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03/07/2013 às 08:42

2 DE JULHOI História que ainda não foi contada a sério

Uma história que tem mais folclore do que realidade

Tasso Franco

 Todos povos necessitam de seus heróis. Faz parte da cultura mundial desde os primórdios da civilização. Hoje, comemora-se na Bahia o 2 de Julho de 1823, data em que os portugueses comandados pelo brigadeiro Madeira de Melo foram expulsos de Salvador e consolidou-se no Brasil o regime Imperial instaurado por Pedro I desde setembro de 1822, em São Paulo. Historiadores baianos, no entanto, ainda estão devendo a Bahia e ao Brasil um estudo aprofundado das lutas pela Independência da Bahia, os feitos gloriosos tão cantados por políticos e outros mostrando a realidade do que aconteceu, as reais batalhas, os feitos heróicos apontados com tantas loas e tintas exageradas.

   Ao que se sabe com alguma precisão é de que não ocorreram tantas "batalhas" como se dizem, em Pirajá houve trocas de tiros com mortes, a ocupação da cidade do Salvador na madrugada do 2 de Julho se deu sem lutas, Madeira de Melo conseguiu colocar toda sua Divisão Auxiliadora em navios e zarpou para Portugal, sendo observado ao largo pela "frota" de Lord Crochane, o qual teria ainda feito perseguição no mar, sem sucesso. Aliás, diga-se de passagem, Thomas Crochane, comandante em chefe da Esquadra Brasileira com sua frota ancorada em Morro de São Paulo não teve coragem de invadir Salvador pelo mar temendo um revés das forças de Madeira.

O que aconteceu na Bahia 1822/1823, no sentido mais amplo da palavra, foi uma guerra de cerco a Divisão Auxiliadora (tropa de elite portuguesa) comandada por Madeira, nomeado pela Corte para substituir no governo da Bahia a Manoel Pedro de Freitas Guimarães, o qual foi vendo suas forças se exaurirem por falta de víveres, daí que reuniu o que possuia de alimentação, água potável e medicamentos, fugindo para Portugal sem sofrer perdas. Foi uma retirada estratégica calculada para atravessar o Atlântico, mais de 50 dias de viagem, com homens em armas manuais e pouca comida. Madeira chegou a Portugal com sua Divisão, e essa parte da história nunca foi revelada em detalhes, como ele conseguiu tal proeza e o que se passou a partir daí no Reino de João VI. 

   Madeira também não representava uma ameaça ao Brasil porque sua tropa era pequena e Dom João VI, atolado com problemas para manter seu reino em Portugal depois da revolta do Porto, não queria briga com o filho (Pedro I) e deixou Madeira a ver navios.

   Todo heroismo baiano precisa ser passado a limpo desde Joana Angélica (morta por acaso) a Maria Quitéria; general Labatut, Crochane, Batalhão de Encourados, João das Botas e sua "frota" de chalupas, Batalhão Voluntários da Pátria (Periquito) e outros. Tem-se muito folclore e pouco realismo, uma espécie de história romanceada e o avô de João Ubaldo deu uma boa contribuição lá em Itaparica, onde já surgiu até uma heroina do cansanção, que teria dado surra de folhas de urtiga em portugueses armados de mosquetões. 

   Vê-se, pois, o quanto tem que se levar adiante um projeto de envergadura e que possa trazer à luz da realidade esses fatos, desde as tais lutas do Recôncavo até o 2 de Julho.

   Estima-se que nas lutas da Independência, o Exercito Pacificador dos senhores de engenho do Recôncavo sob o comando de José Joaquim da Lima e Silva apoiados por Pedro I teria entre 8.000 a 10.000 mil homens, no auge; e as tropas de Madeira (Divisão Auxiiliadora) 4.000 homens. Mas, o número de mortos e batalhas são incertos. Ninguém sabe quantos canhões foram usados, quantos cavalos e carroças, quantos tiros foram dados e assim por diante.

   Agora, vamos a alguns números de duas guerras que acontecerem nesse mesmo período na Europa e nos EUA. Napoleão Bonaparte dominava parte da Europa desde 1808 quando Dom João VI teve que atravessar o Atlântico protegido pela esquadra inglesa para manter seu reino no Rio. Napoleão já ocupara a Peninsula Ibérica, países vizinhos da França e seu Grande Armée (Exército francês estava constituido por tropas da Holanda, Itália, Portugal, Prussia, etc) ocupara os paises baixos e o imperador, pensando ser dono do mundo, resolveu marchar contra a Rússia do tzar Alexandre I. Antes, propôs um pacto com Alexandre, mas este disse não. 

   Em 1821, napoleão colocou o Grande Armée em movimento e invadiu a Rússia. Chegou a ocupar Moscou e tzar se instalou em St Ptisburgo com suas tropas na defesa do pais. Quando Napoleão invadiu Moscou o general Fyodor Rostochin mandou queimar a cidade e o imperador ficou desolado. Moscou tinha 270.184 habitantes e 6.584 casas de madeira e 2.567 de pedras. 

   Napoleão estava acostumado a invadir um país e ser recebido pelos nobres de cabeça baixa. Com as tropas do Armée no território russo, Alexandre I nomeou o marecharl de campo Mikhail Kutuzov e reorganizou contra-ofensiva, incluindo o exercito tradicional (158.000 homens e 640 canhões), + 10 mil coassacos (cavalaria ligeira) e 30 mil milicianos na guerrilha. Napoleão recuou e bateu em retirara para a França. 

  Nessa operação de invasão e recuo estima-se que o Grande Armée perdeu 600.000 homens e o exército russo 400.000. Portanto, morreram 1.000.000 de pessoas. 

   Na batalha de Moscou morreram 48.000 russos e 28.000 franceses, sendo depois enterradas 35.478 carcaças de cavalos. A invasão e recuo de Napoleão (menos de 1 anos de guerra) aconteceram várias batalhas. 

   Vamos citar só duas delas a mais: a batalha Smolensk (cidade estratégica no caminho para Moscou), o Grande Armée abriu fogo com 200 canhões e mais de 1.000.000 de tiros de infantaria. Morreram 11.000 russos e dois generais. Da França, 7.000 franceses tombaram. Na sangrenta batalha Lubino Valutin Gora, o general russo Tuchow perdeu 9.000 homens em 48 horas; e o geranl francês Davot 7.000 homens. 

   Nei, Davot e Armand Caulaincourt foram os grandes heróis do Armée. Da Rússia, Kutuzov, Barclay de Tolly e Pitor Bragantin. Napoleão teve sua derrota final em Waterloo por um exército misto de prussianos e ingleses sob comando de Wellington e Blucher, em 1815. O tzar Alexenadre I entrou triunfalmente em Paris, montado a cavalo. Napoleão Foi exliado em Santa Helena e morreu em 5 de maio de 1821.

   A outra guerra em período do século XIX assemelhado a época da Independência da Bahia deu-se nos Estados Unidos, a partir da posse de Abraham Lincoln, março de 1861, quando este assume um país dividido entre Norte (mais industrial) x Sul (mais escravista) herança deixada pelo presidente James Buchanan, o qual não conteve o desejo separatista na raiz e deixou o pepino para Lincoln. Deu-se, então, a Proclamação da Emancipação Escravista, 1862, e a guerra (civil) de Secessão. Resultado: 600.000 mortos. Foi nesta guerra que os historiadores descobriram um caso ou relacionamento afetivo entre Lincoln e o capitão David Derickson, da chamada Brigada do Rabo de Cervo.
Os separatistas tentaram invadir Washingon várias vezes e várias batalhas aconteceram com milhares de mortos. Vou citar duas batalhas ja no terceiro ano da guerra. As forças federais de Lincoln sob comando do general Grant se prepararam para ocupar Gettysbur, na Pensilvânia, ponto estratégio das forças separatistas comandada pelo general Lee. Lutas sangrentas e Lee recuou mais ao Sul. Resultado: os rebeldes perderam 28.000 homens e as tropas comandadas pelo general Abner Doubleday 23.000 no lado da União. Por coincidência, o final dessa batalha deu-se a 2 de Julho.

   Depois veio a batalha final de Richomond para conquistar Atlanta. No espaço de sete semanas foram lutas e bombardeios incessantes resultando em 85.000 mortos dos dois lados. O biógrafo do general Grant classificou esse final da guerra como "pesadelo de desumanidade".

   Fim da guerra, país aparentemente pacificado, escravidão por fim, Lincoln foi ao teatro Ford, em Washinton, para falar e comemorar, sendo assassinado com um tiro na nuca pelo confederado John Wilkes Booth, abril de 1865.

   Então, voltando as "lutas" pela Independência da Bahia e os feitos heróicos está quase tudo mal contado, sem provas de origem primária, invencionice por todo lado, e algum historiador precisa fazer esse resgate.



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