Cultura

DATAS: TUDO PEDE SOSSEGO E A PAZ DO DESCONHECIDO p ZÉDEJESUSBARRÊTO

ZédeJesusBarrêto é jornalista
ZédeJesusBarrêto , Salvador | 21/04/2021 às 14:05
Tiradentes
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 Datamos o tempo, marcamos os dias em busca de significados para a vida.

Aniversários, feriados, anos novos, ritos, festejos ... 

 O que seria desse viver sem os domingos, os sábados de guarda, as sexta de branco, os dias santos, as datas magnas ?

 Assim, elaboramos um calendário cheio de lembranças e obrigações, celebrações litúrgicas, folguedos, paradas, palanques, rituais, louvações ...

 - Tem o natal de Papai Noel, a Páscoa, águas de Oxalá, Ramadã, Yon Kipur, semana das cerejeiras, o ano chinês, os signos astrais, o dia de são nunca, o prazo do pagamento e tudo mais ...  

  Ah!, Tiradentes, dia da Consciência Negra, dia das Mães, da sogra, da criança, do Índio, do descobrimento, dos renascimentos, da morte do ídolo, da abolição, das “revoluções”, os heróis, as conquistas, perdas, o dia do (des)casamento, do beijo, da usura, o mês de Maria...  Ah, e os santos, tantos !

 Em janeiro tem a Boa Viagem, Reis, Lavagem do Bonfim, depois vem Iemanjá, carnaval, quaresma... em abril tem São Jorge, nosso Oxóssi guardião dos terreiros de Ketu... Só em junho tem Antônio, João, Pedro & Paulo, e depois o Dois de Julho e o agosto das pipocas, a primavera de setembro, por aí vai, vamos nós.

 De formas que dessa maneira vamos preenchendo esse tolo viver, com comidas, bebidas, choro, riso, foguetes, defuntos, cantorias... um lufa-lufa de (des)encontros e afazeres sem conta para ocupar o tempo e justificar esse existir efêmero e  tantas vezes absurdo nesse planetinha minúsculo, errante e belo.

  Aí um dia lá pras tantas, as carnes moídas, a gente enche o saco disso tudo e pede o sossego do nunca mais, a paz do desconhecido. 

  Então, como diria minha mãe Zuite, que Deus a tenha no reino da Vossa glória, as significâncias vão perdendo o sentido, a caminha e o cobertor surrado tornam-se o lugar e único aconchego confortável desse mundo com o qual vamos perdendo aos poucos as intimidades...

  Dai, vai chegar a hora de dizer como meu pai Seu Zé: - Ói, até foi bom, mas não quero mais comer esse cuscuz.