Cultura

HUMAN FLOW documentário com roteiro confuso, por DIOGO BERNI

O pior erro deste documentário, que a abriu a Mostra de São Paulo e encontra-se em cartaz, foi em focar as várias “focagens”
Diogo Berni , Salvador | 09/12/2017 às 09:48
As migrações na rela
Foto: HF
 Não Existe Lar Se Não Se Há Para Onde Ir – Human Flow, dirigido e “roteirizado” pelo chinês Ai Weiwei , Alemanha/EUA,2017.  

   Todo ou qualquer roteiro deve ou deveria existir um foco narrativo, no entanto este documentário, em especial, foca em multidões, nas migrações por questões político-religiosas, escreveria mais religiosas que políticas, diria que oitenta por cento das vezes quando uma pessoa ou a família toda decidem migrar ou “ralar peito”, isto sucede-se por motivos ou questões religiosas, estas que originam guerras e bastante sangue derramada, em que a maioria desse sangue, infelizmente são de adultos e crianças que nada têm a ver com a guerra.

   E por isso migram enquanto tem vida, porque depois de morrer fica realmente difícil de migrar: a não ser de corroer num túmulo, mas isso já é outro assunto com outras questões embutidas que deixamos para próxima oportunidade quando o filme pedir, que não é o caso deste. Porém ou, entretanto sobram-se vinte por cento; e tal porcentagem migra por questões políticas, em suas maiorias ditatoriais, fato este que acontece, ainda em muito, na África. 

   O pior erro deste documentário, que a abriu a Mostra de São Paulo e encontra-se em cartaz, foi em focar as várias “focagens” de diferentes países, por isso o filme não deixa entre nós nenhum apego emocional por não ter personagens, mas sim massas  migratórias. Em tela tudo é muito confuso, até o próprio diretor “se confunde” em querer, por vezes, “se misturar” com aquelas massas que estava acompanhando ou filmando. 

   Escrevi que o diretor acompanhava ou filmava as migrações,POR VEZES, por querer me referir a situações de fato perigosas: como a de entrar num barco ,que passa dias à deriva, saindo da África ou do Afeganistão rumo as costas da Grécia ou da Itália; isto ele não fez porque sabe exatamente o número altíssimo de cadáveres que não conseguem aguentar a navegação. Ele tenta fazer uma colcha de retalhos nessas migrações, mas o filme fica mais acelerado que seu roteiro de modo que fica solto e ruim de assimilar a quem assiste. 

   A proposta do filme, que é a enxurrada humana: Humam Flow, e a tentativa não exitosa nesse acompanhamento, mas o filme é sem foco e fica distante de nós e consequentemente fica distante da não emoção que ele poderia tocar. Melhor seria se o cineasta, que também é artista plástico, se focasse em uma única migração, assim cada personagem teria nome, família etc. 

   Não que essas pessoas das enxurradas migratórias não tenham nome, mas ao mesmo tempo, passou a ser ou a ser percebido como a mesma coisa que elas não tivessem nenhum nome mesmo, parecendo mais um bando de vacas e bois, com seus filhotes, andando e andando ou navegando e navegando sem fim rumo a algo melhor, ou escreveria que até cruzando oceanos e países para terem o mínimo direito humano: que é o de ficar vivo, o de viver, digna ou indignamente, mas continuar respirando.