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11/10/2010 às 10:00

REFLEXÃO AINDA SOB O CALOR DA BATALHA

Domingos Lenelli é ex-deputado federal

Domingos Leonelli


Foto: BN
Domingos Leonelli comenta desempenho do PSB na campanha eleitoral de 2010

O PSB da Bahia saiu vitorioso e mais forte das últimas eleições com a conquista do mandato da primeira Senadora da Bahia, nossa companheira Lídice da Mata. Sofreu, no entanto, derrotas sérias sobre as quais precisamos refletir. Analisar essas derrotas e extrair  delas as lições para o futuro.

Penso que a melhor maneira de agradecer o apoio que recebi, cuja maior expressão foram os mais de 50.000 votos livres e conscientes, de reconhecer  a importância das nossas candidaturas a deputado estadual e também às outras candidaturas a deputado federal é repassar, ainda à quente minhas primeiras percepções abrindo um debate no partido capaz de transformar experiências vividas em aprendizado e em práxis política.


O PSB e o quadro geral


O PSB está inserido num contexto de avanço geral das forças políticas que se caracterizavam como  esquerda brasileira, sob a hegemonia do PT.


Essas forças que já haviam ganhado as eleições nacionais de 2002 com a candidatura de Lula à presidência da República, reproduziram aqui na Bahia com Wagner à frente, o projeto de avanço e inclusão social que Emiliano José chama de " revolução democrática".


A força hegemônica (o PT) e seus aliados (inclusive nós do PSB) à esquerda e ao centro fizeram a Bahia avançar em quase todas as áreas. Mas, de maneira geral, adaptaram-se eficientemente ao modelo político que resultou desse avanço.Uma transição com métodos e discursos modernos e também algumas práticas anti gas.


Esse paradoxo entre modernidade e conservadorismo, ainda que inevitável, nos períodos de transição (no caso da Bahia transição do carlismo para a esquerda) são agravados pela fragilidade legislativa dos novos governos. Tanto o de Lula como o de Wagner.

O fato é que ao lado da conquista do voto de opinião dos cidadãos principalmente para a chamada chapa majoritária - governador, vice, senadores - verificou-se, também, a cooptação de lideranças políticas e a utilização de pesados recursos financeiros na campanha proporcional.

Ficou pouco espaço para a conquista tradicional de votos (para a esquerda) via apresentação de bom desempenho nas funções públicas, coerência e história dos candidatos proporcionais. Prevaleceu o uso das máquinas (sindicais, oficiais e religiosas) e o dinheiro para atender as exigências dos antigos cabos eleitorais que agora se autodenominaram de "lideranças" e precisam remunerar pessoal para distribuir panfletos; transportes pessoais e outros etcetaras. E nos grandes centros, as curtas aparições de proporcionais na TV (os candidatos a deputado apareciam em programas temáticos) foram substituídas pelas milionárias produções de placas, cartazes e pinturas.


Sob o manto da enorme popularidade de Lula - justíssima- constataram-se as práticas políticas mais antigas, algumas estranhas à história do nosso grande presidente.


Por outro lado, a realização conjunta de eleições proporcionais e majoritárias reduz enormemente a presença, a importância e a relevância para o eleitor das candidaturas a deputado estadual, deputado federal e vereadores.O principal esforço de inteligência nos meios de comunicação, na forma física de campanha (carreatas, comícios, caminhadas) tudo converge quase que exclusivamente para a campanha de Presidente, Governador, de Prefeito e de Senador ou Senadores.


Assim é que se desenhou um quadro merecedor de reflexão: enquanto as campanhas majoritárias possibilitaram ao eleitor uma escolha consciente, uma avaliação minimamente racional e um volume de informações (ainda que tratada pela publicidade) bastante razoável, a disputa pelo voto de deputados era um verdadeiro "pega pra capar" fisiológico e financeiro.


A hipocrisia da legislação eleitoral que proíbe bottons, camisas, out-door, showmício, mas permite contratação de pessoal, acaba por valorizar ainda mais a travestida compra de votos disfarçada de contrato de trabalho com panfleteiros e prestadores de "serviços". Enquanto alguns candidatos contratavam apenas algumas dezenas de pessoas que realmente se limitavam a distribuir panfletos, dirigir carros e trabalhar na campanha, outros incorporavam muitos milhares de "militantes profissionais" obviamente em troca do voto dos mesmos.


E se considerarmos que apesar dos 14 milhões de empregos gerados no Governo Lula, apesar de programas como Bolsa Família, Água para Todos, Luz para Todos, Pronaf, Minha Casa Minha Vida, e tantos outros, ainda temos legiões de jovens desempregados nos bairros das grandes cidades, milhares de ruas com esgoto a céu aberto, milhões de pessoas morando miseravelmente, centenas de milhares de garotos e garotas viciados em crack ou cooptados pelo tráfico, a força do "trabalho" temporário desses jovens para campanha eleitorais ou a troca do voto por benefícios mínimos realizados pelos poderes públicos, ganham uma relevância decisiva. 


Claro que cabem as perguntas obvias: - você não sabia disso, antes? Não são essas as regras do jogo? Porque então, entrou na disputa? A resposta não é fácil e talvez corresponda a um conjunto de elementos tido para muitos como subjetivo e inconsistente: esperança. E além da esperança o cumprimento de deveres partidários, a ingênua vaidade oriunda da força moral, talvez uma certa ilusão ideológica. Mas, acima de tudo, no erro de avaliação da realidade concreta.


Para nós do PSB vale a pena analisar alguns outros fatores, erros e acertos que em minha opinião contribuíram para a grande vitória da eleição de Lídice, para a perda da nossa cadeira na Câmara Federal e para nosso fraco desempenho para a Assembléia Legislativa.


Acertos:     

Erros, Equívocos e Ônus

E finalmente, sentimos na campanha, os reflexos de um problema estrutural do nosso partido: a insuficiência de quadros políticos e administrativos. O envolvimento de nossos maiores dirigentes nas esferas do executivo e nos legislativos, deixou-nos sem o número suficiente de assistentes e dirigentes aos nossos núcleos, diretórios municipais, diretórios zonais e comissões provisórias dos municípios . Em resumo a função definida como direção política não se realizou plenamente antes, durante e depois das eleições.


As reflexões acima constituem-se no meu ponto de vista estritamente pessoal sem nenhuma discussão com a Direção Estadual, candidatos e outras instâncias partidárias. É apenas um ponto de partida e uma contribuição pessoal, repito, para uma discussão mais ampla e sistematizada.

Saudações socialistas, Domingos Leonelli


https://bahiaja.com.br/artigo/2010/10/11/reflexao-ainda-sob-o-calor-da-batalha,535,0.html