Cultura

FEIRA: Reminiscências do passado de um feirense, por ADILSON SIMAS

Lembro-me das Festas de Santana, quando os pisos, ao redor do coreto em que as filarmônicas tocavam, ficavam cobertos de confetes entrelaçados de serpentinas
Adilson Simas , da redação em Salvador | 16/01/2018 às 07:03
Feira no tempo de Helnando
Foto: DIV


Em artigo assinado para publicação em livro do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana, o industrial feirense Helnando Ramos Simões viaja no tempo, lembrando fatos ocorridos durante sua infância e adolescência. Lembranças como a do Continental Circo, que armado na Praça Padre Ovídio foi o primeiro a trazer a esta cidade um “grande elefante, vários leões e outras feras”, assim como a primeira transmissão de rádio, ocorrida durante a posse do prefeito Aguinaldo Boaventura, efetuada pelo rádio técnico Raul Barbosa que tinha sua oficina em frente à casa de Francisco Pinto. Vamos, pois, acompanhar Helnando nesta nostálgica viagem: 
 
- Quero relatar alguns fatos que lembro de terem ocorridos durante a minha infância e adolescência. Morei na Rua Direita, hoje Rua Conselheiro Franco, onde tudo acontecia, em frente a Escola Normal, que uma vez por semana, arrumava seus alunos, os quais, em frente à mesma, cantavam o Hino Nacional diante da Bandeira Brasileira.

Lembro-me das Festas de Santana, quando os pisos, ao redor do coreto em que as filarmônicas tocavam, ficavam cobertos de confetes entrelaçados de serpentinas. O lança-perfume corria solto, era vendido em duas bancas: a do Sr. Eugênio e a do gringo Sabino Smera, juntamente com bolas coloridas, serpentinas e confetes.

Depois vinham as procissões da Semana Santa, em seguida a Micareta, que naquela época, os préstitos com os carros alegóricos eram a grande atração. Quero destacar a de 1938, em que foi feito uma biga romana com dois cavalos empinados. Em 1938 foi a vez do préstito denominado “A visita da Rainha de Sabá ao Rei Salomão”. Eram dois elefantes e dois camelos que traziam em seu dorso senhoritas e também um carro com uma “corbreille” com a rainha e suas damas de honra, conduzindo o estandarte do Clube “Flor do Carnaval” que desfilava.

No mesmo ano veio o Clube Cruz Vermelha, de Salvador, com seus belíssimos carros alegóricos iluminados. Em 1940 foi a vez de um carro alegórico com uma grande baiana, com um tabuleiro na cabeça, ela gritava e sambava, foi um grande sucesso! Esses carros alegóricos eram confeccionados pelos artistas João Bojô e Maneca Ferreira.

Outro fato que lembro foi o dia em que faltaram pães na cidade, quando chegou o exército com quase mil homens e que compraram quase todo pão existente. E ainda, a queda do avião do Aero Clube, um Cessna ou Teco-teco amarelo de prefixo PP-TMI. Os voos rasantes nas Avenidas Senhor dos Passos [foto acima] e Getúlio Vargas eram tão baixos que se via a fisionomia dos pilotos. Esses aviões eram americanos, sediados em Salvador durante a Segunda Guerra Mundial e que vinham sempre nas segundas-feiras. Veio aqui também um dirigível prateado muito bonito nessa mesma época.

Houve aqui um quebra-quebra da Companhia de Energia Elétrica e Telefônica, cuja frente do prédio era toda de vidro – e que ficava na Rua Direita – motivada pelas constantes faltas de energia elétrica, que ocorria entre 18 e 22 h diariamente.

Aconteceu também aqui uma passeata de protesto contra a instalação da Mafrisa em Cachoeira, onde o Dr. Áureo Filho, discursando  nas escadarias da Escola Normal, proferiu a seguinte frase: “Que o governo nada nos dê, mas que não tire o que é nosso por direito”.

Aconteciam aqui também corridas de cavalos, sendo realizadas nas imediações do Ponto Central numa estrada de poeira. Os páreos mais concorridos eram entre os cavalos “Rio Pardo”, de Carlito Bahia e o  cavalo “Duvidoso”, pertencente a João Almeida.

Lembro-me também da vinda dos cavaleiros cossacos russos, aqui se exibiam no campo do Sr. Flávio, que ficava próximo a Usina de Algodão.

Recordo-me do Zoológico Continental Circo, instalado na Praça Padre Ovídio, o primeiro circo a trazer um grande elefante, vários leões e outras feras.

Lembro-me também das marinetes que eram fabricadas aqui em Feira de Santana pelo Sr. Esaltino Costa, onde é hoje a Escola Ruy Barbosa. As estruturas da carroceria eram feitas de madeiras e chapas de zinco, montadas em chassis de caminhão.

Recordo-me do eclipse total do sol. Era mais ou menos entre nove e dez horas da manhã, quando o dia foi escurecendo como se fosse o começo da noite. As estrelas apareceram no céu, as aves começaram a recolher-se, durante alguns minutos.

Por último esclareço sobre a primeira transmissão de rádio, em Feira de Santana, que muitos pensam que foi em período pré-micaretesco. Porém, esta ocorreu, durante a posse do prefeito, Sr. Aguinaldo Boaventura. A transmissão foi efetuada pelo rádio técnico, Raul Barbosa, que tinha sua oficina na Rua Senhor dos Passos, em frente à residência do Dr. Francisco Pinto [foto acima].

São esses alguns fatos que marcaram a minha memória.