Cultura

MEMÓRIA POLITICA 2: Pedro Irujo e sonho de grande jornal em Feira (TF)

Pedro Irujo faleceu a semana passada aos 87 anos de idade e trabalhamos juntos durante 4 anos em projetos visionários
Tasso Franco , da redação em Salvador | 27/09/2017 às 10:52
Novo Feira Hoje: Egberto, Sérgio, TF, dona Irene Irujo, Luis Pedro e Ricardo Araújo
Foto: Arquivo TF
    Neste segundo episódio da Memória Politica de Pedro Irujo, narro que após a campanha para governador da Bahia de seu filho Luiz Pedro, em 1990, segui com Pedro como assessor de imprensa do seu mandato parlamentar como deputado federal do PRN. 

    Na real, era assessor de comunicação e marketing no projeto (invisível) que ele se propunha em transformar as suas empresas de comunicação - TV Itapoan, Rádios Sociedade e FM Itapoan (Salvador), Nordeste e Subaé (Feira), jornal Feira Hoje, e rádios em outras localidades do interior, no Sistema Nordeste de Comunicação.

   Um sonho. Nunca chdegou a ser efetivado como sistema. Fracassei nessa missão como profissional de comunicação. Não chegou a ser um fracasso porque senti, desde quando começamos a operar nessa direção no sentido de unificar a linguagem e os comandos dessas emissoras, que não havia uma vontade política e determinação efetiva de Pedro. Ou seja, não era um projeto sólido, assentado em bases visíveis.

    Cada empresa fazia uma coisa e tinha um comando diferenciado da outra, não se falavam em termos de comunicação integrada, não seria eu, portanto, a dar muro em ponta de faca, uma vez que nunca chegou a haver uma reunião que pudessemos discutir o assunto em profundidade e por em prática a unificação. As rádios tinham estrelas em Ibope que eram quase autosuficientes.

    Resumi, pois, minha ação a orientar Pedro no seu mandato parlamentar e dar pitacos no tal Sistema Nordeste quando fosse procurado a opiniar. 

    A missão, também, de orientar o deputado Pedro como assessor de imprensa era das mais dificéis, simplesmente porque ele não tinha um projeto politico definido, não seguia nenhuma liderança maior na Bahia. Era o seu próprio lider. E, sem uma diretriz definida à vista, a essa altura os deputados federais eleitos pelo PRN sairam de sua órbita (Aroldo Cedraz havia migrado para ACM e Marcos Medrado se tornara 'independente') restava-nos tocar o mandato e usar, como usamos, o programa mais popular da Radio Sociedade, comandado por Genildo Lawinski, para Pedro dar seus recados, manter contato com a população e assim por diante.

    Mas, no geral, sem apoio de outras midias, sem a TV Itapoan ter algo mais efetivo na politica, era uma ação de um tiro só. Até quando Collor foi popular seu projeto individual parecia avançar, mas, não avançou. Com o impeachement de Collor mudou de direção.

   Havia, de alguma forma, um vácuo no campo politico estadual uma vez que ACM voltava a se tornar o grande lider do estado, eleito governador, em 1990, o PMDB estava fragmentado com as dissidências dos ex-governos Waldir Pires/Nilo Coelho (1987/1990), Roberto Santos não representava uma liderança que pudesse unificar esse grupo, Mário Kértész havia perdido força com a eleição de Fernando José a prefeito da capital, o PT ainda engatinhava, e Lidice da Mata era uma esperança. 

   Bem que Pedro tentou preencher esse vácuo ainda no PRN e depois no PMDB, mas, não teve sucesso nessa missão como lider maior no Estado. Era, em contexto maior, um empresário e preisava cuidar dos seus negócios, em transportes, indústria e hotelaria.

   Tínhamos o hábito, todas sextas e sábados, almoçar no Baby Beef, um grupo que Pedro reunia com Alberto Balazeiro, Portugal, Luis Pedro, Marcos Cidreira, Diego, professor Lustosa, etc, para papear sem uma direção mais forte na política. No sábado, íamos, eu e Pedro, visitar suas bases de apoio a Petrobras no Recôncavo, especialmente em Pojuca. Ele adorava dirigir e ia pilotando seu veículo e a gente conversando.

   Aos domingos, me ligava cedo, para ir almoçar com sua familia no quiosque de sua casa no Horto. Passei, praticamente, a integrar sua familia. 

   Num sábado daqueles da vida, ano 1991, fomos a Feira de Santana conhecer suas rádios e o Feira Hoje - o jornal tablóide fundado por um grupo de jovens idealistas, nos anos 1970 - José Carlos Teixeira (seu primeiro editor), Raimundo Pinto, Raimundo Gama, Dífino Carvalho e Luis Almeida - e que agora lhe pertencia, e que tinha certa força na cidade. Moacir Mansur e Ricardo Araújo eram os CEOS de Irujo nesta cidade.

   Quando chegamos no Feira Hoje ele falou sem meias palavras: - Vamos transformar esse jornal num veiculo maior, mais poderoso, no modelo e formato de A Tarde. 

   Achei a ideia ótima porque a imprensa escrita era meu ramo e a essa altura já havia me designado para cumprir essa missão. Feira, no entanto, não tinha tecnologia local para isso. Não exista uma máquina rotativa na cidade. O Feira Hoje era impresso em máquina plana, folha a folha. 

   O jornal já havia sido passado, ao longo do tempo, entre 1970/1990, a Alfredo Falcão e José Olimpio, e depois a Modezil Cerqueira, o qual, dono da TV Subaé/Globo, vendeu as rádios NE e Subaé e mais o jornal a Pedro, por volta de 1988. Carlos Geilson, hoje, deputado estadual, era radialista da Subaé, em 1985, ainda com Modezil e depois seguiu com os Irujo.

   Na volta para Salvador falei para Pedro: - Vamos procurar o representante da Goss, a marca alemã de rotativas, e eu topo implantar o projeto. 

   Mudei-me com mala e cuia para um hotel em Feira, importamos do Rio Grande do Sul, um técnico (Sêo Azis) para instalar as duas rotativas e a dobradeira no Feira Hoje e mudamos todos os procedimentos industriais do jornal. E, também, algumas mudanças na redação com o saudoso Egberto Costa e outros jornalistas.

   Era preciso acreditar no projeto. Foram aproximadamente uns 6 a 8 meses de trabalho entre a importação das máquinas, montagem, compra das bobinas de papel, regulagem, treinamento de pessoal. Tudo do zero porque ninguém fazia isso na cidade. 

   Na redação foi menos complicado, mas, trabalhoso, porque mudamos apenas a diagramação, o jornal saindo de tabloide para standard com mancha gráfica de 52.5 cm x 29.7 cm por página (era tabloide 28 cmx38cm), igual A Tarde como queria Pedro, e isso implicava numa série de procedimentos desde a diagramação/industrial, redação e distribuição.

    Feira, de lembrança, ainda vivia sua final final do jornalismo boêmio e romântico com nossos encontros memoráveis no Ponto do Zequinha com Anchieta Nery, Dimas Oliveira, Egberto, Laranjeira, Jânio Rego, Mary e outros

    Fizemos o trabalho na surdina e o jornal foi as bancas com essa dimensão provocando grande impacto na sociedade local. Uma intensa repercussão ainda que mais restrita aos meios da própria comunicação e comunicadores e empresas ligadas a esse sistema - as agências de publicidade, fornecedores, etc - do que propriamente ao que mais nos interessava: os leitores. 

   O jornal avançou pouco em termos de vendas e havia motivos implicitos nesse comando. Primeiro que Feira sempre teve um sistema de emissoras de rádio muito forte e esse é um meio mais popular e barato, do que o meio impresso, A TV Subaé, se TV já não era novidade, em Feira só a partir dos anos iniciais de 1990 é que ganha força junto ao público, também um meio mais acessível.

    Como enfrentá-los? Fizemos de tudo o que foi possívdel ao nosso alcance com Ricardo Araujo e Moacir Mansur atuando integrados (jornal e rádios NE e Subaé) nessa direção, mas, o Feira Hoje, não teve o grande impacto que esperávamos. Estava começando no Brasil, nessa época, a era dos sistemas on-lines nos jornais e do avanço da internet, as novas midias que surgiam. 

   Quando o jornal saiu, sem consultá-lo coloquei no expediente meu nome como Superintendente. Uma sexta a gente no Baby Beef a papear e ele gozou-me: - Quer dizer que usted és el superintende do Feira Hoje.

   Respondi em espanhol: - Soy. 

   E caímo na risada.

    Retornei a Salvador em 1992, ainda com Pedro, para participar de mais uma 'aventura'  - se é que podemos chamar assim - com esse basco visionário, rico, mas não de jogar dinheiro pela janela, para fazer a sua campanha politica a prefeito da capital, em 1992. É o que vamos narrar no terceiro capitulo.