Economia

O FUTURO DA ÁGUA e o gerenciamento competente, por MILTON CEDRAZ

Milton Cedraz – Técnico em Desenvolvimento Econômico pela Cepal/ONU - Consultor do PNUD/ONU - mcedraz@globo.com
Milton Cedraz , Salvador | 22/03/2017 às 08:13
Dia da água
Foto: DIV
   Atribui-se a Charles de Gaulle, a afirmativa de que “Le Brésil n`est pas um pays sérieux”, coisa que jamais disse. O próprio embaixador brasileiro, Carlos Alves de Souza, desfaz esse equívoco em seu livro, “Um embaixador em tempos de crise”, afirmando que a frase partiu de um comentário seu, quando “da guerra da lagosta”. 

   O mesmo acontece sobre a afirmativa de que “a terceira guerra mundial se deflagrará por disputa da água". Esse novo equívoco nasceu de um “press-release” do Banco Mundial que comentava as futuras dificuldades com a água, sem citar, o vocábulo guerra. 

   A água no mundo nunca vai acabar, pois, dele não sairá. A água potável sendo um bem finito, renovável e com valor econômico, só precisa de equilíbrio entre a quantidade disponível e a utilizada.
71% da superfície da terra estão cobertos de água e a quantidade total está estimada em inconcebíveis 13,6 bilhões de km³! 

   Os oceanos representam 97,2% desse total, enquanto os gelos polares armazenam 2,15%. Dessa forma, a humanidade dispõe apenas de 0,65% de água doce, dos quais, 0,62% são subterrâneas. Com tecnologia de baixo custo, para dessalinização e reutilização, estes volumes poderiam ser bastante acrescidos.

   O total médio das chuvas, em terra firme, é estimado em 113.000 km³ e, levando-se em conta uma evaporação de 72.000 km³, resta um influxo de 41.000 km³, a cada ano, o que equivale a 30 cm de cobertura com água na área de terra.  Desses, se pode acessar cerca de 32.900 km³, já que a diferença se precipita sobre rios.

   Considerando-se os curtos tempos das precipitações, só se consegue captar cerca de 75% dessa água que somada à capacidade de armazenamento das barragens, chega-se a um total de 12.500 km³. Isso equivale a uma disponibilidade média de cerca de 7.500 litros por pessoa por dia no mundo. 

   Considerando-se que o volume adotado, para efeito de projeto de abastecimento de água para a população, é em média de 150 litros per capita dia, pode-se inferir a grande sobra que ainda se dispõe. 

   É evidente que, problemas pontuais, de abastecimento de água, existem no mundo, como os casos de São Paulo, e do Nordeste. Isso, por imprevidência e planejamento inadequado. Caso se tivesse elaborado um Plano Diretor de Abastecimento de Água, com horizonte de longo prazo, ter-se-iam identificado os problemas a tempo de se projetar e construir as soluções, como se fez para Las Vegas e Nova Yorque.  

   Os conflitos seriam dessa forma conhecidos e a solução encontrada, muito antes da instalação das crises.  Sabe-se que São Paulo dispõe de um dos maiores lençóis subterrâneos do mundo, porque não usá-lo? No nordeste, certamente não será com a transposição que se resolverá seu secular problema e sim com uma extensa rede capilar de distribuição das águas armazenadas, em numerosos e por vezes grandiosos, reservatórios superficiais e subterrâneos. 

   No mais, é se adotar uma gestão e gerenciamento competentes, sem politicagem e cacoetes ideológicos, ao lado de iniciativas para driblar a escassez, evitando desperdícios e instituindo, legalmente, em qualquer região ou situação, dentre outras, por exemplo, norma de que “nenhum prédio possa ser prédio possa ser construído sem dispositivos para captação e uso de água de chuva e reuso das águas servidas.