Oséas foi um ermitão que vivia isolado em seu sítio localizado entre os bairros Santa e Rodagem
Tasso Franco , da redação em Salvador |
02/08/2021 às 09:23
Avenida João Antônio da Silva, a principal do bairro
Foto: BJÁ
Na série sobre a história dos bairros de Serrinh, hoje, falaremos do Oséas. Trata-se de um bairro localizado na zona Centro-Oeste entre os bairros Rodagem e Santa, relativamente novo, que data dos anos 1980/1990 e é 'sui-generis' porque o único da cidade com o nome de um personagem, o sitiante - proprietário ou morador de sítio, quinta ou roça - José Oséas de Santana. Mais original é impossível.
E quem foi esse personagem conhecido apenas por Sêo Oséas?
Aí está um dos maiores mistérios da Serra. Meu avô, Jovino Franco, tinha sitio cerca com cerca com Oséas separadas com a construção da BR-Transnordestina, em 1933, na divisa com o hoje bairro Abóboras. Meu pai, Bráulio Franco era amigo de Oséas. Eu, conheci Oséas e prosei com ele. Minha irmã Celeste Queiroz, oficial de cartório por longos anos, conheceu demais Oséas e até ganhou dele um lote no Oséas.
Sêo Oséas era cliente de Gonzaga e da loja Mercês na praça Miguel Carneiro onde comprava materiais de construção. Conversei com mais de dez pessoas no bairro sobre Oséas e todos elas e mais minha irmã que conhece a história de meia-Serrinha, não sabe dizer donde surgiu Oséas, se era filho de Serrinha, e quem foram seus pais, se nascidos em Serrinha ou Alagoinhas.
Um mistério. O certo é que Oséas existiu. Era alto, agalegado, fechado, calado e tinha uma vida de ermitão - aquele que evita contado social - e vivia sozinho em seu sítio. Seu mundo era o sítio, suas poucas vacas, as árvores frutíferas e seu eu, seu Deus interior. Era impenetrável. Não participava de nenhum movimento cultural da Serrinha e muito menos social e religiosos. Não frequentava a 30 de Junho, as sessões da Câmara, o Clube, o Só Falta Você, a Coréia, os jogos de futebol, a missa do padre Demócrito, nada. Solteirão, assim morreu, sem filhos.
Minha irmã Celeste me contou que quando ele ficou velho, doente, na década de 1990, uns parentes seus de Alagoinhas o levaram para aquela cidade, onde faleceu e foi sepultado.
Mas, será possível uma coisa dessas? O personagem que tem seu nome num bairro, que ainda hoje é considerado um 'santo' no sentido de purificação da alma, de nunca ter matado um gafanhoto, e que deveria estar em Serrinha, tem seus restos mortais em Alagoinhas. Isso faz parte da vida e da história. O fundador de Salvador, Thomé de Souza, está seputado em Portugal, e sequer tem um memorial na cidade da Bahia. E Oseas sequer tem uma foto, uma estátua no bairro que leva seu nome.
COMO SURGIU O BAIRRO
Com o passar dos anos e a abertura da BR-Transnordestina que dividiu Serrinha ao meio na linha Leste-Oeste seguindo para o Norte em direção ao distrito da Pedra (Teofilândia), o surgimento do bairro da Rodagem e seu crescimento, e na década de 1950, a implantação da santa Senhora Santana na colina de dr Samuel, surgindo o bairro da Santa, posteriormente, o sitio do Oséas foi perdendo a finalidade, leite se comprava em qualquer venda empacotado e o sitiante resolveu lotear o espaço em que vivia.
A principal avenida do loteamento ele deu o nome do seu pai - João Antônio da Silva - e na década de 1980, no governo Zévaldo Lima, implantou-se um assentamento chamado Mutirão na zona Oeste do bairro com construção de casas e um campo de futebol, além de posto de saúde, hoje, PSF Mutirão. E o loteamento foi ganhan do vida com ruas que remetem a times de futebol Olaria, Campo Grande, Palmeiras, Fluminense, Bahia, Vitória e outros.
Bairro ainda semi-estruturado com algumas ruas sem calçamento e áreas livres que permitem seu crescimento na direção do Mutirão e do antigo Castelo (abandonado) no topo da João Antônio, já foi considerado segundo Franklin Mota - morador do local - como um dos "mais perigosos e ninguém passava às noites" fama que também pegou em determinadas áreas do bairro da Santa, que seria feudo de alguns possíveis bandidos que viviam armados e atormentavam a área, inclusive uma famosa gangue de jovens, hoje, não tem mais essa fama e vive na paz.
Um morador do bairro, o professor Joseval Passos, que viveu um tempo na rua Fernando Carneiro cuja extensão ia até a antiga Cooperativa de Serrinha onde foi construido o Mercado Muncipal, diz que conheceu bem Oséas e que ele gostava de uma prosa embora fosse um cidadão reservado. Em depoimentos que Joseval enviou para mim diz que Oséas, já de cabelos brancos, era explorado por alguns políticos de Serrinha que iam fazer campanhas no bairro e o colocavam em cima de um caminhão para dar depoimentos.
"Morreu de bem com a vida e vendendo lotes na grande área que possuia", completa Joseval.
BAIRRO BEM RESIDENCIAL
Todos os bairros em Serrinha têm um misto de residências, comércio e serviços. No Oséas, no entanto, predominam as residências com poucas casas comerciais e de serviços, ainda que elas existam sobretudo na João Antonio e na Fernando Carneiro. Há, nas proximidades do bairro, os Colégio Ivete Oliveira e Ana Oliveira que atendem os filhos dos moradores em ensino fundamental, um PSF, área de lazer (Campo do Murirão) e muitas ruas são calçadas em paralelepípedos. Está a um passo do centro, do Mercado Municipal e da zona comercial desse sub-centro.
Há, no bairro, duas casas onde Oséas teria morado na João Antônio e na Olaria. Não consegui uma confirmação dessas moradas. O bairro limita-se com os bairros Santa, Rodagem e Centro. Hoje, bem valorizado, é considerado uma excelente morada.
