Cultura

Livro Acamara de Aramaca reapresenta a Costa do Dendê em olhar inédito

Lançamento acontece na Câmara Municipal de Nilo Peçanha e terá distribuição gratuita
Clube Press , Salvador | 05/03/2020 às 17:29
Francisco Marques Magalhães Neto,
Foto: Divulgação

Acamara de Aramaca é um projeto que traz, em livro, fotos e audiovisual, um resgate das tradições da Costa do Dendê por meio do olhar do fotógrafo Aramaca. Esse personagem da vida real empresta não só suas lentes e sua sensibilidade para os cliques, mas também suas lembranças pessoais, que são confrontadas com as transformações pelas quais a região passou ao longo dos anos. O projeto será lançado na próxima terça-feira (10), às 14h, na Câmara Municipal de Nilo Peçanha, e contará com apresentação do grupo de Zambiapunga local, o maior do País e um dos destaques retratados no projeto. Na quarta-feira (11), às 19h, o livro ganha lançamento em Valença, na Câmara Municipal.  

  Aramaca é o alter ego de Francisco Marques Magalhães Neto, advogado que há anos figura na lista dos mais respeitados do país conforme levantamento da revista Análise Advocacia 500. Natural de Salvador, onde hoje reside, ele passou a maior parte de sua infância e adolescência em Valença e arredores. A fotografia não era mais que um passatempo amador até que, perto do fim da década de 1990, Magalhães Neto começou a experimentar com a fotografia digital e a desenvolver uma linguagem fotográfica própria. As imagens que capturou já foram expostas em galerias e adornam até pontos de referência de Salvador.

Fruto de imersões que somaram quase três meses de jornadas por toda a microrregião da Costa do Dendê, Acamara de Aramaca é uma realização da produtora Barro de Chão, que tem projetos semelhantes ligados à capoeira Angola, à Restinga do Litoral Norte da Bahia e a outros recortes da cultura e biodiversidade brasileiras. Além de extensa pesquisa bibliográfica, foram feitas mais de 90 entrevistas com moradores locais, acadêmicos, empresários, pescadores, marisqueiras, agricultores e demais atores da “vida no Dendê”. 

  “Nosso objetivo era ouvir o maior número de pessoas possível, concentrando o foco nos guardiões - das tradições que estão sobrevivendo por um fio mas também daquelas que estão se formando. Só assim poderíamos fazer um retrato digno e justo da região, de modo a preservar o passado sem menosprezar o presente”, diz Mauro Rossi, CEO e fundador da Barro de Chão, e diretor do projeto. “Esse elemento humano é indissociável do trabalho de Aramaca como fotógrafo, por isso foi importante trazer tantas vozes. Sentimos que o olhar precisava ter também sons e aromas, e o projeto buscou trazer isso nas imagens e nas palavras”, afirma Leonardo Vinhas, jornalista e escritor responsável pelo texto do projeto.

  Uma experiência antropológica – Adentrar na Costa do Dendê é desvendar particularidades que vão além do fruto que denomina este território de identidade da Bahia. O pluralismo religioso é evidenciado por marcos históricos das religiões católica e de matriz africana. O Convento e Igreja de Santo Antônio, fundado por jesuítas em 1654, em Cairu, ostenta o título de marco inaugural do barroco na arquitetura religiosa luso-brasileira. Já a comunidade Caxuté, no distrito de Cajaíba, assume a missão de resgate da ancestralidade do candomblé Congo-Angola e abriga a primeira Escola de Religião e Cultura Africana do Sul da Bahia.  “Outras ações de preservação acontecem no município de Nilo Peçanha. Ali estão Boitaraca e Jatimane, duas comunidades remanescentes de quilombo, que tratam sua ancestralidade não como tesouros, mas como parte indissociável e definidora de sua essência”, relata o jornalista Leonardo Vinhas, na obra.

  Em meio aos emblemas da religiosidade local, as cores e sabores da terra também assumem o protagonismo como insumos criativos do projeto. O manejo artesanal dos dendezais é um ofício ainda mantido por alguns, como a fazendeira Roseane de Jesus, 34 anos, personagem do livro. Para ela, o processo herdado e preservado em sua família é o que garante o melhor resultado na extração de um azeite de qualidade. “A gente corta o dendê, limpa ele todo, tira as bagaceiras pra ficar tudo limpinho e bota no fogo hoje pra fazer amanhã. Normalmente, leva o dia todo cozinhando. No outro dia de manhã, a gente pega pra pilar. Pila, lava e bota pra cozinhar no caldeirão que está no fogo. Vai separando o óleo para um lado e a borra para o outro. Com a borra, a gente faz comida de galinha e também sabão”, narrou.

  As exuberantes plantações de dendê dividem espaço com outras culturas agrícolas como o guaraná, o cravo, a banana, a piaçava, o coco, o cacau e a mandioca. Esta última, também relevante na região, fora fomentada no período colonial para produção de farinha, alimento dos escravizados em Salvador. Dos frutos da terra aos frutos do mar, a biodiversidade dos mares, rios e mangues da Costa do Dendê é um destaque a parte e dá origem a palatáveis iguarias típicas da região. Badejo, dourado, vermelho, caranguejo, siri e camarão assumem diversas versões à mesa e ao gosto de todos. “Esse conjunto de simbolismos, enredos, cores e sabores fazem do Baixo Sul da Bahia um acervo inigualável para se ver e viver. E fazemos esse convite ao público, apresentando um pouco deste universo neste projeto”, conclui Mauro Rossi, CEO da Barro de Chão.

Zambiapunga – O grupo de Zambiapunga local, o maior do país, é um dos destaques retratados no projeto, e fará apresentação no lançamento. Também confirmaram presença representantes dos outros grupos de Zambiapunga da Bahia. “Estamos acionando também as organizações não-governamentais, escolas públicas e muitos outros que ou são apoiadores da zambiapunga ou podem se beneficiar de conhecer essa manifestação. Ela é muito importante para a região, e queremos que seja um evento grande, que possa deixar clara essa relevância”, diz Valmorio do Rosário, presidente do Grupo de Zambiapunga de Nilo Peçanha.

  Sobre o projeto a Acamara de Aramaca – Acamara de Aramaca compreende livro e exposição, todos integrados a vídeos que podem ser acessados por meio da tecnologia de realidade aumentada (QR Code). A distribuição do livro é gratuita, mas setorizada – feita apenas nos eventos promovidos pela Barro de Chão. Os vídeos também estão disponíveis no YouTube. A publicação foi realizada com o apoio da Lei de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura, Ministério da Cidadania, MMC & Zarif, Conecta e Lacerta Ambiental e foi realizada pela produtora Barro de Chão.  A distribuição será feita gratuitamente entre escolas públicas, bibliotecas, universidades, pesquisadores e público em geral.      

Sobre Aramaca – Francisco Marques Magalhães Neto é advogado, sócio-fundador do escritório MMC&Zarif. o maior em advocacia empresarial das regiões Norte e Nordeste.  “Aramaca é o nome que assumo quando saio para fotografar”, diz. Sobre o retorno à região onde passou boa parte de seus anos de formação, ele diz: “Voltar à Costa do Dendê foi uma experiência muito diferente de quando eu vivi ali ou ia veranear. É o berço da minha criação, é um caldeirão cultural e também um caldeirão de intelectualidades. Mas esse retorno teve um componente especial: permitiu reunir amigos, familiares, comunidade, velhos conhecidos e novos amigos, todos em um projeto sério, de sustentabilidade”.      
Sobre a Barro de Chão – A Barro de Chão é uma produtora de conteúdo apaixonada pelo Brasil que cria projetos multiplataformas retratando diversas manifestações da cultura do país. Nascida em Salvador (BA), hoje está baseada em São Paulo (SP), mas continua atuando com abrangência nacional. Entre outros, ela já apresentou os projetos Busca Vida - Um Mar de Histórias; Capoeira Angola - Ginga e Ancestralidade; Clube Bahiano de Tênis  e Restinga - Herpetofauna do Litoral Norte da Bahia. Para 2020, além do projeto Acamara de Aramaca, estão previstos pelo menos mais três lançamentos.

  Sobre a Zambiapunga de Nilo Peçanha – A Zambiapunga é uma tradição oriunda dos povos bantus que viviam no Zaire, na qual os participantes, vestindo máscaras confeccionadas por eles próprios,  se valem de tambores, cuícas, enxadas e conchas-do-mar para afugentar os maus espíritos e só deixar os bons no local. A Bahia é o único estado brasileiro no qual essa tradição sobreviveu, e o grupo dedicado a ela em Nilo Peçanha é hoje o maior do país, tendo se apresentado em diversas cidades do Brasil e também em território estrangeiro.

  Sobre Leonardo Vinhas – Leonardo Vinhas é jornalista, produtor cultural e escritor. Sua carreira inclui passagens por publicações das editoras Globo, Abril, New Content, Trip e Símbolo. Também trabalhou em programas exibidos no Canal Brasil. Colabora com o site musical Scream&Yell desde 2001, e desde novembro de 2011, mantém nele a seção Conexão Latina, na qual entrevista artistas dos países latino-americanos.  Fez a produção executiva de nove álbuns musicais temáticos, todos ligados à integração latino-americana pela música. Foi, ainda, Gerente de Operações de Imprensa dos Comitês Organizadores da Copa do Mundo FIFA 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Acamara de Aramaca é seu terceiro livro, tendo publicado antes dois títulos de ficção.


Ficha técnica             

Publicação bilíngue (português e inglês)                

Realização: Barro de Chão  
Lançamento: 10 de março de 2020 
Texto: Leonardo Vinhas      
Fotos: Aramaca, Julian Alhadef, Mauro Rossi, Pedro Villa           
266 páginas    

Serviço

O que: Lançamento do livro Acamara de Aramaca;           

Quando e onde: Terça-feira (10 de março), às 14 horas, na Câmara Municipal de Nilo Peçanha; e Quarta-feira (11 de março), às 19 horas, na Câmara Municipal de Valença;
Site oficial:
www.aramaca.com.br;  
Instagram: www.instagram.com/aramacaphoto
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Entrada gratuita!     

Obs. Exposição fotográfica permanente no Centro Cultural Zambiapunga, em Nilo Peçanha/Bahia.