Cultura

Crônicas de Copacabana: a economia popular globalizada, p/ NARA FRANCO

Copacabana é um centro global de venda da economia popular
Nara Franco , Rio | 12/01/2019 às 18:30
Bolivianos em Copacabana
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Em tempos de temperaturas oscilando entre 39 e 40 graus com sensação térmica de 45, temos um novo hábito na cidade. Sair de casa ou de qualquer lugar fechado com ar-condicionado somente após às 16h. Entre 11h e 16h todo mundo se esconde, corre para a sombra, procura uma loja, se entoca no cinema. Tudo para fugir do calor. 

Meu escritório tem sido a praia. Ar-condicionado em casa, todo dia, nem pensar. Essa época do ano, todo carioca faz malabarismo para pagar a conta de luz. Brasileiro é muito bom em driblar o status quo. Em dias de calor intenso, praia noturna para ligar o ar depois das 22h. A familia inteira no mesmo cômodo para ligar um só aparelho durante a noite. Passear no shopping durante o dia e chegar em casa só a noite. Tudo para evitar vender um rim para a Light. 

Eu vou para a praia. Enquanto pessoa sem emprego fixo, ficar em casa a tarde torrando não dá. Coloco o biquini e vou curtir a brisa. Fico cercada de argentinos por todos os lados aproveitando o vento marinho. Falando neles.. los hermanos estão em todos os lugares. Parecem brotar do chão. Tem tanto argentino, que os ambulantes brasileiros agora anunciam os produtos em espanhol e português! 

Com a Argentina em crise, acontece um fenômeno curioso. Na praia, há os argentinos turistas e os argentinos ambulantes, que vendem empanadas e alfajores. Estamos importando desempregados. 

Assim como os argentinos turistas, os argentinos ambulantes estão em todos os lugares. Na verdade, estes estão mesmo é no metrô. Cantam, tocam, dançam, declamam e, claro, passam o chapéu. Ser ambulante no Rio de Janeiro, sem dúvida, não está fácil. 

Em uma observaçã bem atenta ao dia a dia deste bairro cosmopolita chamado Copacabana, percebi que o mundo, ou pelo menos parte dele, está aqui. Argentinos vendem empanadas, doces e arte na praia e no metrô. Negros de Angola, Congo e Senegal andam pela orla e praia vendendo óculos de sol e caixas de som de mp3 e, nas calçadas, artesanato. Bolivianos comercializam bermudas e camisas falsificadas de Lacoste a Nike. Árabes e libaneses não se arriscam na praia, mas vendem quibes e esfihas nas ruas. A pastelaria fica com os chineses. 

Nacionalmente falando, baianos de todos os lugares possíveis, paraibanos e mineiros, vendem na praia biquinis, cangas, saídas de praia, chapéus e viseiras. Compram tudo em São Paulo e comercializam aqui. 

Enquanto o liberalismo econômico olha para a Bolsa de Valores, a economia popular globalizada dá seu jeito porque é preciso sobreviver. 

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Nota importante: moro no Rio de Janeiro há mais de 30 anos. Pela primeira vez, nesse tempo todo, os dois porteiros que trabalham no meu prédio não são nordestinos. Esse é o terceiro prédio que moro na cidade. Anteriormente, todos os porteiros que conheci (e foram bem uns seis) eram nordestinos). Com a palavra, sociólogos e antropólogos. 

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Nota importante 2: o prefeito pastor está fazendo de tudo para murchar o carnaval carioca. Primeiro, cortou pela metade o patrocínio das escolas de samba. Segundo, quer cortar pela metade os desfiles de blocos tradicionais do carnaval como a Banda de Ipanema, Simpatia é Quase Amor e Carmelitas. Sabemos que o brasileiro é pacífico. Aguenta tudo calado. Mas mexe no carnaval e  na cerveja? Como diria Capitão Nascimento: vai dar mer....
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