Esporte

Copa do Mundo pode ajudar luta das iranianas para ver futebol no Irã

Copa do Mundo pode ajudar luta das iranianas para ver futebol nos estádios do seu país
Nara Franco , RJ | 21/06/2018 às 23:15
Torcedora iraniana
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As iranianas estão aproveitando a Copa da Rússia para assistir a partidas de futebol. No Irã, a entrada de mulheres nos estádios é proibida. “Não poder ir ver seus times favoritos faz com que se sintam como cidadãs de segunda classe”, disse ao jornal EL PAÍS a feminista iraniana Sussan Tahmasebi, lembrando que o futebol é o passatempo nacional do Irã. “É uma questão de segregação. As iranianas são contra a existência de lugares vetados para elas, mas além disso, no caso dos estádios, a mensagem é de que elas não têm o direito de se divertir”, acrescenta.

Durante a Copa da Rússia, o presidente da FIFA vem pedindo ao governo do Irã que reveja a proibição. A última vez que as mulheres puderam assistir a um jogo de futebol no Irã foi em 5 de outubro de 1981. Os muçulmanos tinham acabado de tomar o poder após a revolução que derrubou o xá e a proibição de acesso aos estádios em jogos com times masculinos foi mais uma das restrições impostas ao gênero feminino.

Como justificativa para essa medida, as autoridades iranianas apontam o ambiente grosseiro e boca suja nas arquibancadas. Com mal disfarçado paternalismo, argumentam que o comportamento dos torcedores “não é adequado para mulheres e famílias”, que a medida é para o bem delas. 

Algo, porém, havia mudado. Desde então, tanto as fãs do esporte-rei como as ativistas dos direitos das mulheres não pararam de fazer campanha. Dentro e fora dos estádios, onde as mais ousadas por vezes conseguem entrar disfarçadas de homem, com perucas e barbas postiças. Isso foi retratado em Offside, filme de Jafar Panahi, que se inspirou em sua própria filha.

Algumas mulheres chegaram a ser presas em março passado durante a visita de Gianni Infantino, o presidente da FIFA, ao Irã. Para a decepção das torcedoras, Infantino não levantou a questão publicamente enquanto esteve em Teerã, mas ao que tudo indica a presença de muitas iranianas na Copa mudou a opinião do dirigente. 

O que inicialmente era uma reivindicação minoritária tornou-se parte da agenda política do Irã e não só das mulheres. A decisão da rival Arábia Saudita de permitir a presença de mulheres nos estádios tem aumentado a pressão pelo fim de uma medida anacrônica e que, segundo as ativistas, não tem justificação religiosa