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19/01/2009 às 10:04

O SILÊNCIO DA BAHIA SOBRE OS 500 ANOS DE CARAMURU

Tasso Franco é diretor deste site

Tasso Franco

Camara Viana do Castelo
Monumento da Diogo Alvares e Catarina em Viana do Castelo, Portugal

            Este ano e mês completa-se 500 anos da chegada do português Diogo Alvares a Bahia, mais precisamente a Mairiquiiniq (Mariquita) no Rio Vermelho onde naufragou (ou teria sido deixado pelos franceses), em 1509, para se tornar um dos personagens mais importantes da história no Estado. Infelizmente, com esse novo viés da cultura baiana onde tudo é afro, ao que sei, aliás como aconteceu com os 200 anos da chegada da Corte Portugesa a Bahia, a data está passando em brancas nuvens.

           
           É lamentável, triste e inaceitável que isso aconteça. Talvez por falta de desconhecimento da história aos atuais gestores da cultura no Estado, extensivo a segmentos da iniciativa privada - colégios, universidades, instituições e outros - a reverência a Diogo Alvares, o Caramuru, o maior mito baiano e brasileiro, esteja relegada a um plano inferior. Tão inferior que, sequer, existe na cidade do Salvador uma mínima homenagem à sua personalidade.


            O Largo da Graça onde ergeu o primeiro templo católico no Brasil, em 1529, a Capela de Nossa Senhora da Graça, hoje Igreja da Graça e Mosteiro Beneditino, local onde está sepultada sua esposa, Catarina Paraguaçu tem o nome de um médico que teve uma fugaz passagem por Salvador. O que se há de fazer? Nada. Engolir a seco essa incompetência generalizada com a Memória da Cidade do Salvador que não respeita suas figuras lendárias e sua história.


            Quer outro exemplo: a Rua Direita do Palácio, mais conhecida como Rua Chile, é a mais antiga rua do país, mas, comemorou recentemente 100 anos. Parece até piada, porém, foi o que aconteceu. Quem traçou e abriu aquela rua foi o mestre-de-obras Luis Dias da comitiva de Tomé de Souza, em 1549, sendo a mais antiga do Brasil. Ai trocaram o nome para Rua Chile, numa insanidade mental devido a presença de navios chilenos no Porto, e assim continua até hoje.


            Não duvidem se passar uma esquadra da Venezuela e/ou da França, já que se comemora o ano França no Brasil, e receber um novo nome. Nesta cidade do Salvador tudo é possível, ainda mais agora.


            A presença de Diogo Álvares, o Caramuru, é tão emblemática que foi ele (com Catarina Paraguaçu) os responsáveis pelas primeiras miscigenações nacionais, a mistura racial do europeu com o tupinambá, gerando a mestiçagem inicial da Bahia reforçada anos depois com os africanos.

           
           Se considerarem que isso é pouco foi Caramuru o primeiro europeu a casar-se com uma tupinambá numa igreja católica, na Europa, em Saint Malo, no Noroeste da França, em 1528, com papel passado e tudo na Basílica de São Vicente. É um fato relevantíssimo para a história do pais, embora, o MINC, em 2008, quando promoveu o ano do Brasil na França desconheceu completamente esse assunto por pura ignorância e o ministro e o secretário geral eram da Bahia, Gilberto Gil e Juca Ferreira.

           
            Diogo Álvares é responsável pela maior lenda nacional - Caramuru, o Deus do Trovão - ainda hoje e após 500 anos muito forte na memória popular brasileira. Foi graças a isso que surgiu um dos poemas épicos mais respeitados do país e também foi graças a Caramuru que aconteceu a guerra tupinambá contra o primeiro donatário na Bahia, Francisco Pereira Coutinho, o Rusticão.

           
          Os descendentes de Caramuru - filhos, netos, bisnetos, tataranetos - comandaram a Bahia e o Nordeste por 300 anos consecutivos e bancaram a Guerra da Independência da Bahia, os Albuquerques, os Aragões, os D`Ávila e outros. E veja que, por representação popular do imaginário baiano são eles os heróis da festa do 2 de Julho configurados nos carros da cabocla e do caboclo, Catarina e Caramuru, reverenciados pelo povo como figuras míticas embora, muitos não conheçam a sua história. E, está no Campo Grande, o símbolo mais importante da cultura mítica popular baiana na expressão "chorar no pé do caboclo" que é uma coisa única no país.

         
   Ou seja, chorar nos pés da história, chorar nos pés de Diogo Álvares, o qual, embora portugues e esteja merecendo todas as homenagens em sua terra natal, Viana do Castelo, em Portugal, em Salvador, onde é caboclo, deus do trovão, pai inicial da pátria Bahia na pré-colonização é tratado como um joão-ninguém.

      Hoje, assume a Fundação Gregório de Mattos, o órgão oficial da Prefeitura, o jornalista e poeta Antonio Lins. Se conseguir resgatar a figura do Caramuru entra pra a história. Caso contrário, passará ao largo falando de descentralização cultural.


     Respeitem, pois, a memória de Diogo Alvares, o Caramuru


https://bahiaja.com.br/artigo/2009/01/19/o-silencio-da-bahia-sobre-os-500-anos-de-caramuru,315,0.html