senso de culpa da moça para com essa engraçada e supersticiosa senhora. E trata-se de uma amizade bonita no fim das contas ou fim do segredo, afinal nada mais somos que simples mortais que estamos fadados a erros e acertos. Um belo filme contando uma coisa simples, porém essencial a todos nós: o poder de uma amizade verdadeira.


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