Cultura

Woyzeck – Zé Ninguém estreia dia 29 de novembro no Teatro Goethe-ICBA

O quê: Woyzeck – Zé Ninguém; Quando: 29 de novembro até 10 de dezembro - quarta a sábado, 20h e domingo, 19h
Onde: Teatro Goethe-Institut Salvador-Bahia/ICBA, no Corredor da Vitória
Da Redação , Salvador | 15/11/2017 às 12:37
Ingresso: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) – vendas na bilheteria do teatro e no SYMPLA
Foto: Diney Araújo
    O Teatro Goethe-Institut Salvador-Bahia/ICBA, no Corredor da Vitória, será palco para Woyzeck – Zé Ninguém, espetáculo dirigido pelo ator e encenador Caio Rodrigo, com co-direção de Guilherme Hunder. A montagem estreia no dia 29 de novembro, às 20h, e fica em cartaz até o dia 10 de dezembro, de quarta a domingo. Concebida a partir do original de Georg Büchner, obra-prima deste dramaturgo, esta peça faz uma reflexão sobre a exploração do homem pelo próprio homem.

Baseada em fatos reais, a história conta a vida de um homem que luta desenfreadamente pela sobrevivência e desenvolve imperativamente várias atividades (soldado/fuzileiro, barbeiro e cobaia de um médico). As inúmeras tarefas não permitem que ele fique muito tempo num espaço, o que impõe o fim abrupto e precoce das cenas, influenciando na linearidade da dramaturgia.

Executadas no ritmo da urgência e do desespero, essas atividades o tiram da convivência familiar e social. Em algumas cenas, Woyzeck se despede da esposa Marie sem sequer ter entrado em casa ou logo depois de chegar. “A construção da individualidade de Woyzeck é feita a partir das relações de opressão, dos antagonismos sociais”, reforça Caio Rodrigo.

Com cortes abruptos e cenas ritmadas cinematograficamente, a adaptação é composta de elementos que reforçam a aproximação desta história com a realidade social e cultural brasileira. Em algumas cenas, Woyzeck é chamado de “Zé”. Interpretado pelo ator Felipe Viguini, esta personagem é o primeiro protagonista proletário da literatura alemã. Escrita em 1837, a obra influencia dramaturgos como Bertold Brecht, em Tambores na Noite e Um homem é um homem.

Musicalidade

Além das composições que já estão no texto original, muitas delas jocosas, Caio Rodrigo traz para sua adaptação músicas do cancioneiro popular brasileiro, que ganham novos arranjos orquestrados pelo diretor musical Elinas Nascimento – Os atores cantam e tocam os instrumentos ao vivo.

Em sua maioria, as músicas sugeridas pela dramaturgia original são aproveitadas, mas reescritas para se adequarem à atualidade musical dada a adaptação. A música assume um lugar de potência afetiva e conduz a dramaturgia. Entre as composições do imaginário nacional estão “Pois é, seu Zé”, “Comportamento Geral” e “O Preto que satisfaz”, de Gonzaguinha.

“Gonzaguinha tem algumas composições que trazem esse ‘Zé’, que é tão brasileiro. São músicas de protesto e de manifesto que diminuirão a distância desta história alemã que é tão nossa. As músicas em Woyzeck – Zé Ninguém assumem uma função de trazer novas camadas e texturas, afim de ampliar o significado do que estar sendo posto”, explica Caio Rodrigo.

Circo e Horror
Com objetivo de mostrar a diferença muito sutil entre realidade e ficção, a direção utiliza-se das estéticas do circo e do horror show, que reforçam ainda a personalidade de “Zé” e as relações de poder que estão incrustadas em sua trajetória. A alegoria circense fica a cargo de personagens como o Capitão (Caio Rodrigo), o Médico (Wanderley Meira), o Tombeiro-mor (Rui Mantur) e o “fiel companheiro” André (Marcos Lopes). Tem ainda uma tenda circense, em que um charlatão (Elinas Nacimento), traz o recurso da metalinguagem para sublinhar a ação dramática.

Já Woyzeck e Marie/Maria (Simone Brault) são a “personificação” do horror social. “Fica evidente na repetição das falas das personagens quanto as características que Woyzeck carrega. Ele é uma pessoa que não tem vontade própria, que vive numa condição de profunda opressão e exploração. Já o Capitão e o Médico são máscaras das instituições que representam”, explica Caio Rodrigo.
Em Comportamento Geral, Gonzaguinha diz: Você deve aprender a baixar a cabeça/ E dizer sempre: Muito obrigado/ São palavras que ainda te deixam dizer/ Por ser homem bem disciplinado. Esta é a condição que se encontra Woyzeck: cabeça baixa, acuado, poucas palavras, disciplinado em suas tarefas proletárias e sem convivência familiar e social.
Tipos

O texto e os arquétipos das personagens de Georg Büchner trazem muitas analogias a parábolas bíblicas. Marie pode ser comparada a Maria Madalena. “Essas similaridades e as personalidades das personagens mostram que elas, pertencentes a classes sociais antagônicas, ressaltam a violência dos conflitos humanos. “A realidade é muito mais inacreditável e mais absurda que a ficção”, comenta o diretor.
Com sete atores em cena, Woyzeck – Zé Ninguém é também a celebração do fazer teatral, ao reunir diversos artistas e profissionais em um momento de extrema dificuldade política-social-econômica. “Woyzeck é um texto muito lido, mas a nossa adaptação é muito original, pois a música e a situação da personagem central são emblemas brasileiros”, finaliza Caio Rodrigo.
 
FICHA TÉCNICA
Direção – Caio Rodrigo
Co- direção – Guilherme Hunder
Assistente de direção – Vera Pessoa
Texto original – Georg Buchner
Adaptação - Caio Rodrigo
Elenco – Felipe Viguini, Simone Brault, Wanderlei Meira, Caio Rodrigo, Marcos, Rui Mantur, Lopes e Elinas Nascimento.
Produção – Raquel Bosi e Queila Queiroz
Direção musical – Elinas Nascimento
Direção de movimento e coreografias – Mosnica Nascimento
Trilha Sonora – Caio Rodrigo e Elinas Nascimento
Cenário – Caio Rodrigo
Figurinos – Guilherme Hunder
Iluminação – Pedro Dultra
Operação de luz - Tarsila Batista Passos
Efeito especial - Fernando Lopes
Maquiagem - Guilherme Hunder
Desenho de arte – Luís Parras
Objetos de cena – Marcos Lopes
Cenotécnico – Ademir (Escola de teatro da UFBA)
Costureiras – Regina Bosi e Sarai Reis
Arte gráfica – Ian Fraser
Fotografia - Diney Araújo
Realização – Teatro Terceira Margem e Artistas independentes