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13/05/2011 às 17:02

BAHIA APAGA A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA DA SUA HISTÓRIA

Data deveria ser comemorada com ardor

Tasso Franco


Foto: ARQUIVO
Missa campal no Rio de Janeiro, reúne vinte mil pessoas, celebra a abolição, em 17/5/1888
    1. A Bahia desconheceu, hoje, a data da Abolição da Escravatura, lei Áurea que foi promulgada pela princesa Isabel de Bragança, em 13 de maio de 1888, e extingiu a escravidão no Brasil. Um marco, momento importantíssimo na história da Nação, responsável, inclusive, por apressar a queda do Império e instalar-se a República, e que passaram a borracha como se nada tivesse acontecido.

  2. A nova dialética dos movimentos negros e dos políticos engajados nessa nova onda se move no sentido de menosprezar esse momento da história e valorizar o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Ora, história é fato e a Lei Áurea, por mais que se queira desdenhar desse movimento, não nasceu de uma hora para outra, e sim na Campanha Abolucionista que agitou o final do século XIX, no Brasil, e em todo continente americano.

  3. O Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão. Daí vocês podem ter uma idéia da luta dos negros que data do século XVII, de forma mais intensa, da imprensa, de personalidades da política, da midia, do meio econômico, Luis Gama, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Silva Jardim, Rui Barbosa, Castro Alves, José Bonifácio, Eusébio de Queiroz, Plínio de Lima e tantos outros.

  4. Aqui na Bahia é sempre bom lembrar, a abolição se deu 65 anos após a independência da Bahia e durante todos esses anos eclodiram muitos movimentos pela liberdade, por novos ares políticos, inclusive a Revolta dos Malês, que é de 1836. Os maçons David Canavarro e Bento Gonçalves emanciparam escravos durante a Guerra dos Farrapos, em 1839. Pernambuco era um barril de pólvora.

  5. O movimento abolucionista foi nacional e não uma determinação imperial, uma vontade da regente da Corte uma vez que seu pai (Dom Pedro II) estava em viagem a Europa. O Ceará e Amazonas decretaram a libertação dos escravos em 1884. São Paulo e Minas Gerais, a base da economia nacional da época, deu-se uma guerra e foi exatamente o fim da escravidão, em conjunto com outras forças, que fez com que a elite endinheira tirasse o tapete (lastro econômico) do Império.

  6. A primeira lei abolucionista no Brasil foi de 28 de setembro de 1871, a Lei do Ventre Livre, do gabinete conservador de Rio Branco. A partir desta data, os nascidos de famílias negras eram considerados perante a lei libertos.

  7. Na midia, existem centenas de publicações e a Revista Ilustrada é uma das mais importantes dessa época. Imaginem vocês o que representava publicar uma charge nesse momento glosando um personagem do Império. Se ainda hoje tem quem censure cartunistas e ilustradores, pense-se em 1880/1890.

  8. Portanto, é uma pena que todo esse movimento seja esquecido, jogado as traças, como se a Lei Áurea tivesse nascido por inspiração divina e pela bondade da princesa Isabel, e não nas lutas dos negros, dos jornalistas, dos juristas, dos políticos e assim por diante.

  9. Apagar a memória da história dessa maneira é um perigo, pois, daqui a 100 anos, pelo andar da ignorância e da falta de estudos sobre a matéria, os movimentos de hoje terão o mesmo destino. É só olhar o que aconteceu com a decisão do STF sobre a União Homoafetiva. Aconteceu depois de anos, de décadas de lutas. E O STF, como a princesa Isabel, foi o móvel, a caneta que determina cumprir a lei.

 


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