Cultura

HISTÓRIA: A praça onde começou a fundação da cidade do Salvador (TF)

Praça Thomé de Souza no centro de Salvador em frente ao Elevador Lacerda
Tasso Franco , da redação em Salvador | 09/10/2017 às 11:10
Praça Thomé de Souza
Foto: BJÁ
   A cidade do Salvador começou na Praça Municipal, hoje, Thomé de Souza, em frente ao atual Elevador Lacerda. Vista do elevador, à direita situa-se o Palácio Rio Branco onde foi erguido o palácio para servir a Thomé de Souza, primeiro governador geral do Brasil (cargo, hoje, equivalente a presidente) ainda com uma estrutura de taipa de pilão, em maio de 1549; à esquerda está a sede da Prefeitura Municipal, com estrutura em ferro da safra do arquiteto João Filgueras Lima (Lelé), administração Mário Kértész, década de 1980; e em frente a Câmara dos Vereadores, local onde foi também erguida a primeira Câmara e Cadeia da cidade nos primórdios de sua fundação.
 
  A Cidade Fortaleza construida pelo mestre-de-obras Luis Dias (cargo correspondente, hoje, a arquiteto) tinha ainda uma rua à direita do Palácio, dos Mercadores, com uma porta de madeira (porta Sul) na altura do edificio Bráulio Xavier; e essa mesma rua seguindo para o Norte com uma porta na altura da Igreja da Misericórdia (rua da Misericórdia e sua Porta Norte) e as ruas transversais do Tira Chapéu, Capitães e d'Ajuda. 

   Neste local, Manoel da Nóbrega e os jesuitas com a ajuda dos pedreiros e carpinteiros de Luis Dias ergueram a primeira igreja do centro, em louvor a NS d'Ajuda e onde foi realizada, em junho de 1549, a primeira procissão do Governo Geral, de Corpus Christi, com um cortejo formado por portugueses, alguns aventureiros genoveses que vieram com Thomé e curumins, tupinambás jovens nus portando cruzes de pindoba, sem ter a menor idéia do que isso significava.
   
  Os jesuitas foram a primeira Ordem a se estabelecer em Salvador, a Companhia de Jesus, recém fundada por Inácio de Loyola, depois santo. A cidade nasceu católica por imposição e portuguesa com certeza. 

   Os historiadores baianos apagaram a história que vai de Diogo Alvares (Caramuru) entre 1509/1536 e a Vila do Caramuru, na Barra; e a que vai de 1536/1549 com a Capitania Hereditária da Bahia e a Vila Velha do Pereira, também na Barra, do donatário Francisco Pereira Coutinho. Resolveram seguir o documento Regimento de Almeirin, de novembro de 1548, quando Dom João III, rei de Portugal, decide com sua corte conquistar o Brasil de vez e manda erguer a Cidade Fortaleza do Salvador. Documento que representa a primeira constituição prévia do Brasil.
   
   No Congresso de História da Bahia no IGHB, em 1949, decidiu-se que a data de fundação da cidade seria (como é oficialmente) 29 de março de 1549, data da chegada da esquadra de Thomé de Souza a Baía de Todos os Santos, no atual Porto da Barra (tem um marco no local). Thomé, no entanto, só desembarcou da nau capitânia, a NS da Conceição, em 31 de março, temendo que pudesse ser atacado pelos tupinambás. Depois que estabeleceu sua tropa em terra, bem posicionada, ele instalou-se na sede do Conselho, a antiga morada de Pereira Coutinho, o qual tinha sido devorado pelos tupinambás e a Capitania estava sendo 'tocada' por seu filho.
   
   Em princípios de maio, Thomé, Luis Dias, homens da tropa, mateiros, pedreiros, carpinteiros, aventureiros e outros subiram o Caminho do Conselho (Ladeira da Barra) e foram procurar um local alto para erguer a fortaleza uma vez que a Vila Velha ficava ao rés-do-chão e quase na entrada da Baía de Todos os Santos, muito vulnerável. Subiram até a Vitória, onde havia uma capela e chegaram ao Campo Grande, o que denominaram Outeiro Grande. O próprio nome já diz tudo: era muito grande para instalar a fortaleza e a linha de tiro para o mar distante.
   
   Seguiram em frente a chegaram a uma aldeia de tupinambás no atual Passeio Público. Thomé tomou um susto quando viu os nativos: pobres, vivendo em palhoças, nus, famélicos e sem armas, salvo o arco e a flecha. Adiante, onde é a Praça da Piedade encontrou outra aldeia. O lugar era até bom para instalar a Fortaleza, mas, à Leste muito distante do mar. Aí, também, havia uma aldeia de tupinambás. Adiante, no atual topo do Convento de São Sebastião (beneditino) havia outra aldeia, bem pobre. Também longe do mar para por seus canhões. 

    Os homens mateiros desceram a ladeira (de São Bento), subiram outra (Praça Castro Alves) e chegaram a um platô (Praça Municipal) com excelente visão da Baía de Todos os Santos, linha de tiro ideal para instalar os canhões. Luis Dias chamou Thomé e disse: - É aqui senhor governador o lugar ideal para erguer a fortaleza.
   
   Os homens, então, acamparam neste local e passaram a fazer a limpa do terreno. À Leste onde se situa o Elevador e o 'Cemitério de Sucupira', ao lado da Prefeitura, fizeram uma paliçada para conter desabamentos e instalaram as bocas dos canhões. Depois foram erguendo em taipa de pilão o palácio, a igreja d'Ajuda, a Câmara e Cadeia e as casas da tropa. Em 1551, o Vaticano conferiu a Salvador o Arcebispado Primaz do Brasil e mandou para acá o bispo Pero (Pedro) Sardinha. Em 1553, completados seus 4 anos de governo, Thomé retornou a Portugal sendo substituido por Duarte da Costa.

   A cidade, no tempo de Thomé limitou-se a esse espaço e os primeiros movimentos e instalações na parte baixa, a Ribeira do Góis, uma vez que todos os negócios eram feitos via mar. E isso durou mais de 300 anos. 

   O atual Palácio da Praça Thomé de Souza foi erguido no governo Luiz Viana na virada do século XIX para XX, em modelo afrancesado. Foi bombardeado e reconstruido em 1919, no governo Antonio Moniz Sodré de Aragão. Era residência e despachos. Depois, com a construção do Palácio da Aclamação, Campo Grande, ficou só como despachos até o governo Roberto Santos (1978). A essa altura os governadores moravam em Ondina. A partir de 1979, ACM ergue o CAB na Av Paralela e o Rio Branco se transforma em Memorial dos Governadores, sede da Bahiatusa, Funceb e até de um banco.

   A sede da Prefeitura foi erguida no governo Kértész. Neste local havia o prédio da Imprensa Oficial da Bahia e o prédio da Biblioteca Pública. A Biblioteca nova foi erguida no governo Luis Viana Filho, nos Barris. A Imprensa Oficial, hoje, EGBA, foi para o Retiro. Atrás da Biblioteca havia uma Delegacia de Policia. Houve uma polêmica na época afirmando-se que o prédio era muitio moderno para o local, mas, a tese era vencida. Ajudou nessa tarefa o argumento de que Paris erguera no Louvre uma pirâmide de vidro.

   O prédio da Câmara nasceu como Câmara e Cadeia (tem no local um memorial onde pode-se ver o calabouço) e passou por várias reformas e modificações. Até a construção da nova Prefeitura era a sede do Paço. O Palácio e a Câmara são abertos a visitação pública e, hoje, há um Centro Cultural ao lado da Prefeitura na parte do subsolo. Aberto ao público.

   A Câmara de Vereadores em ato lobista e impensado mudou o nome da Rua Direita do Palácio para Rua Chile, há pouco mais de 100 anos, um dos maiores absurdos da cidade. A Igreja d'Ajuda ainda se situa no mesmo local com nova estrutura e um busto de Nóbrega à frente do templo. 

   As portas da cidade (de madeira) já foram retiradas desde o século XVI. no governo Mem de Sá, quando os jesuitas instalaram um Colégio fora dos muros da cidade.

   As ruas transversais seguem o taçado de Luis Dias com algumas pequenas modificações e o charco que porotegia a cidade antiga no Século XVI virou Bx dos Sapateiros. 

   Há anos, o advogado Ademir Ismerim tentar erguer um Memorial para Thomé de Souza e não consegue. Salvador nunca deu valor aos seus fundadores: Todos são desprezados - Caramuru, Catarina, Thomé de Souza, Pereira Coutinho, Luis Dias, Pero Sardinha e outros.

   Essa, em resumo, é a história inicial da cidade do Salvador.