01/02/2014 às  10:34

O Lobo de Wall Street, uma aula de Scorsese

Mais uma vez Scorsese nos dá uma aula de como é fazer um belo e bem feito filme. Candidatíssimo a levar a estatueta de melhor filme no Oscar em março.


O lobo de Wall Street , de Martin Scorsese, EUA, 2013. Não há como fazer uma bela omelete sem quebrar alguns ovos, como já diz o ditado. Podemos estendê-lo tal ditado para uma vida profissional de sucesso, ou em outras palavras, não dá para entrar no jogo ou esquema sem atropelar seus oponentes. 

Para estar no topo da sua “cadeia profissional” a dita “normalidade padrão” tem de ser jogada no lixo, ou mais uma vez em outras letras, é necessário que você esteja acima dos seus oponentes também no quesito intuição para fechar antes um negócio atrativo que os outros. 

Pois bem, e como o protagonista do filme consegue esse “algo mais” para tornar-se diferente dos outros? Respondelhie-i: com drogas, e muitas por sinal para que seu estado intuitivo e criativo se expanda e saia então da dita personificação normal ou estado normal vegetativo, o tornando assim mais rápido e sagaz no competitivo mundo dos negócios, em especial na bolsa de valores de Wall Street. 

Neste caso verídico contado no filme o protagonista vivido pelo esforçado, porém pouco talentoso Leonardo DiCaprio, tenta se antecipar e fechar antes os negócios que supostamente seriam destinados a famosa bolsa de valores de Nova Yorque.

 Às três horas de filme são frenéticas, sempre regadas aos combustíveis ( que eram as drogas, e mais especificamente a cocaína ) para que os agentes de negócios financeiros tenham o pique para agüentar as suas loucas rotinas. 

Exatamente no meio do filme o protagonista olha para câmera e fala: "Como deve ser chato viver lúcido ou "normal", eu não agüentaria, acho que preferiria morrer ao invés disso". 

É nessa toada que o filme se desenvolve: Em um mundo surreal para os ditos normais, porém bem convidativo aos “não-normais”, que era o pessoal que trabalhava no mercado de ações; Uma espécie de artistas do mundo financeiro. 

O pulo do gato do protagonista foi o de fundar uma corretora de ações e começar a investir em pequenas invenções para compradores com menor poder aquisitivo de início com lucros de 50% para os vendedores ( bem maior que os 5% que Wall Street pagava).

 De empresinha a invençãozinha o cara vai se tornando um lobinho e era já visto com certo respeito dentro da mega bolsa nova-iorquina, mesmo estando de fora dela. De pulo em pulo ou de negócio em negócio o lobinho e seus parceiros vão se tornando de fato em lobões da bolha financeira comendo várias fatias da bolsa com sua corretora que literalmente subira de baixo para cima aos longos dos anos. 

A estratégia era simples, porém eficaz: não aceitavam um "não" como resposta em seus telefonemas. O ritmo de sedução para com seus potenciais compradores eram devidamente acompanhados aos próprios ritmos frenéticos de vida dos vendedores, e aí já sabemos a estória que é: de tanto insistir uma hora alguém tem de ceder. 

Óbvio que existia o dom da lábia dos vendedores, entretanto a essência da idéia de sucesso no agressivo mercado financeiro dos EUA no final século XX era basicamente a seguinte: Seja agressivo, mais persuasivo do que qualquer outro vendedor ao ponto de deixar o outro tonto com sua vitalidade em seu tom de voz ao telefone, e o principal: nunca, jamais aceite um "não" como resposta. 

Com essa cartilha esse cara oriundo de classe baixa mudou sua vida e de muitos que tinham saúde e loucura para acompanhá-lo neste literal jogo sem pudores e regras onde tudo era, e ainda é, regido pela grana e pelo prazer que essa mesma grana proporciona. 

Podemos fechar essa crítica com a seguinte frase que pode personificar ou resumir o filme dita pelo DiCaprio aos seus aliados:" Se precisar vender sua alma ao diabo, que a venda, mas feche o fuck business, pois o resto dessa história sem o negócio fechado não importa em nada para ninguém". Mais uma vez Scorsese nos dá uma aula de como é fazer um belo e bem feito filme. Candidatíssimo a levar a estatueta de melhor filme no Oscar em março.
 
                                                                   *****
 
Clube de compras Dallas, de Jean-Marc Vallée, EUA, 2013. Baseado em fatos reais o filme conta o drama de um Texicano soropositivo para o HIV em 1985 quando o vírus começara a “dar as caras “ em solo do Tio Sam. Quem já teve algum parente próximo com enfermidades em que a ciência ainda não descobriu a cura, terá certamente uma outra percepção do filme por lembrar a fraqueza física e ao mesmo tempo, a fortaleza espiritual de entes queridos por doenças sem cura, sejam esses de câncer ou de AIDS. 

Fato é que a atmosfera do filme tem a toada dessa sublime camada emocional onde toda tentativa é pertinente já que não existe mais nada a perder. O ar do filme nos envolve pela doçura que transcende seus personagens os transformando em anjos e dando lições de humildade aos não doentes e sempre nos lembrando que a vida é apenas uma só. Quando se está a beira da morte o mais natural é que tentemos lutar para continuar vivos, entretanto o filme selecionável ao oscar vai mais além disso através do seu protagonista. 

Além dele correr em busca de novas drogas em outros países existia dentro dele a constatação física de seu definhamento, porém existia mais que a sua magreza nas entrelinhas do roteiro; Existia também o nascimento de um homem melhor através da sua descoberta de ser soropositivo. Seria como se o texicano homofóbico se transformasse em outra pessoa após pegar o virus. Ele Começava a entender através da AIDS que podia ser mais do que era, porém com seu estado de saúde não poderia fazer o que seu aprendizado espiritual lhe ensinara durante o período de dezessete anos que vivera onde o médico na sua primeira consulta o disse que viveria apenas 30 dias, então nada mal viver 17 anos ao invés de 1 mês em pleno estado do Texas de 1985, o estado mais ignorante dos EUA, onde achavam na época que a AIDS pegava com um cuspe ou um aperto de mão. 

A pergunta que fica em minha cabeça é a seguinte: Será que temos que ter a certeza de que iremos morrer para o start da evolução pessoal, será que só desse modo a ficha caí e aí quando queremos continuar vivos já teria sido tarde demais? Será que nunca teremos uma percepção de que somos idiotas, orgulhosos, egoístas demais antes que uma desgraça aconteça?

 Será que não tem um jeito de descobrirmos isso ainda saudável? De fato eu não sei responder a nenhuma dessas perguntas e confesso que este filme me emocionou bastante tanto pela força do protagonista por tentar continuar vivendo e ainda salvando milhares de aidéticos, inclusive contra a mafiosa federação nacional de medicina dos EUA que sempre estão ( até os dias de hoje) mafiadas com as indústrias farmacêuticas, os fazendo desses personagens os grandes assassinos de aidéticos em 1985 ( e hoje também não é diferente, só a ciência evoluiu , as gangues continuam atuando), onde “tratavam” seus doentes como cobaias com remédios que tinham efeitos colaterais que transformavam o vírus mais agressivo ainda e em conseqüência disso milhares, não centenas, mas milhares de gays, drogados e heteros morriam por remédios assassinos em hospitais. 

Então o que nosso protagonista fez? Foi atrás de medicamentos ilegais, mas os melhores da época para amenizar a doença e seus sintomas, principalmente os de dores insuportáveis como câimbras, falta de ar e outros sintomas bem piores. Mas o que mais me chamou atenção nesse filme candidato ao Oscar ( grande merda..) não foram as milhares de vida que esse cara salvou contrabandeando remédios ilícitos do México, Japão e França para revender e salvar a vida e as dores dos doentes americanos , mas sim a lição de moral que ele dá, que é: Tente evoluir, sei lá, dê um pedaço de pão ao mendigo que lhe pede, pois amanhã ou você ou ele não podem estar mais lá, pois como diz o ditado: Para morrer basta estar vivo. 

Não posso deixar de ressaltar a interpretação do protagonista Matthew McConaughey e do ator coadjuvante, Jared Leto , interpretando um travesti com um grande curacao. Ambos são seriíssimos candidatos a ganhar a estatueta industrial do Oscar 2014 ; Os dois incorporam seus personagens aidéticos fisica e emocionalmente principalmente, o que faz toda a diferença. 

O laboratório de construção desses dois atores que vivenciaram os aidéticos deve ter sido extenuante, pois o resultado na tela é simplesmente impecável. São com essas atuações que percebemos quem têm de fato o dom de atuar de verdade ou os que somente enrolam ( hein Leonardo DiCaprio?) 
Acho que estaria entregue em boas mãos se o filme ganhasse o Oscar industrial esse ano porque fala de um caso que pode acontecer com qualquer um de nós e além disso o filme é tocante do inicio ao fim: uma verdadeira aula de crescimento humano e de luta pela própria vida e de muitos outros até o final dos últimos dias do protagonista. Para fechar a crítica com chave de ouro quero lembrar que trata-se de uma história tão verídica que através de sua luta durante os dezessete anos em que o protagonista lutou e viveu contra os mafiosos dos cartéis de remédios norte Americanos, a federação de medicina daquele país por livre e espontânea pressão popular teve que rever seus acordos farmacêuticos corruptos( que se perduram até os dias de hoje e aqui no Brasil é igualzinho) para permitir que drogas que de fato curassem os aidéticos fossem consideradas legais pelo conselho de medicina abaixando drasticamente o número de óbitos pelo vírus na década de 1990 com já os atuais coquetéis que alongam, e muito, a vida desses doentes.

 Que filmaço e forte como é o seu protagonista, embora não o pareça, mas como lembra um ditado popular: Que vê cara, não vê coração.


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